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Enchentes pela nossa história

Há dias o Rio Grande do Sul é assolado por copiosas chuvas e já conta enormes prejuízos, com aumento dos leitos dos rios, inundações de populações ribeirinhas e até de cidades inteiras. Em lugares bem próximos de nossa cidade houve o desabamento de estradas e o comprometimento de pontes. Numa cidade que vive às margens de um grande rio que, por sua vez, é tributário de numerosos afluentes, esta situação não é singular. Antes pelo contrário. Ao longo de nossa história muitos relatos de grandes enchentes são conhecidos, notadamente os que relembram a do ano de 1941, que atingiu boa parte do Estado e teve grandes proporções em Cachoeira.


Manchete do Jornal do Povo - edição de 27/4/1941
- acervo: Arquivo Histórico

Também no final do século XIX, mais precisamente em 1896, Cachoeira viu as águas do rio Jacuí subirem assustadoramente, havendo uma fotografia do complexo da Charqueada do Paredão que mostra o quão alto elas chegaram, pois o paredão que dava nome ao estabelecimento fabril possuía regular altura.


Charqueada do Paredão com as águas do rio Jacuí bem altas
- fototeca do Museu Municipal

No primeiro semestre de 1906 houve também uma grande enchente em nossa região e uma ponte que existia no rio Piquiri foi arrastada pelas chuvas. A Intendência Municipal, diante do embaraço que a queda da ponte deve ter causado para os moradores do lugar, teve que providenciar a sua recuperação o mais rapidamente possível e para isto assinou um contrato com Eloy da Silva Lisbôa exclusivamente para remover e recuperar o madeiramento da ponte.

Eis o que diz o contrato, constante do encadernado IM/GI/AB/C-001, fl. 36:

Contracto que faz Eloy da Silva Lisbôa com a Intendencia Municipal para remover do leito do rio Pequery todo o madeiramento da ponte do mesmo rio que foi levada pelas enchentes, da fórma seguinte:

1.ª
Obriga-se o contractante a fazer a remoção de todo o madeiramento pertencente a ponte do Pequery, arrastada pela enchente, do logar aonde se achar, fóra ou no leito do mesmo rio, para outro local secco, distante das margens do mesmo rio meia quadra mais ou menos.

2.ª
Obriga-se o contractante tambem a desmanchar toda a ponte ou parte desta sem estragar as suas peças para facilitar a dita remoção, responsabilizando-se mais pela conservação e vigilancia de todo o madeiramento da dita ponte.

3.ª
Este serviço deverá ser feito com brevidade, obrigando-se esta Intendencia a pagar ao contractante trezentos mil reis (300$000) logo depois de verificar a execução de todas as clausulas deste contracto.

E para clareza, eu, João Porto da Fontoura, Secretario da fazenda, lavrei o presente contracto que assignam os Srs. Dr. Candido Alves Machado de Freitas, vice-intendente em exercicio e o contractante Eloy da Silva Lisbôa.

Cachoeira, 9 de Maio de 1906
(assinam) Dr. Candido Alves Machado de Freitas
Eloy da Silva Lisbôa

Encadernado IM/GI/AB/C-001 - contrato lavrado à página da direita

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