Pular para o conteúdo principal

A devastação crescente das matas do Estado - 1902

O Dr. Borges de Medeiros, Presidente do Estado do Rio Grande do Sul, em ofício circular enviado ao Conselho Municipal de Cachoeira, no dia 15 de outubro de 1902, chamava a atenção sobre a devastação crescente das matas do Estado, "alterando notoriamente o regime dos rios navegáveis e seus tributários e modificando, em consequência, as condições meteorológicas necessárias à prosperidade da agricultura e indústria pastoril". Tal devastação devia, segundo expresso no ofício "ser objeto de constante atenção por parte das Intendências e Conselhos Municipais."
No ano anterior, Borges já havia recomendado às Intendências que proibissem o corte de madeira nas florestas marginais dos rios, "dentro da faixa de sete braças contadas do ponto médio das enchentes ordinárias para o interior, mesmo em matos de propriedade privada, pois a faixa é considerada de servidão pública, nos termos das leis civis em vigor." E esclarecia que "as estradas de ferro de Porto Alegre a Uruguaiana e de Santa Maria a Pau Fincado, empregando a lenha em suas locomotivas, concorrem atualmente em grande escala para essa devastação, tornando-se pois de inadiável necessidade a adoção de medida que obste tal consumo." E a medida que o Presidente sugeriu foi a da criação de um imposto sobre o fornecimento desse combustível às estradas de ferro, de forma a forçar-lhes, por mais vantajosa, a aquisição de carvão mineral.
Bem, a história nos mostra que as estradas de ferro desapareceram, perdurando algumas poucas linhas para transporte de carga. Com tal desaparecimento, muito perdeu a sociedade em termos de mobilidade, integração territorial e em economia no transporte. Quanto ao desmatamento, o consumo de lenha para as locomotivas cessou, mas outros motivos para a devastação das matas ciliares seguem preocupantes. Até quando? A natureza já tem dado sinais de que é preciso repensar alguns hábitos e práticas. 
Borges de Medeiros, como prova este ofício circular que integra o acervo de documentos do nosso Arquivo Histórico, mesmo há 111 anos atrás, pensava longe e... certo!


Conselho Municipal/D/SE/001 - Ofícios

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Casa da Aldeia: uma lenda urbana

Uma expressão que se tornou comum em nossos dias é a da "lenda urbana", ou seja, algo que costuma ser afirmado pelas pessoas como se verdade fosse, no entanto, paira sobre esta verdade um quê de interrogação!  Pois a afirmação inverídica de que a Casa da Aldeia é a mais antiga da cidade é, pode-se dizer, uma "lenda urbana". Longe de ser a construção mais antiga da cidade, posto ocupado pela Catedral Nossa Senhora da Conceição (1799), a Casa da Aldeia, que foi erguida pelo português Manoel Francisco Cardozo, marido da índia guarani Joaquina Maria de São José, é mais recente do que se supunha. Até pouco tempo, a época tida como da construção da casa era dada a partir do requerimento, datado de 18 de abril de 1849, em que Manoel Francisco Cardozo: querendo elle Suppl. Edeficar umas Cazas no lugar da Aldeia ecomo Alli seaxe huns terrenos devolutos na Rua de S. Carlos que faz frente ao Norte efundos ao Sul fazendo canto ao este com a rua principal cujo n...

Instituto Estadual de Educação João Neves da Fontoura - 90 anos

O mês de maio de 2019 está marcado por um momento significativo na história da educação de Cachoeira do Sul. No dia 22, o Instituto Estadual de Educação João Neves da Fontoura chegou aos seus 90 anos carregando, neste transcurso de tempo, desafios, dificuldades e conquistas. Muitas crianças e jovens passaram por seus bancos escolares, assim como professores e servidores dedicados à desafiadora tarefa educativa. A história do João Neves, como popularmente é chamado aquele importante educandário, tem vínculos enormes com seu patrono. Em 1929, quando a instituição foi criada com o nome de Escola Complementar, o Dr. João Neves da Fontoura era vice-presidente do estado e há pouco havia concluído uma gestão de grandes obras como intendente de Cachoeira.  Em 1927, ano em que Borges de Medeiros resolveu criar escolas complementares no estado para a formação de alunos-mestres, imediatamente João Neves empenhou-se para que uma destas escolas fosse instalada em Cachoeira, município p...

Série Documentos da Imigração Italiana em Cachoeira: o médico italiano Silvio Scopel

Um dos médicos que mais marcou a história da medicina em Cachoeira do Sul, certamente, foi o italiano Dr. Silvio Scopel que aqui reconstruiu sua vida e viveu por 38 anos. Silvio  Giovanni Giacomo Scopel nasceu em 7 de fevereiro de 1879, na província de Belluno, filho de Giovanni Scopel e Teresa Cricco Scopel. Formou-se médico em 1901, pela Universidade de Pádua, atuando como médico cirurgião e parteiro em diferentes cidades italianas. Em 1906, casou com Margherita Dal Mas, não tendo descendência desta união. O casamento não durou muito, pois Margherita faleceu, causando profunda tristeza no jovem médico. Tal estado de ânimo o fez optar por, na companhia de um colega e amigo, também médico, Dr. Alvise Dal Vesco (também aparece Dalvesco), vir para o Brasil. Sua chegada em Cachoeira se deu no ano de 1912, oferecendo os dois médicos os seus serviços, inicialmente prestados nas farmácias Popular e Nova, na Rua 7 de Setembro. Dr. Silvio Giovanni Giacomo Scopel - MMEL Propaganda do D...