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O que tinha e o que faltava na Cachoeira do Sul de 50 anos atrás...

Cachoeira do Sul, outubro de 1973. O Clube de Diretores Lojistas,  hoje Câmara de Dirigentes Lojistas de Cachoeira do Sul - CDL, lançou um "volante", o que hoje chamamos de fôlder, ressaltando as potencialidades do município. 

Interessante verificar a forma como a notícia chegou aos lares cachoeirenses através das páginas do Jornal do Povo, que circulou no dia 23 de outubro daquele ano:

O QUE CACHOEIRA DO SUL TEM E O QUE FALTA

O Clube de Diretores Lojistas, sempre preocupado na promoção de Cachoeira do Sul sob todos os aspectos, tomou a iniciativa de imprimir um volante, relacionando o que esta cidade tem, de destaque, e o que lhe falta.

Em reunião que o CDL realizou na noite de quarta-feira, foi este assunto abordado, pois uma das grandes preocupações de Gentil Bacchin, vice-presidente do CDL, em exercício, relaciona-se com a limpeza da cidade, assunto que está merecendo novas normas da administração municipal, mas que exige maior colaboração da população.

O VOLANTE

O volante mandado imprimir pelo CDL e que está sendo espalhado pela cidade, especialmente aos comerciantes e lojistas em geral, diz:

"Cidade das Águas Dançantes, das praças floridas, das igrejas lindamente construídas.

Cachoeira da Escola de Área, das faculdades, do rio Jacuí, da Ponte do Fandango.

Orgulhosamente é a Capital Nacional do Arroz.

E por que não ser a Capital da Limpeza?

Por que todos nós não colaboramos e a colocamos entre as cidades mais limpas do Rio Grande do Sul? O Clube de Diretores Lojistas, procurando cooperar com a administração municipal, lança veemente apelo aos seus associados, comércio e população em geral, no sentido de consertarem e conservarem suas calçadas e sarjetas limpas, varrendo-as diariamente e colocando o lixo em latas fechadas.

Não deixe que sua cidade tenha a fama de SUJISMUNDO, e sim de cidade-exemplo de conservação e limpeza.

POVO EDUCADO - CIDADE LIMPA."

50 anos depois, analisemos se o que Cachoeira do Sul tinha segue e o que faltava foi conquistado.

As campanhas de limpeza urbana são atualmente desenvolvidas pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente. A gestão do lixo produzido pela população também se modificou muito nos últimos 50 anos. Atualmente,  há uma preocupação com a coleta e, principalmente, com a separação do lixo orgânico do seco. Há mais de década o sistema de contêineres foi adotado pela Prefeitura Municipal, sendo a coleta feita mecanicamente na maior parte da cidade. Uma cooperativa de catadores e recicladores recolhe o lixo seco, embora ainda a população não tenha o devido cuidado com a separação correta dos dejetos. 

O personagem Sujismundo, utilizado no volante do então CDL, foi criado pelo desenhista Ruy Perotti no início dos anos 1970 e utilizado na campanha "Povo desenvolvido é povo limpo", instituída pelo governo federal. O boneco teve larga popularidade e, apesar de "porcalhão", tinha a missão de melhorar os hábitos de higiene do povo brasileiro e incentivá-lo a conservar o asseio pessoal e a limpeza dos lugares. Na Cachoeira do Sul de 2023, a figura de Sujismundo ainda pode ser invocada em muitas situações, principalmente em torno dos lugares em que se verifica grande concentração de pessoas.

Sujismundo - https://2.bp.blogspot.com/

Quanto à "Cidade das Águas Dançantes", felizmente vê-se, mais uma vez, o esforço de abnegados servidores da Secretaria Municipal de Obras para a reativação da Fonte das Águas Dançantes Artibano Savi, um dos cartões-postais do município que habita a memória de muitos cachoeirenses,  mas que em boa parte de sua recente história mais esteve desativada do que em pleno funcionamento.

Fonte das Águas Dançantes na década de 1970 - Acervo Julio C. Caspani

As praças deixaram há muito de ser floridas, salvo algumas poucas exceções. Na década de 1970, por exemplo, o Château d'Eau era cercado de extenso roseiral.

Roseiral no Château d'Eau - Acervo Família Gomes

As igrejas seguem lindamente construídas, tendo sido acrescidas da Igreja São José, inaugurada no final da década de 1970. Duas delas são tombadas como patrimônio histórico-cultural: a Catedral Nossa Senhora da Conceição e o Templo Martim Lutero.

A Cachoeira da escola de área referia-se à que primeiro inaugurou no país uma escola polivalente - o Colégio Estadual Diva Costa Fachin, um orgulho para a cidade. Atualmente, ainda que com mudança do modelo educacional, a cidade dispõe de duas unidades das chamadas escolas de área, pois em 1975 começou a funcionar a Escola Estadual de Ensino Médio Dr. Liberato Salzano Vieira da Cunha.

Um grande salto foi dado em relação ao ensino superior. Se em 1973 Cachoeira do Sul tinha recém-instalado as unidades da extinta FUNVALE, ou seja, a FAFIL, FACECA, ESEF e ESASC, contemplando filosofia, ciências e letras, administração, ciências contábeis e economia, educação física, artes e música, convive hoje com diversas opções e campus da ULBRA, da UFSM, UAB e outras universidades, oferecendo uma variada gama de cursos que qualificam não só os estudantes locais, mas atrai outros tantos de diferentes lugares do país. No entanto, a cidade muito se ressente da extinção dos cursos oferecidos pela FUNVALE/UNIVALE, cujas opções deixaram de ser ofertadas em boa parte.

O rio Jacuí, apesar de ter sido reconhecido com um dia especial no calendário do município - o 12 de outubro - ainda não tem a merecida atenção da cidade. A sua importância é cabal para Cachoeira do Sul que deve a ele não só o seu nome, mas a própria existência e manutenção.

A Ponte do Fandango é uma obra gigantesca em importância para Cachoeira do Sul, no entanto tem dificuldades para ser entendida como fundamental para o desenvolvimento local, ainda que sua supressão para consertos imprescindíveis tenha feito a cidade perceber o quanto faz diferença para a mobilidade e a economia locais. Está permanentemente a exigir a atenção e o cuidado que merece.

Se em 1973 a cidade se orgulhava em ostentar o título de Capital Nacional do Arroz, quando ainda mantinha uma performance destacada na produção do cereal, hoje é necessário explicar aos munícipes o quanto de história este título carrega e a importância que o município teve na evolução da cultura arrozeira no país, o que justifica e ratifica a denominação.

Por fim, o apelo do volante do CDL ainda encontraria eco nos dias de hoje, pois precisamos, sim, como responsáveis pelo lugar em que vivemos transformar Cachoeira do Sul em cidade-exemplo de conservação e limpeza, afinal, POVO EDUCADO - CIDADE LIMPA.

Observação: alguém teria guardado um volante desses?

MR

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