Pular para o conteúdo principal

190 anos da imigração alemã no Rio Grande do Sul

Depois de muitas tratativas, finalmente em novembro de 1857 chegava a Cachoeira a primeira leva de imigrantes alemães com destino à Colônia Santo Ângelo. Estes pioneiros tiveram muito trabalho pela frente e enfrentaram toda sorte de dificuldades, a começar pela forma inusitada com que foram deixados à margem do rio Jacuí, abandonados à própria sorte, pois o comando do vapor que os trouxera até a margem, aproveitando-se do momento em que desceram da embarcação para conhecer o que lhes aguardava, determinou que desembarcassem suas bagagens, zarpando logo a seguir.

Aos colonos surpreendidos pela "fuga" do vapor restava apenas a coragem de arregaçar as mangas e buscar meios de sobreviver naquele ambiente desconhecido, inóspito e cheio de desafios. A tarefa hercúlea rendeu bons frutos ao trabalho e abnegação daqueles pioneiros e a Colônia Santo Ângelo cresceu, transformando-se depois em municípios como Agudo, Paraíso do Sul, Novo Cabrais, todos com imenso orgulho de suas raízes germânicas, assim como Cachoeira do Sul, sede e berço da colônia.

O primeiro grupo de colonos, vindos da região da Pomerânia, era composto pelas famílias de FRANZ PÖTTER, AUGUST PÖTTER, JULIUS NEUJAHR, DANIEL FIESS, WILHELM HOLZ e PETER FINGER.

Para marcar a data de hoje, 25 de julho de 2014, 190.º aniversário da chegada dos primeiros colonos alemães ao Rio Grande do Sul, fomos buscar registro da inserção dos primeiros que em Cachoeira aportaram, onde criaram laços e constituíram suas próprias famílias. Encontramos, dentre a documentação do fundo Câmara Municipal (1820 - 1889), o encadernado que registra os casamentos acatólicos, ou seja, as uniões realizadas pelos pastores luteranos na Colônia Santo Ângelo e depois devidamente registrados em livro próprio pelo Secretário da Câmara. Há nele, dentre tantos outros, o assento de casamento de uma das filhas de August Pötter, segunda geração de uma das famílias chegadas em novembro de 1857 na Colônia Santo Ângelo.

Abertura do Livro de registro dos casamentos acatólicos
- CM/S/SE/RC-001 - acervo Arquivo Histórico -

Eis o assento:

Registro do extracto da escritura de casamento dos colonos Eduardo Karsburg, e Hulda Caroline Emilie Poetter, como abaixo se declara.
Extracto. - Do livro dos assentos dos casamentos da communidade evangelica existente no logar denominado "Agude" da Colonia de Santo Angelo. Livro III, as folhas 3, N.º 5. No anno do Nascimento de Nosso Senhor Jezus Christo (Mesiah) de mil oito centos setenta  e quinto a os trinta dias do mez de Maio, depois de haverem corrido os devidos pregões sem ter apparecido impedimento algum, se casarão segundo as prescripções e cerimonias do culto evangelico perante mim João Tuesmann pastor evangelico legalmente habelitado da mesma communidade as pessôas seguintes Eduardo Karsburg, solteiro, colono estabelecido na Colonia de Santo Angelo, de vinte e tres annos de idade, natural de Lubow na Pommerania Reino da Prussia no Imperio da Allemanha, filho legitimo de Fredinand Karsburg e de sua mulher Charlotte Focht com Hulda Caroline Emilie Poetter, natural de Sohronpohm na Pomerania Reino da Prussia no Imperio da Allemanha e rezidente actualmente nesta Colonia, de dezasete annos de idade, filha legitima de Augusto Poetter e de sua mulher Carolina Emilie Puettelkow, residente nesta mesma Colonia. Forão testemunhas do acto do casamento: 1 João Gerdau, 2, Eduard Gehrke, 3, Wilhelmine Golz. O que tudo fielmente extrahi do livro dos assentos desta communidade por mim escripturado e ao que me reporto. Comunidade evangelica de Agude na Colonia de Santo Angelo, a os trinta de Maio de mil oito centos setenta e quinto (30 Maio 1875) João Tuemann o pastor Culto Evangelico. João Gerdau, Eduardo Gehrke, Wilhelmina Golz. Estava sellado com os sellos pastoral (...) Secretaria da Camara Municipal da cidade da Cachoeira 8 de Setembro de 1875. O Secretario Fidencio Pereira Fortes.

O assento transcrito demonstra que os colonos tocaram suas vidas e, mesmo longe da terra natal, buscaram meios para sua subsistência, não deixando de cultivar aqui suas tradições e seguir seu rito espiritual.

O Arquivo Histórico celebra e enaltece os 190 da imigração alemã no Rio Grande do Sul e os 157 anos da chegada dos primeiros colonos a Cachoeira, convidando todos para visitarem a exposição comemorativa que o Museu Municipal montou na Sala 4, intitulada 1824 - 2014: 190 Anos da Imigração Alemã no RS.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Casa da Aldeia: uma lenda urbana

Uma expressão que se tornou comum em nossos dias é a da "lenda urbana", ou seja, algo que costuma ser afirmado pelas pessoas como se verdade fosse, no entanto, paira sobre esta verdade um quê de interrogação!  Pois a afirmação inverídica de que a Casa da Aldeia é a mais antiga da cidade é, pode-se dizer, uma "lenda urbana". Longe de ser a construção mais antiga da cidade, posto ocupado pela Catedral Nossa Senhora da Conceição (1799), a Casa da Aldeia, que foi erguida pelo português Manoel Francisco Cardozo, marido da índia guarani Joaquina Maria de São José, é mais recente do que se supunha. Até pouco tempo, a época tida como da construção da casa era dada a partir do requerimento, datado de 18 de abril de 1849, em que Manoel Francisco Cardozo: querendo elle Suppl. Edeficar umas Cazas no lugar da Aldeia ecomo Alli seaxe huns terrenos devolutos na Rua de S. Carlos que faz frente ao Norte efundos ao Sul fazendo canto ao este com a rua principal cujo n

Hospital da Liga - uma obra para todos

Interessante recobrar a história de construção do Hospital da Liga Operária, o gigante do Bairro Barcelos, que se ergueu sob a batuta do maestro do operariado cachoeirense: o vereador José Nicolau Barbosa. E justamente agora que o município planeja desapropriá-lo para nele instalar o sonhado curso de medicina. José Nicolau Barbosa apresentando a obra do Hospital da Liga Operária - Acervo familiar O sonho do Nicolau, como ficou conhecido o empenho que aplicou sobre a obra, nunca chegou a se realizar, uma vez que a edificação não pôde ser usada como hospital. Ainda assim, sem as condições necessárias para atendimento das exigências médico-sanitárias, o prédio de três andares vem abrigando a Secretaria Municipal de Saúde. Mesmo desvirtuado de seu projetado uso original, mantém o vínculo com o almejado e necessário atendimento da saúde do trabalhador cachoeirense. O Jornal do Povo , edição de 1.º de março de 1964, traz uma entrevista com José Nicolau Barbosa, ocasião em que a reportagem do

Bagunça na 7

Em 1870, quando a moral e os bons costumes eram muito mais rígidos do que os tempos que correm e a convivência dos cidadãos com as mulheres ditas de vida fácil era muito pouco amistosa, duas delas, Rita e Juliâna, estavam a infernizar moradores da principal e mais importante artéria da Cidade da Cachoeira. Diante dos "abusos" e das reclamações, chegou ao subdelegado de polícia da época, Francisco Ribeiro da Foncêca, um comunicado da Câmara Municipal para que ele tomasse as necessárias providências para trazer de volta o sossego aos moradores. Rua 7 de Setembro no século XIX - fototeca Museu Municipal A solicitação da Câmara, assinada pelo presidente Bento Porto da Fontoura, um dos filhos do Comendador Antônio Vicente da Fontoura, consta de um encadernado do Fundo Câmara Municipal em que o secretário lançava o resumo das correspondências expedidas (CM/S/SE/RE-007), constituindo-se assim no registro do que foi despachado. Mais tarde, consolidou-se o sistema de emitir as corresp