Pular para o conteúdo principal

Contratos não cumpridos

Não é de hoje que a administração municipal amarga abandono de obras contratadas a quem descumpre cláusulas.

Um ofício do Intendente Annibal Loureiro, datado de 17 de novembro de 1921, dirigido ao presidente do Conselho Municipal (equivale hoje ao presidente da Câmara de Vereadores), concede informações sobre um requerimento de Francisco Biffano relativo à cobrança de valores por serviços executados no Bairro Rio Branco. A resposta do intendente demonstra que houve descumprimento de um contrato e infere que os contratados terceirizaram os serviços sem notificação para ajustamento de cláusulas. No final das contas, a municipalidade não teve a obra desejada levada a termo e nem o terceirizado o pagamento de seus supostos serviços...


17 de novembro de 1921
Illm.º Snr. Josè Carlos Barbosa.
D. D. Presidente do Conselho Municipal.

N. Cidade
Em resposta ao vosso officio n.º 5, de 8 do corrente, em o qual me solicitaes informações sobre o objecto do incluso requerimento de Francisco Biffano, cumpre-me informar-vos o seguinte: que, em 1913, não foi lavrado nenhum contracto com Pedro Sguersy e Josè Dotto, e sim em 14 de março de 1912, para execução de diversos serviços no Bairro Rio Branco, abertura de ruas e desvio do curso do arroio LAVA-PÉS;
que, iniciados os respectivos trabalhos, conforme consta nos livros daquela època, a Municipalidade effectuou diversos pagamentos aos contractantes, pelos serviços executados, e atè por adeantamento;
que os contractantes referidos abandonaram, em começo, os trabalhos, fugindo ao cumprimento de suas obrigações contractuaes;
que nesta Municipalidade não consta que Pedro Sguersy e Josè Dotto, tenham transferido o contracto firmado em 14 de março de 1912, a Francisco Biffano;
que, mesmo que a Municipalidade fosse devedora ao requerente, essa divida, contrahida em 1912, já estaria prescripta, ex-vi do Art.º 178, §10 n.º VI, do Codigo Civil Brazileiro;
que, nestas condições, são de todas inoperantes as affirmações do requerente.
Julgando ter attendido à vossa solicitação, finaliso reiterando-vos protestos de subido apreço e consideração.
Saude e fraternidade.
(ass.) Annibal Loureiro
Intendente Municipal


Ofício do Intendente Annibal Loureiro
- IM/CM/SE/CR-Caixa 9

De fato a Intendência Municipal celebrou um contrato com Pedro Sguerzi e José Dotto em 14 de março de 1912. As partes previram a execução pelos contratados das obras necessarias a abertura de ruas e prolongamento de outras, construcção de paredões de pedra, desvio do curso do arroio "Amorim" digo "Lavapés", e atulhamento da sanga do mesmo nome, tudo de accordo com o edital de concurrencia publicado no jornal "Rio Grande", desta cidade, (...).

A cláusula referente ao pagamento, a quarta, dizia: O pagamento dos serviços executados será effectuado mensalmente, conforme medição que se procederá no inicio de cada mez, ficando, porem, retidos 10% das importancias mensaes, como caução, para garantia do contracto, caução essa que será restituida aos empreiteiros após a medição final e depois de approvados e recebidos definitivamente todos os serviços executados.




Contrato celebrado entre Pedro Sguerzi e José Dotto - 14-3-1912
- IM/GI/AB/C-001, fls. 77v a 78v

Como se vê, desde muito os problemas rondam a contratação e a execução das obras públicas.

MR

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Casa da Aldeia: uma lenda urbana

Uma expressão que se tornou comum em nossos dias é a da "lenda urbana", ou seja, algo que costuma ser afirmado pelas pessoas como se verdade fosse, no entanto, paira sobre esta verdade um quê de interrogação!  Pois a afirmação inverídica de que a Casa da Aldeia é a mais antiga da cidade é, pode-se dizer, uma "lenda urbana". Longe de ser a construção mais antiga da cidade, posto ocupado pela Catedral Nossa Senhora da Conceição (1799), a Casa da Aldeia, que foi erguida pelo português Manoel Francisco Cardozo, marido da índia guarani Joaquina Maria de São José, é mais recente do que se supunha. Até pouco tempo, a época tida como da construção da casa era dada a partir do requerimento, datado de 18 de abril de 1849, em que Manoel Francisco Cardozo: querendo elle Suppl. Edeficar umas Cazas no lugar da Aldeia ecomo Alli seaxe huns terrenos devolutos na Rua de S. Carlos que faz frente ao Norte efundos ao Sul fazendo canto ao este com a rua principal cujo n...

Instituto Estadual de Educação João Neves da Fontoura - 90 anos

O mês de maio de 2019 está marcado por um momento significativo na história da educação de Cachoeira do Sul. No dia 22, o Instituto Estadual de Educação João Neves da Fontoura chegou aos seus 90 anos carregando, neste transcurso de tempo, desafios, dificuldades e conquistas. Muitas crianças e jovens passaram por seus bancos escolares, assim como professores e servidores dedicados à desafiadora tarefa educativa. A história do João Neves, como popularmente é chamado aquele importante educandário, tem vínculos enormes com seu patrono. Em 1929, quando a instituição foi criada com o nome de Escola Complementar, o Dr. João Neves da Fontoura era vice-presidente do estado e há pouco havia concluído uma gestão de grandes obras como intendente de Cachoeira.  Em 1927, ano em que Borges de Medeiros resolveu criar escolas complementares no estado para a formação de alunos-mestres, imediatamente João Neves empenhou-se para que uma destas escolas fosse instalada em Cachoeira, município p...

Chuvas ameaçam isolar a cidade de importantes centros do estado

"Chuvas ameaçam isolar a cidade de importantes centros do estado". Apesar da similaridade do que tem ocorrido pouco mais de ano depois da grande enchente de maio de 2024, a manchete é de notícia veiculada pelo Jornal do Povo em junho de 1961! Naquele tempo, a Ponte do Fandango tinha poucos meses de trânsito oficialmente aberto, mas já causava preocupação a possibilidade de não haver acesso através dela em razão das chuvas. Ponte do Fandango - Coleção Claiton Nazar Vejamos o que diz a matéria veiculada no dia 25 de junho de 1961, primeira página do Jornal do Povo : Chuvas Ameaçam Isolar a Cidade de Importantes Centros do Estado Cachoeira do Sul vive na iminência de ficar isolada das demais localidades, cujo acesso é feito pela Ponte do Fandango. Basta uma pequena enchente e êsse isolacionismo a que nos referimos estará decretado, uma vez que não mais nos poderemos servir da ponte do Fandango. Isto porque as duas estradas que a ela dão acesso estarão interditadas. Uma delas (a ...