Pular para o conteúdo principal

Os despojos de Pedro II e Tereza Cristina

Há 100 anos, no dia 8 de janeiro de 1921, o Brasil recebeu os despojos do Imperador Pedro II e de sua esposa D. Tereza Cristina, ele falecido em Paris, em 5 de dezembro de 1891, e ela no Porto, em 28 de dezembro de 1889, pouco tempo depois de terem sido banidos do país com a proclamação da República em 15 de novembro de 1889. 

D. Pedro II em 1887 - Wikipédia

Imperatriz Tereza Cristina (c. 1876) - Wikipédia


A iniciativa de dar sepultura aos monarcas em solo brasileiro fazia parte da programação que se desenhava para as comemorações do primeiro centenário da Independência do Brasil, em 7 de setembro de 1922. 

A notícia chegou a Cachoeira, via jornal O Commercio, no dia 26 de janeiro de 1921:

Notícia n'O Commercio - 26/1/1921

As revistas do Rio, datadas de 15 do actual, vêm cheias de illustrações relativas á chegada dos despojos mortaes de D. Pedro II e de D. Thereza Christina, ex-imperadores do Brasil, e banidos com a proclamação da Republica, em 15 de Novembro de 1889.

Esses despojos vieram no couraçado brasileiro São Paulo, chegando no Rio a 8 do corrente e sendo recebidos carinhosamente pela população fluminense e pelo mundo official, inclusive o sr. presidente da Republica. 

Acompanhando os despojos, vieram tambem o Conde d'Eu e o principe D. Pedro de Orleans e Bragança.

A revista Fon-Fon publicou o seguinte soneto:

O IMPERADOR

Vem pelo mar afóra, amortalhado

No auri-verde pendão... Brilha o Cruzeiro

Glorificando o grande Brasileiro,

Por tanto tempo ao longe desterrado!


E o nosso olhar, de pranto marejado,

O espaço corta e o vai fitar primeiro,

Antes que o seu reinado derradeiro

Pela voz do canhão seja saudado...


Vem. É a fala do throno que se escuta!

- Alta noite bebi fel e cicuta,

Como se fôra infame criminoso!


E a santa companheira, coitadinha!

Morreu de dor... Brasil! oh! Patria minha!

Volvo ao teu seio uberrimo e formoso!


(Autora) Presciliana Duarte de Almeida

As urnas que continham os despojos dos imperadores foram trasladadas de Lisboa ao Rio de Janeiro, sendo recebidas com todas as honras devidas a chefes de Estado. Pouco antes, o presidente Epitácio Pessoa havia assinado o decreto de extinção do banimento da família imperial, o que muito agradou ao Conde d'Eu e ao Príncipe D. Pedro, representantes dos monarcas no ato.

Os restos mortais do imperador e de sua esposa repousam na Catedral de São Pedro de Alcântara, em Petrópolis, desde 1939, em mausoléu inaugurado pelo presidente Getúlio Vargas. Em 1921, seu destino provisório foi a Catedral do Rio de Janeiro.

Quando Pedro II morreu, Paris tratou de sua morte com todo a consideração e respeito devidos a um monarca. Nenhum representante do governo brasileiro compareceu. No esquife, por pedido seu, a cabeça repousava sobre um travesseiro contendo terra brasileira, clara demonstração do grande amor que nutria pela pátria que um dia o expulsou, mas para a qual voltou e onde repousará eternamente.

D. Pedro II morto - http://blogdosanharol.blogspot.com/

MR

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Casa da Aldeia: uma lenda urbana

Uma expressão que se tornou comum em nossos dias é a da "lenda urbana", ou seja, algo que costuma ser afirmado pelas pessoas como se verdade fosse, no entanto, paira sobre esta verdade um quê de interrogação!  Pois a afirmação inverídica de que a Casa da Aldeia é a mais antiga da cidade é, pode-se dizer, uma "lenda urbana". Longe de ser a construção mais antiga da cidade, posto ocupado pela Catedral Nossa Senhora da Conceição (1799), a Casa da Aldeia, que foi erguida pelo português Manoel Francisco Cardozo, marido da índia guarani Joaquina Maria de São José, é mais recente do que se supunha. Até pouco tempo, a época tida como da construção da casa era dada a partir do requerimento, datado de 18 de abril de 1849, em que Manoel Francisco Cardozo: querendo elle Suppl. Edeficar umas Cazas no lugar da Aldeia ecomo Alli seaxe huns terrenos devolutos na Rua de S. Carlos que faz frente ao Norte efundos ao Sul fazendo canto ao este com a rua principal cujo n

Hospital da Liga - uma obra para todos

Interessante recobrar a história de construção do Hospital da Liga Operária, o gigante do Bairro Barcelos, que se ergueu sob a batuta do maestro do operariado cachoeirense: o vereador José Nicolau Barbosa. E justamente agora que o município planeja desapropriá-lo para nele instalar o sonhado curso de medicina. José Nicolau Barbosa apresentando a obra do Hospital da Liga Operária - Acervo familiar O sonho do Nicolau, como ficou conhecido o empenho que aplicou sobre a obra, nunca chegou a se realizar, uma vez que a edificação não pôde ser usada como hospital. Ainda assim, sem as condições necessárias para atendimento das exigências médico-sanitárias, o prédio de três andares vem abrigando a Secretaria Municipal de Saúde. Mesmo desvirtuado de seu projetado uso original, mantém o vínculo com o almejado e necessário atendimento da saúde do trabalhador cachoeirense. O Jornal do Povo , edição de 1.º de março de 1964, traz uma entrevista com José Nicolau Barbosa, ocasião em que a reportagem do

Bagunça na 7

Em 1870, quando a moral e os bons costumes eram muito mais rígidos do que os tempos que correm e a convivência dos cidadãos com as mulheres ditas de vida fácil era muito pouco amistosa, duas delas, Rita e Juliâna, estavam a infernizar moradores da principal e mais importante artéria da Cidade da Cachoeira. Diante dos "abusos" e das reclamações, chegou ao subdelegado de polícia da época, Francisco Ribeiro da Foncêca, um comunicado da Câmara Municipal para que ele tomasse as necessárias providências para trazer de volta o sossego aos moradores. Rua 7 de Setembro no século XIX - fototeca Museu Municipal A solicitação da Câmara, assinada pelo presidente Bento Porto da Fontoura, um dos filhos do Comendador Antônio Vicente da Fontoura, consta de um encadernado do Fundo Câmara Municipal em que o secretário lançava o resumo das correspondências expedidas (CM/S/SE/RE-007), constituindo-se assim no registro do que foi despachado. Mais tarde, consolidou-se o sistema de emitir as corresp