Pular para o conteúdo principal

Remodelação da Igreja Matriz

As grandes obras de saneamento da cidade, concluídas em 1925, e a onda de embelezamento urbano que as acompanhou, motivaram as lideranças religiosas e comunitárias a promoverem a remodelação da Igreja Matriz. Com o belo Château d'Eau chamando a atenção no centro da Praça Almirante Tamandaré (hoje Praça Dr. Balthazar de Bem), a velha Matriz com seu aspecto despojado e ainda conservando sua originalidade, deve ter parecido superada diante de tantas novidades. A grande liderança que concluiu as obras urbanas, Dr. João Neves da Fontoura, também incentivou os paroquianos a procederem ao embelezamento da Igreja Matriz, sugerindo a criação de uma comissão que se encarregasse de tal empreitada.

Château d'Eau e Igreja Matriz antes da remodelação - Fototeca Museu Municipal


A comissão foi constituída dentre membros da paróquia e apoiadores das obras, tendo como presidente o Coronel Virgilio Carvalho de Abreu, vices Achilles Figueiredo e Cacilio Menezes, 1.º secretário Assis Ferreira, 2.º secretário Dr. Ary Pillar Soares, 3.º secretário Dr. Sylvio Albuquerque; 1.º tesoureiro Aufredy Nunes, 2.º tesoureiro Alvarino Paschoal, 3.º tesoureiro Luiz da Silveira Peixoto. Comissão de contas: Manoel Fialho de Vargas, João Carlos Brandes e Julio Medeiros de Albuquerque. 

Alguns membros da Comissão de Obras

Havia também uma comissão feminina, composta pela presidente do Apostolado da Oração, Herminia Porto, pela secretária da Congregação Mariana, Dora Medeiros, pela tesoureira da Pia União Trânsito São José, Eloisa Gama. Pela Liga do Menino Jesus, integrava a comissão Carolina Ferreira Cunha e Miloca Xavier pela Obra da Propagação da Fé, instituições estas que desapareceram com o tempo.

Documento registrando os membros da Grande Comissão
- Acervo da Irmandade
Em 6 de outubro de 1928, a Comissão de Obras endereçou um ofício ao Conselho Municipal (equivalente hoje à Câmara de Vereadores) cientificando-o das ações que já havia empreendido em prol da desejada remodelação da Igreja Matriz, correspondência que foi publicada no jornal O Commercio, edição do dia 24 de outubro de 1928:




Cachoeira, 6 de Outubro de 1928
Illmos. e Exmos. Srs. Presidente e demais membros do Conselho Municipal

Como deveis saber, por iniciativa do preclaro Cachoeirense, Dr. João Neves da Fontoura, quando Intendente, foi constituida uma Commissão para promover as obras da remodelação de nossa igreja matriz.
A Commissão, no desempenho desse encargo tomou providencias preliminares, a começar pela obtenção de um projecto que correspondesse aos desejos da população. Esse projecto foi recentemente conseguido e sujeito á apreciação publica, em reunião effectuada no recinto do alludido templo, sendo unanimemente approvado.
Espera-se, n'estes dias, a planta completa e definitiva que será enviada, por copia, ao sr. Intendente Municipal afim de que a Secção de obras publicas do municipio se manifeste approvando, ou não, a execução desse projecto.
Seria superfluo acrescentar que as obras projectadas, reclamam-nas dois motivos ponderosos: o da restauração do templo secular, em torno do qual, pode-se dizer que nasceu e cresceu a cidade de Cachoeira, e que, sem essas obras, em breve cahirá em ruinas; e em segundo logar o de remodelal-o estheticamente, pondo-o de accôrdo com os bellos melhoramentos realisados na praça onde é situado.
A opinião geral - a que se allia o pensar da Commissão - acha que o projecto é sobremodo feliz, pois que, adaptando á fachada uma architectura adequada e alterosa, dá ao mesmo passo, mais vastidão á nave e ao Santuario do templo, assim como mais luz e arejamento,  mediante o maximo aproveitamento dos materiaes e da estructura do alludido monumento. Alêm disso, a cobertura - que já está em máu estado - será alteada, e alargadas as salas, paralellas ao Santuario e bem assim executadas todas as modificações relativas á hygiene e á esthetica constante do projecto.
Para essas obras a nossa população municipal começa a concorrer com muito bôa vontade, como já consta e constará da imprensa local, á medida que os donativos forem colhidos pela thesouraria da Commissão.
Mas isso não impede que sejamos obrigados a appelar tambem para esse honrado Conselho, legitimo representante da collectividade Cachoeirense, solicitando-lhe a decretação de um auxilio para a execução das projectadas obras, que a commissão espera iniciar ainda n'este anno.
Muito grato é á Commissão o ensejo que se offerece de apresentar os protestos da mais elevada consideração ao illustre Conselho Municipal, a quem
Deus guarde
Virgilio C. de Abreu
Manoel Fialho de Vargas
Achilles Figueiredo
Mario Santos

Como se vê, a correspondência é clara nos propósitos de remodelar a igreja de forma que ela entrasse em harmonia com os melhoramentos que a praça havia recebido. Também fica explícita a aprovação da comunidade cachoeirense.

As remodelações já eram em parte conhecidas pela população, pois que em janeiro de 1928, na vitrine da casa comercial de Pedro Rosek, tinha sido exposto o projeto assinado pelo engenheiro Guilherme Gaudenzi, referindo o jornal O Commercio de 25 de janeiro de 1928 que parece que corresponderá aos desejos da população de ver aformoseada a architectura de seu velho templo, conservando as linhas geraes de sua fundação secular.

A remodelação foi inaugurada em 1929. A ampliação do templo e sua transformação externa agradaram os cachoeirenses de então. Só que, no avançar do tempo, outras reformas internas gerariam lamentos que se podem ouvir até nossos dias...

MR

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Casa da Aldeia: uma lenda urbana

Uma expressão que se tornou comum em nossos dias é a da "lenda urbana", ou seja, algo que costuma ser afirmado pelas pessoas como se verdade fosse, no entanto, paira sobre esta verdade um quê de interrogação!  Pois a afirmação inverídica de que a Casa da Aldeia é a mais antiga da cidade é, pode-se dizer, uma "lenda urbana". Longe de ser a construção mais antiga da cidade, posto ocupado pela Catedral Nossa Senhora da Conceição (1799), a Casa da Aldeia, que foi erguida pelo português Manoel Francisco Cardozo, marido da índia guarani Joaquina Maria de São José, é mais recente do que se supunha. Até pouco tempo, a época tida como da construção da casa era dada a partir do requerimento, datado de 18 de abril de 1849, em que Manoel Francisco Cardozo: querendo elle Suppl. Edeficar umas Cazas no lugar da Aldeia ecomo Alli seaxe huns terrenos devolutos na Rua de S. Carlos que faz frente ao Norte efundos ao Sul fazendo canto ao este com a rua principal cujo n

Hospital da Liga - uma obra para todos

Interessante recobrar a história de construção do Hospital da Liga Operária, o gigante do Bairro Barcelos, que se ergueu sob a batuta do maestro do operariado cachoeirense: o vereador José Nicolau Barbosa. E justamente agora que o município planeja desapropriá-lo para nele instalar o sonhado curso de medicina. José Nicolau Barbosa apresentando a obra do Hospital da Liga Operária - Acervo familiar O sonho do Nicolau, como ficou conhecido o empenho que aplicou sobre a obra, nunca chegou a se realizar, uma vez que a edificação não pôde ser usada como hospital. Ainda assim, sem as condições necessárias para atendimento das exigências médico-sanitárias, o prédio de três andares vem abrigando a Secretaria Municipal de Saúde. Mesmo desvirtuado de seu projetado uso original, mantém o vínculo com o almejado e necessário atendimento da saúde do trabalhador cachoeirense. O Jornal do Povo , edição de 1.º de março de 1964, traz uma entrevista com José Nicolau Barbosa, ocasião em que a reportagem do

Bagunça na 7

Em 1870, quando a moral e os bons costumes eram muito mais rígidos do que os tempos que correm e a convivência dos cidadãos com as mulheres ditas de vida fácil era muito pouco amistosa, duas delas, Rita e Juliâna, estavam a infernizar moradores da principal e mais importante artéria da Cidade da Cachoeira. Diante dos "abusos" e das reclamações, chegou ao subdelegado de polícia da época, Francisco Ribeiro da Foncêca, um comunicado da Câmara Municipal para que ele tomasse as necessárias providências para trazer de volta o sossego aos moradores. Rua 7 de Setembro no século XIX - fototeca Museu Municipal A solicitação da Câmara, assinada pelo presidente Bento Porto da Fontoura, um dos filhos do Comendador Antônio Vicente da Fontoura, consta de um encadernado do Fundo Câmara Municipal em que o secretário lançava o resumo das correspondências expedidas (CM/S/SE/RE-007), constituindo-se assim no registro do que foi despachado. Mais tarde, consolidou-se o sistema de emitir as corresp