Pular para o conteúdo principal

Colheita do arroz - 1908

O arroz, historicamente, como sabido pelos cachoeirenses, é o produto que mais longe levou o nome do município. A excelência de sua produção e o pioneirismo em técnicas de cultivo com irrigação artificial das lavouras credenciaram Cachoeira do Sul ao título de Capital Nacional do Arroz. É bom relembrar isto em tempos que se aproximam da realização da 20.ª FENARROZ, que acontecerá de 29 de maio a 3 de junho de 2018.

Arroz - riqueza municipal - foto Robispierre Giuliani

Há 110 anos, o produto estava em ascensão. Grandes áreas cultivadas rendiam excepcionalmente, dando destaque a nomes como Neves, Torres & Cia. e André Kochemborger, com grandes lavouras de irrigação mecanizada junto ao arroio Irapuá; Dr. Arlindo Leal e Ernesto Pertille, junto ao rio Jacuí, e Nunes, Preussler & Cia., no Alto Ferreira.

Jorge Franke, João Jorge Krieger, Fidélis Prates, Roberto Danzmann, Eurípedes Mostardeiro, João Baptista Carlos e Dr. Balthazar de Bem, entre outros, já tinham feito investimentos na irrigação mecanizada de suas lavouras um ano antes, despertando o interesse de novos empreendedores.

Jorge Hugo Franke, pioneiro na irrigação artificial 


O jornal Rio Grande , edição de 8 de maio de 1908, traz a seguinte nota:

Colheita do arroz. Prosseguem com a maior actividade, em todo o municipio, os trabalhos da colheita de arroz. Infelizmente, pella secca a principio, ultimamente pela intensidade do frio, a producção vae ser muito inferior aos calculos feitos no começo da safra. A producção da colonia pode considerar-se completamente perdida.
E' provavel, no entanto, que a escassez do producto seja compensada pela elevação do preço, visto que a diminuição da colheita tem sido assignalada este anno em todo o Rio Grande do Sul, como nos estados do norte, segundo  informações da imprensa.

Chama a atenção a eterna preocupação com o preço do produto, o que a distância mais do que centenária não conseguiu mudar. Também é digno de nota o frio que já naquele princípio de maio de 1908 estava a causar prejuízos às lavouras, exatamente o contrário do que maio de 2018 tem mostrado.

2018 e 1908, apesar do hiato de tempo, no quesito arroz, guardam diferenças e similaridades que não se afetam apenas ao clima ou ao preço do produto no mercado. Em 110 anos, Cachoeira do Sul desceu alguns degraus no ranking, chegando em 2015 ao 10.º posto dentre os municípios com maior produção de arroz no Rio Grande do Sul. Mas "quem é rei nunca perde a majestade".

MR

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Casa da Aldeia: uma lenda urbana

Uma expressão que se tornou comum em nossos dias é a da "lenda urbana", ou seja, algo que costuma ser afirmado pelas pessoas como se verdade fosse, no entanto, paira sobre esta verdade um quê de interrogação!  Pois a afirmação inverídica de que a Casa da Aldeia é a mais antiga da cidade é, pode-se dizer, uma "lenda urbana". Longe de ser a construção mais antiga da cidade, posto ocupado pela Catedral Nossa Senhora da Conceição (1799), a Casa da Aldeia, que foi erguida pelo português Manoel Francisco Cardozo, marido da índia guarani Joaquina Maria de São José, é mais recente do que se supunha. Até pouco tempo, a época tida como da construção da casa era dada a partir do requerimento, datado de 18 de abril de 1849, em que Manoel Francisco Cardozo: querendo elle Suppl. Edeficar umas Cazas no lugar da Aldeia ecomo Alli seaxe huns terrenos devolutos na Rua de S. Carlos que faz frente ao Norte efundos ao Sul fazendo canto ao este com a rua principal cujo n

Hospital da Liga - uma obra para todos

Interessante recobrar a história de construção do Hospital da Liga Operária, o gigante do Bairro Barcelos, que se ergueu sob a batuta do maestro do operariado cachoeirense: o vereador José Nicolau Barbosa. E justamente agora que o município planeja desapropriá-lo para nele instalar o sonhado curso de medicina. José Nicolau Barbosa apresentando a obra do Hospital da Liga Operária - Acervo familiar O sonho do Nicolau, como ficou conhecido o empenho que aplicou sobre a obra, nunca chegou a se realizar, uma vez que a edificação não pôde ser usada como hospital. Ainda assim, sem as condições necessárias para atendimento das exigências médico-sanitárias, o prédio de três andares vem abrigando a Secretaria Municipal de Saúde. Mesmo desvirtuado de seu projetado uso original, mantém o vínculo com o almejado e necessário atendimento da saúde do trabalhador cachoeirense. O Jornal do Povo , edição de 1.º de março de 1964, traz uma entrevista com José Nicolau Barbosa, ocasião em que a reportagem do

Bagunça na 7

Em 1870, quando a moral e os bons costumes eram muito mais rígidos do que os tempos que correm e a convivência dos cidadãos com as mulheres ditas de vida fácil era muito pouco amistosa, duas delas, Rita e Juliâna, estavam a infernizar moradores da principal e mais importante artéria da Cidade da Cachoeira. Diante dos "abusos" e das reclamações, chegou ao subdelegado de polícia da época, Francisco Ribeiro da Foncêca, um comunicado da Câmara Municipal para que ele tomasse as necessárias providências para trazer de volta o sossego aos moradores. Rua 7 de Setembro no século XIX - fototeca Museu Municipal A solicitação da Câmara, assinada pelo presidente Bento Porto da Fontoura, um dos filhos do Comendador Antônio Vicente da Fontoura, consta de um encadernado do Fundo Câmara Municipal em que o secretário lançava o resumo das correspondências expedidas (CM/S/SE/RE-007), constituindo-se assim no registro do que foi despachado. Mais tarde, consolidou-se o sistema de emitir as corresp