Pular para o conteúdo principal

Desmoronamento da Ponte do Passo da Ferreira

Volta e meia a história se repete, como assim sucede com os efeitos da natureza. As chuvas do mês de julho de 2015 provocaram diversos estragos na cidade, dentre eles o desmoronamento de parte da ponte de Ferreira.

Revisando a documentação do Arquivo Histórico, na série Obras e Melhoramentos do Fundo Câmara Municipal, localizou-se uma carta do empreiteiro Ferminiano Pereira Soares, o homem que entrou para a história como o construtor dos pilares da Ponte do Jacuí, que resistem até nossos dias (embora há muito tenham deixado de suportar a estrutura da ponte), o prédio da Casa de Câmara, Júri e Cadeia e a própria ponte do Passo da Ferreira.

Casa de Câmara, Júri e Cadeia - obra de Ferminiano Pereira Soares
- fototeca Museu Municipal


CM/OM/Ofícios - Caixa 10





















Pois a carta, datada de 21 de maio de 1858, dá ciência aos vereadores que Ferminiano encarregou-se de reconstruir a ponte que havia desmoronado com a extemporanea e furiosa enchente daquele ano. Como tinha sido ele o construtor da obra, achou-se na obrigação de recuperá-la e entendia que poderia ser ressarcido dos gastos com tal compostura, se assim os vereadores entendessem justo.


Eis o conteúdo da carta:

Ill.mos Snrs.

A extemporanea, e furiosa enchente que sobreveio em Outubro do anno passado, e que causou os grandes estragos que são conhecidos, não poupou a Ponte, construida no Passo da Ferreira nas immediaçõens dessa Villa que desabou, por ter desmoronado o terreno, ou barrancos, em que estava ella situada. Como fosse eu o empreiteiro, que fiz essa obra, com quanto não me corresse a obrigação de reparar o seu estrago, por não ser devido á falta de solidez, porém unicamente a um acontecimento imprevisto, e extraordinario; eu espontaneamente me prestei á reconstruila; e se acha prompta, dando franco e seguro transito desde o dia 23 de Abril ultimo.
Devo porem nottar que todos os Esteios, algûa outra madeira, e todos os pregos, se perdêrão, e foi por isso precizo, que se comprasse novamen.te os ditos objectos com os quais se despendeo a quantia de cento e cincoenta mil r,s bem como com a mão d'obra, e aterro, o de duzentos mil reis, prefazendo ambas o total de 350$000 réis. Julgo que contribuindo com a minha administração em semelhante obra, tenho prestado um serviço mais ou menos relevante em beneficio do publico em geral, e deste Municipio em particular, por tanto se VVSS entenderem que eu devo ser indemnisado d'aquella despeza, ou na sua totalidade, ou no quanto julgarem razoavel, eu accatarei; pois me parece, que não deve pezar somente sobre mim sem algum sacrificio.
Permittão VVSS, que eu me prevaleça desta opportunidade, para lembrar, que é urgente fazer se um retoque nos aterros, e no pavimento da Ponte junto ao Passo de Jacuhy, e tomar-se uma medida para que no transito só se faça uzo della, quando estiver cheio o Arroio, ou sanga, em que está situada; precedendo para isso um concerto no passo do mesmo Arroio; medida esta, que contribuirá sem duvida para a duração da ponte que poderá ser feichada por uma cancella, ou portão, que só deverá ser aberto no cazo d'enchente, e cuja chave poderá estar á cargo do arrematante do Passo de Jacuhy. Deos Guarde a VV.SS.as
Passo do Jacuhy 21 de Maio de 1858.

Ill.mos Snr.s Prezidente e m.s Vereadores da Camara Municipal da Villa da Cachoeira.

(Assina) Ferminiano Per.a Soares

Mais uma vez Ferminiano Pereira Soares deu mostras de seu compromisso com o lugar onde vivia e, a exemplo do que fez durante a construção da Casa de Câmara, Júri e Cadeia, doou bens e esforços pessoais para obras importantes ao desenvolvimento da Vila/Cidade da Cachoeira.

(MR)

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Casa da Aldeia: uma lenda urbana

Uma expressão que se tornou comum em nossos dias é a da "lenda urbana", ou seja, algo que costuma ser afirmado pelas pessoas como se verdade fosse, no entanto, paira sobre esta verdade um quê de interrogação!  Pois a afirmação inverídica de que a Casa da Aldeia é a mais antiga da cidade é, pode-se dizer, uma "lenda urbana". Longe de ser a construção mais antiga da cidade, posto ocupado pela Catedral Nossa Senhora da Conceição (1799), a Casa da Aldeia, que foi erguida pelo português Manoel Francisco Cardozo, marido da índia guarani Joaquina Maria de São José, é mais recente do que se supunha. Até pouco tempo, a época tida como da construção da casa era dada a partir do requerimento, datado de 18 de abril de 1849, em que Manoel Francisco Cardozo: querendo elle Suppl. Edeficar umas Cazas no lugar da Aldeia ecomo Alli seaxe huns terrenos devolutos na Rua de S. Carlos que faz frente ao Norte efundos ao Sul fazendo canto ao este com a rua principal cujo n...

Instituto Estadual de Educação João Neves da Fontoura - 90 anos

O mês de maio de 2019 está marcado por um momento significativo na história da educação de Cachoeira do Sul. No dia 22, o Instituto Estadual de Educação João Neves da Fontoura chegou aos seus 90 anos carregando, neste transcurso de tempo, desafios, dificuldades e conquistas. Muitas crianças e jovens passaram por seus bancos escolares, assim como professores e servidores dedicados à desafiadora tarefa educativa. A história do João Neves, como popularmente é chamado aquele importante educandário, tem vínculos enormes com seu patrono. Em 1929, quando a instituição foi criada com o nome de Escola Complementar, o Dr. João Neves da Fontoura era vice-presidente do estado e há pouco havia concluído uma gestão de grandes obras como intendente de Cachoeira.  Em 1927, ano em que Borges de Medeiros resolveu criar escolas complementares no estado para a formação de alunos-mestres, imediatamente João Neves empenhou-se para que uma destas escolas fosse instalada em Cachoeira, município p...

Cachoeira do Sul e seu rico patrimônio histórico-cultural

A história de Cachoeira do Sul, rica e longeva, afinal são 202 anos desde a sua emancipação político-administrativa, legou-nos um conjunto de bens que hoje são vistos como patrimônio histórico-cultural. Muito há ainda de testemunhos desta história que merecem a atenção pelo que representam como marcas dos diferentes ciclos históricos. Mas felizmente a comunidade e suas autoridades, desde 1981, pela criação do Conselho Municipal do Patrimônio Histórico-Cultural - COMPAHC, têm reconhecido e protegido muitas destas marcas históricas. Antes da existência do COMPAHC muitos e significativos bens foram perdidos, pois o município não dispunha de mecanismos nem legislação protetiva, tampouco de levantamento de seu patrimônio histórico-cultural. Assim, o Mercado Público, em 1957, e a Estação Ferroviária, em 1975, foram duas das maiores perdas, sendo estes dois bens seguidamente citados como omissões do poder público e da própria comunidade. Sempre importante lembrar que por ocasião do anúncio da...