Pular para o conteúdo principal

Espertezas do passado

Em 10 de dezembro de 1888, o cidadão Miguel C. Dias de Moura encaminhou à Câmara Municipal uma solicitação de que fosse certificado se o actual carcereiro - José Candido Alves Brilhante - tem ou não recebido d'essa Illustrissima Camara os dinheiros necessarios ao pagamento das despesas feitas com o aceio interno da Cadêa civil d'esta cidade; e, em caso affirmativo, qual a importancia recebida pelo mencionado carcereiro durante o tempo em que se acha elle no exercicio do respectivo cargo.

Requerimento de Miguel Dias de Moura
- 10/12/1888 - CM/S/SE/CR-018

No dia 26 de dezembro de 1888, a mesma Câmara foi destinatária de uma declaração do mesmo Miguel Dias de Moura dizendo que lhe constando existir uma petição assignada com o nome do Supp.e - sobre negocios da Cadeia; vem declarar a esta Illmª Camara, que nada tem relativamente sobre tal petição, visto não ter assignado papél algum q, disto tratasse. 


Declaração de Miguel Dias de Moura
26/12/1888 - CM/S/SE/CR-018

Então, o que se pode deduzir do fato se os documentos enviados à Câmara são conflitantes, embora emitidos no mesmo nome, e as assinaturas não conferem?

O fato é que em 29 de janeiro de 1889 o delegado de Polícia, Hilario Jozé de Barcellos, oficiou ao presidente da Câmara, Francisco Gomes Porto, dizendo que:

Ofício do Delegado de Polícia
- 29/1/1889 - CM/S/SE/CR-019

Tendo VSª se dignado communicar-me que a Illmª Camara Municipal nomeara uma commissão para examinar se o Carcereiro cumpre com as obrigações de sêo emprego, em relação ao que está afecto a essa Municipalid.e, ordenei ao referido empregado pª franquear o edificio da cadeia a commissaõ nomeada, a qualquer hora do dia ou da noite.

Tal documento denota que a Câmara Municipal procurou assegurar a veracidade dos fatos e para tanto nomeou uma comissão composta pelos vereadores Antonio Nelson da Cunha, Ismael Alves d'Almeida e João Thomaz de Menezes Junior para examinar detidamente o cumprimento das obrigações a que está sugeito para com a Camara o Carcereiro da Cadêa Civil desta Cidade. O delegado foi comunicado, franqueando o acesso da dita comissão à cadeia.

Na dúvida, melhor verificar os fatos. Transparência ontem, hoje e sempre!

MR

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Casa da Aldeia: uma lenda urbana

Uma expressão que se tornou comum em nossos dias é a da "lenda urbana", ou seja, algo que costuma ser afirmado pelas pessoas como se verdade fosse, no entanto, paira sobre esta verdade um quê de interrogação!  Pois a afirmação inverídica de que a Casa da Aldeia é a mais antiga da cidade é, pode-se dizer, uma "lenda urbana". Longe de ser a construção mais antiga da cidade, posto ocupado pela Catedral Nossa Senhora da Conceição (1799), a Casa da Aldeia, que foi erguida pelo português Manoel Francisco Cardozo, marido da índia guarani Joaquina Maria de São José, é mais recente do que se supunha. Até pouco tempo, a época tida como da construção da casa era dada a partir do requerimento, datado de 18 de abril de 1849, em que Manoel Francisco Cardozo: querendo elle Suppl. Edeficar umas Cazas no lugar da Aldeia ecomo Alli seaxe huns terrenos devolutos na Rua de S. Carlos que faz frente ao Norte efundos ao Sul fazendo canto ao este com a rua principal cujo n...

Instituto Estadual de Educação João Neves da Fontoura - 90 anos

O mês de maio de 2019 está marcado por um momento significativo na história da educação de Cachoeira do Sul. No dia 22, o Instituto Estadual de Educação João Neves da Fontoura chegou aos seus 90 anos carregando, neste transcurso de tempo, desafios, dificuldades e conquistas. Muitas crianças e jovens passaram por seus bancos escolares, assim como professores e servidores dedicados à desafiadora tarefa educativa. A história do João Neves, como popularmente é chamado aquele importante educandário, tem vínculos enormes com seu patrono. Em 1929, quando a instituição foi criada com o nome de Escola Complementar, o Dr. João Neves da Fontoura era vice-presidente do estado e há pouco havia concluído uma gestão de grandes obras como intendente de Cachoeira.  Em 1927, ano em que Borges de Medeiros resolveu criar escolas complementares no estado para a formação de alunos-mestres, imediatamente João Neves empenhou-se para que uma destas escolas fosse instalada em Cachoeira, município p...

Série Documentos da Imigração Italiana em Cachoeira: o médico italiano Silvio Scopel

Um dos médicos que mais marcou a história da medicina em Cachoeira do Sul, certamente, foi o italiano Dr. Silvio Scopel que aqui reconstruiu sua vida e viveu por 38 anos. Silvio  Giovanni Giacomo Scopel nasceu em 7 de fevereiro de 1879, na província de Belluno, filho de Giovanni Scopel e Teresa Cricco Scopel. Formou-se médico em 1901, pela Universidade de Pádua, atuando como médico cirurgião e parteiro em diferentes cidades italianas. Em 1906, casou com Margherita Dal Mas, não tendo descendência desta união. O casamento não durou muito, pois Margherita faleceu, causando profunda tristeza no jovem médico. Tal estado de ânimo o fez optar por, na companhia de um colega e amigo, também médico, Dr. Alvise Dal Vesco (também aparece Dalvesco), vir para o Brasil. Sua chegada em Cachoeira se deu no ano de 1912, oferecendo os dois médicos os seus serviços, inicialmente prestados nas farmácias Popular e Nova, na Rua 7 de Setembro. Dr. Silvio Giovanni Giacomo Scopel - MMEL Propaganda do D...