Quando ouvimos a aplicação da palavra grogue, logo pensamos em alguém que esteja sofrendo os efeitos de uma boa bebedeira, de uma pancada na cabeça ou, quem sabe, do uso de uma substância poderosa...
Pois não é que uma provável origem da palavra, quem diria, associa-se a uma história - estória para alguns - bastante inusitada que fomos encontrar nas páginas do jornal Rio Grande, de Cachoeira, em sua edição de 18 de maio de 1908?
Eis a transcrição da matéria:
Pois não é que uma provável origem da palavra, quem diria, associa-se a uma história - estória para alguns - bastante inusitada que fomos encontrar nas páginas do jornal Rio Grande, de Cachoeira, em sua edição de 18 de maio de 1908?
Eis a transcrição da matéria:
ORIGEM DE GROG
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Faleceu em uma hospedaria, repentinamente, o opulento capitalista inglês Mr. Heo Ricard Oldam Grimmel, que fazia uma viagem de recreio com o seu primogênito Edward.
Baldados foram os esforços do desolado rapaz para obter o transporto de seu finado pai, em camara ardente, até o lugar de sua residencia.
Nenhuma embarcação a seguir viagem quiz aceitar o corpo.
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Edward, rapaz de altos recursos, não teve desfallecimento em resolver a objeção.
Arranjou um grande tonel de aguardente de primeira qualidade, acomodou o corpo do finado progenitor dentro, despachou-o á familia, remettendo-lhe o conhecimento que rezava: barril de alcool fino, marca GROG.
Logo depois de embarcado o volume, cujo expeditor pedira para elle o maximo cuidado, por ser artigo fino, um grumete quiz certificar-se do conteúdo e com uma verruma grossa perfurou o tonel donde vasou um liquido amarellado.
Provou a bebida, achou-a magnifica e dentro em pouco toda a tripulação ia matar o bicho pelo orificio feito pelo grumete.
Tres dias eram passados e já o pobre Lord Grimmel achava-se em secco.
Provou a bebida, achou-a magnifica e dentro em pouco toda a tripulação ia matar o bicho pelo orificio feito pelo grumete.
Tres dias eram passados e já o pobre Lord Grimmel achava-se em secco.
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Chegada a embarcação ao ponto terminal, appareceu a bordo o segundo filho do finado lord, reclamando o corpo de seu pae.
- Não! respondeu o capitão, não conduzimos cadaveres; V. está enganado: é em outra embarcação que deve procural-o.
O moço, que vestia luto pezado, em cujo traje era imitado por umas cincoenta pessoas, que o acompanhavam, protestou assegurando que se não enganava e mostrou ao capitão o seguinte telegramma:
"Papae segue em alcool navio Kaguinche, volume marca GROG; seguirei depois de arrecadar o que aqui deixou. Façam funeraes."
Em vista de semelhante affirmativa, foi chamado o piloto e finalmente toda a população [sic], que asseverava tratar-se não de um cadaver, mas de uma excellente bebida que tinha o nome de grog.
Trazido o volume em questão para o tombadilho, com grande pasmo do consignatario e pavor da tripulação, Mr. Grimmel estava... em secco.
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Excepção feita do commandante, todo o pessoal de bordo vomitava a um tempo, como se estivesse em alto mar!
E assim se inventou o famoso grog, das iniciais do finado lord G. R. O. G.
Verdadeira ou não a versão que o jornal de 1908 traz, o fato é que há uma bebida quente com este nome, feita à base de rum, água e açúcar.
Outra história relacionada é a de um almirante inglês, de nome Edward Vernon, conhecido por Old Grog em razão do consumo que fazia da bebida, que em 1740 teria mandado os marinheiros aumentarem a quantidade de água do preparado, menos no tonel que serviria aos oficiais!
Almirante Edward Vernon - o Old Grog |
A Grogue é pouco conhecida no Brasil. Produzida em quantidade especialmente no Cabo Verde, pode ser consumida pura - tem alto teor alcoólico - ou em infusão com ervas. Na península ibérica sofre também a adição de percebes, pequenos crustáceos muito consumidos na região.
Grogue, a bebida propriamente dita, ou o sujeito que sofre os efeitos dos excessos, é mais uma destas palavras cheias de história e uma das tantas curiosidades que o rico acervo de imprensa do Arquivo Histórico nos oferece.
O Inspetor Maigret (personagem criado por Georges Simenon) com frequência é retratado entrando em um bistrô francês e pedindo um grogue, para esquentar-se nos dias de inverno.
ResponderExcluirEntão a bebida era experimentada por um dos mais conhecidos personagens das histórias policiais.
ResponderExcluirObrigada pelo seu comentário, Ivo!