Pular para o conteúdo principal

Confusão no Cinema!

Os cinemas eram atrações para lá de especiais no começo do século XX. Cachoeira, desde o Teatro Municipal, situado nas proximidades da Praça da Igreja (atual Praça Dr. Balthazar de Bem), já oferecia exibições em 1901 com os antigos cinematógrafos, anos-luz distantes do que se entende por cinema agora, mas não menos atrativos e interessantes.

Teatro Municipal - Fototeca do Museu Municipal

Dentre as casas de cinema de Cachoeira, uma teve destaque e durabilidade: o Cinema Coliseu Cachoeirense, fundado pelos irmãos Pohlmann, em 1910, com o nome de Cinema Popular. Adquirido em 1912 por Manoel Costa Júnior, trocou o nome para Coliseu Cachoeirense e, nos primeiros dias de maio de 1919, a programação de fitas escolhidas para exibição não agradou muito os frequentadores. Assim relatou o jornal O Commercio de 7 de maio de 1919:

Cinema Coliseu Cachoeirense - Grande Álbum de Cachoeira, de Benjamin Camozato (1922)

Coliseu Cachoeirense. - Durante as noites de quarta, quinta e sexta-feira da semana finda realizaram-se funcções cinematographicas neste centro de diversões, da empreza Costa Junior, sendo, nesta ultima noite, terminada exhibição da fita policial Judex.
- A' noite de sabbado foi projectada na tela a fita dramatica Pró Veritas.
Domingo, com casa cheia, a empreza focou duas fitas comicas e uma dramatica.
Ao ser focada a quarta parte da fita dramatica Duas vezes repellida, começou o protesto dos espectadores contra as fitas pouco atrahentes dessa noite.
Pés e bengalas a baterem no assoalho, assobios e gritos de fóra! fóra! formavam um ruido "de ensurdecer um surdo", abafando os sons da orchestra, que teve de parar ante a barulhada infernal.
Uma grande parte dos espectadores retirou-se ás 9 1/2 uns como protesto contra a fita, outros por não poderem mais supportar o ruido.
Tentando contentar o povo, o encarregado da empreza projectou outras fitas na tela, sendo afinal impedido de continuar a funcção por terem alguns espectadores tapado uma parte do panno respectivo.
Outros ainda apedrejaram, depois de sahirem, o telhado do Coliseu, emquanto alguns, lá dentro, inutilisaram algumas poltronas.
Afinal, para aquietar o povo, o encarregado da empreza prometteu realizar, em breve, um espectaculo gratuito.
O sr. Costa Junior, que achava-se na capital, dirigiu um phonogramma que foi impresso em avulsos e distribuido hontem nesta cidade, e o qual era concebido nos termos seguintes:
"Distincto e querido povo. Profundamente sentido com o desagrado que causou espectaculo hontem, peço-vos desculpar-me. Sempre impuz ás agencias fornecedoras fitas extras, porém infelizmente ausente, tudo é sempre assim. Diante disso darei proximamente funcção gratis, contentando-vos; urgentemente seguirei amanhã assumir direcção technica saudoso Coliseu que a vós tudo deve." Saudações.
Costa Junior
Porto Alegre, 5 de Maio de 1919.

Como se vê, Manoel Costa Júnior, um dos proprietários do Cinema Coliseu Cachoeirense, deu logo um jeito de acalmar e reconquistar a clientela com uma antiga máxima: "Cliente sempre tem razão." E convenhamos, Duas vezes repellida,  o título de uma das fitas repudiadas, de uma certa forma, já anunciava o desfecho da situação!

MR

Comentários

  1. Quando passou o filme O Exorcista, foi uma confusão. É que a Igreja Católica tinha entrado com uma liminar pra que o filme não passasse em lugar nenhum e, justamente nesta época, foi passar em Cachoeira. Deu até Polícia.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Casa da Aldeia: uma lenda urbana

Uma expressão que se tornou comum em nossos dias é a da "lenda urbana", ou seja, algo que costuma ser afirmado pelas pessoas como se verdade fosse, no entanto, paira sobre esta verdade um quê de interrogação!  Pois a afirmação inverídica de que a Casa da Aldeia é a mais antiga da cidade é, pode-se dizer, uma "lenda urbana". Longe de ser a construção mais antiga da cidade, posto ocupado pela Catedral Nossa Senhora da Conceição (1799), a Casa da Aldeia, que foi erguida pelo português Manoel Francisco Cardozo, marido da índia guarani Joaquina Maria de São José, é mais recente do que se supunha. Até pouco tempo, a época tida como da construção da casa era dada a partir do requerimento, datado de 18 de abril de 1849, em que Manoel Francisco Cardozo: querendo elle Suppl. Edeficar umas Cazas no lugar da Aldeia ecomo Alli seaxe huns terrenos devolutos na Rua de S. Carlos que faz frente ao Norte efundos ao Sul fazendo canto ao este com a rua principal cujo n...

Instituto Estadual de Educação João Neves da Fontoura - 90 anos

O mês de maio de 2019 está marcado por um momento significativo na história da educação de Cachoeira do Sul. No dia 22, o Instituto Estadual de Educação João Neves da Fontoura chegou aos seus 90 anos carregando, neste transcurso de tempo, desafios, dificuldades e conquistas. Muitas crianças e jovens passaram por seus bancos escolares, assim como professores e servidores dedicados à desafiadora tarefa educativa. A história do João Neves, como popularmente é chamado aquele importante educandário, tem vínculos enormes com seu patrono. Em 1929, quando a instituição foi criada com o nome de Escola Complementar, o Dr. João Neves da Fontoura era vice-presidente do estado e há pouco havia concluído uma gestão de grandes obras como intendente de Cachoeira.  Em 1927, ano em que Borges de Medeiros resolveu criar escolas complementares no estado para a formação de alunos-mestres, imediatamente João Neves empenhou-se para que uma destas escolas fosse instalada em Cachoeira, município p...

Série Documentos da Imigração Italiana em Cachoeira: o médico italiano Silvio Scopel

Um dos médicos que mais marcou a história da medicina em Cachoeira do Sul, certamente, foi o italiano Dr. Silvio Scopel que aqui reconstruiu sua vida e viveu por 38 anos. Silvio  Giovanni Giacomo Scopel nasceu em 7 de fevereiro de 1879, na província de Belluno, filho de Giovanni Scopel e Teresa Cricco Scopel. Formou-se médico em 1901, pela Universidade de Pádua, atuando como médico cirurgião e parteiro em diferentes cidades italianas. Em 1906, casou com Margherita Dal Mas, não tendo descendência desta união. O casamento não durou muito, pois Margherita faleceu, causando profunda tristeza no jovem médico. Tal estado de ânimo o fez optar por, na companhia de um colega e amigo, também médico, Dr. Alvise Dal Vesco (também aparece Dalvesco), vir para o Brasil. Sua chegada em Cachoeira se deu no ano de 1912, oferecendo os dois médicos os seus serviços, inicialmente prestados nas farmácias Popular e Nova, na Rua 7 de Setembro. Dr. Silvio Giovanni Giacomo Scopel - MMEL Propaganda do D...