Pular para o conteúdo principal

Escravo carpinteiro

Um dos mais importantes construtores da história de Cachoeira se chamava Ferminiano Pereira Soares. A credenciar esta importância, foram de sua operosidade a construção dos pilares que sustentavam a malfadada Ponte do Jacuí, o salão do Império do Divino Espírito Santo e a Casa de Câmara, Júri e Cadeia. Muito provavelmente Ferminiano teve ao seu dispor vários escravos que foram responsáveis pelo levantamento de tais obras. 

Casa de Câmara, Júri e Cadeia, atual Museu Municipal
- Fototeca Museu Municipal

À direita, prédio do Império do Divino Espírito Santo 
- Fototeca Museu Municipal

Um deles era o carpinteiro, ou seja, o artífice das obras em madeira, cuja citação, sem nomeá-lo, conseguiu chegar até nossos dias em razão de um ofício que foi registrado em livro correspondente da Câmara Municipal com data de 30 de agosto de 1865, ocasião em que Ferminiano Pereira Soares tinha recentemente falecido. Diz o documento:

Illmmo. Snr.' = Em virtude do pedido de V. S.ª a Camara Municipal desta cidade remette-lhe pela canôa do Juca Caffé duas e meias duzias de taboas de louro, em quanto os linhotes não é possivel irem daqui, devendo V. S.ª ver se ahi  os arranja, o escravo carpinteiro do finado Ferminiano ahi se hade apresentar a V. S.ª, a Camara muito recommenda-lhe toda a brevidade na factura da barca. Caxoeira 30 de Agosto de 1865. Illmmo. Snr.' Manoel Dutra da Mendonça = Izaias Baptista Rodrigues Pereira, Vereador Presidente = O Secretario Antonio Joze d'Almada.

(CM/S/SE/RE-007, fls. 46 e 47v)

Ora, o escravo carpinteiro era de vital importância para as obras daquele tempo e quem sabe não foi ele o autor das maravilhosas treliças que ajudam a sustentar o assoalho do segundo piso da Casa de Câmara, Júri e Cadeia, última construção conduzida por Ferminiano Pereira Soares? 



Carpintaria executada na sustentação do assoalho do 2.º piso 
- Casa de Câmara Júri e Cadeia - fotos Renato Thomsen


MR

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Casa da Aldeia: uma lenda urbana

Uma expressão que se tornou comum em nossos dias é a da "lenda urbana", ou seja, algo que costuma ser afirmado pelas pessoas como se verdade fosse, no entanto, paira sobre esta verdade um quê de interrogação!  Pois a afirmação inverídica de que a Casa da Aldeia é a mais antiga da cidade é, pode-se dizer, uma "lenda urbana". Longe de ser a construção mais antiga da cidade, posto ocupado pela Catedral Nossa Senhora da Conceição (1799), a Casa da Aldeia, que foi erguida pelo português Manoel Francisco Cardozo, marido da índia guarani Joaquina Maria de São José, é mais recente do que se supunha. Até pouco tempo, a época tida como da construção da casa era dada a partir do requerimento, datado de 18 de abril de 1849, em que Manoel Francisco Cardozo: querendo elle Suppl. Edeficar umas Cazas no lugar da Aldeia ecomo Alli seaxe huns terrenos devolutos na Rua de S. Carlos que faz frente ao Norte efundos ao Sul fazendo canto ao este com a rua principal cujo n...

Instituto Estadual de Educação João Neves da Fontoura - 90 anos

O mês de maio de 2019 está marcado por um momento significativo na história da educação de Cachoeira do Sul. No dia 22, o Instituto Estadual de Educação João Neves da Fontoura chegou aos seus 90 anos carregando, neste transcurso de tempo, desafios, dificuldades e conquistas. Muitas crianças e jovens passaram por seus bancos escolares, assim como professores e servidores dedicados à desafiadora tarefa educativa. A história do João Neves, como popularmente é chamado aquele importante educandário, tem vínculos enormes com seu patrono. Em 1929, quando a instituição foi criada com o nome de Escola Complementar, o Dr. João Neves da Fontoura era vice-presidente do estado e há pouco havia concluído uma gestão de grandes obras como intendente de Cachoeira.  Em 1927, ano em que Borges de Medeiros resolveu criar escolas complementares no estado para a formação de alunos-mestres, imediatamente João Neves empenhou-se para que uma destas escolas fosse instalada em Cachoeira, município p...

Série Documentos da Imigração Italiana em Cachoeira: o médico italiano Silvio Scopel

Um dos médicos que mais marcou a história da medicina em Cachoeira do Sul, certamente, foi o italiano Dr. Silvio Scopel que aqui reconstruiu sua vida e viveu por 38 anos. Silvio  Giovanni Giacomo Scopel nasceu em 7 de fevereiro de 1879, na província de Belluno, filho de Giovanni Scopel e Teresa Cricco Scopel. Formou-se médico em 1901, pela Universidade de Pádua, atuando como médico cirurgião e parteiro em diferentes cidades italianas. Em 1906, casou com Margherita Dal Mas, não tendo descendência desta união. O casamento não durou muito, pois Margherita faleceu, causando profunda tristeza no jovem médico. Tal estado de ânimo o fez optar por, na companhia de um colega e amigo, também médico, Dr. Alvise Dal Vesco (também aparece Dalvesco), vir para o Brasil. Sua chegada em Cachoeira se deu no ano de 1912, oferecendo os dois médicos os seus serviços, inicialmente prestados nas farmácias Popular e Nova, na Rua 7 de Setembro. Dr. Silvio Giovanni Giacomo Scopel - MMEL Propaganda do D...