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Gafanhotos!

As últimas notícias que dão conta de uma imensa nuvem de gafanhotos que se aproxima do Rio Grande do Sul tem posto em alvoroço as autoridades e a população. Em época de pandemia e de economia combalida, tudo o que não poderia acontecer é uma destruição massiva das culturas que estão em nossos campos.

Nuvens de gafanhotos não são acontecimentos inéditos, embora menos comuns nos dias de hoje. Há relatos nos jornais e documentação no Arquivo sobre sucessivos ataques e os meios utilizados para conter a sanha destrutiva destes insetos.

O Comércio de 23 de setembro de 1906, em sua primeira página, traz a seguinte notícia:

Jornal O Commercio, 26/9/1906, p. 1

Extincção dos gafanhotos
Por intermedio das intendencias municipaes, a Estação Agronomica do Estado tem distribuido um folheto em portuguez, italiano e allemão, contendo instrucções sobre a extincção dos gafanhotos, as quaes se reduzem ao seguinte:
Desova. - Na época da desova convém espantar os gafanhotos, afim de que se reunam, possivelmente, em logares sem vegetação, accessiveis ao trabalho do arado.
Todo e qualquer sitio, onde ha desova, deve ser assignalado com estacas ou marcos.
Para destruir os ovos depostos, empregam-se varios meios, o melhor, porém consiste, quando as condições do terreno o permittem, de lavrar com um bom arado a terra, a uma profundidade de 15 cms, pelo menos. O arado Sack presta-se perfeitamente a esse fim.
Em terras nas quaes não é possivel applicar-se o arado, este serviço se faz com a pá, virando completamente a leiva, na profundidade acima indicada.
Tambem se aconselha o pisoteio com animaes cavallares.
A incubação dura de accordo com a temperatura da estação: assim pode-se admittir que os ovos postos no mez de agosto levam 50 dias para incubar; os que forem postos em setembro, 45 dias; em outubro, 40 dias; em novembro, 30 dias; e em dezembro e janeiro, 20 a 25 dias.
A destruição do ovo é de uma importancia extrema, pois, ás vezes, num metro quadrado de superficie, existem depostos cerca de cem mil ovos de gafanhotos.
Extincção dos saltões. - Do ovo nasce um insecto se azas que na primeira idade toma o nome de saltão.
O saltão para criar azas emprega de 45 a 50 dias.
A vida do saltão se divide em tres periodos.
No primeiro periodo o insecto come pouco e sempre se agrupa em montões. Esse periodo dura oito dias, até o gafanhoto effectuar a 1.ª muda. Nesse estado extingue-se com o pisoteio, com insecticidas, com o fogo, com o reviramento da terra e com outros meios rudimentares, que estiverem ao alcance da gente. 
No segundo periodo, que dura até o insecto completar a 2.ª muda, que de ordinario se dá 20 dias depois de ter nascido, para destruil-o applicam-se pela manhã e pela tarde os processos que se empregam no primeiro periodo. Nos logares incultos, porém, aconselha-se empregar as barreiras e os vallos que se adoptam no terceiro periodo.
Este terceiro periodo dura até o gafanhoto criar azas, isto é, 25 a 30 dias depois da segunda muda. Durante esse tempo, o gafanhoto come com uma voracidade espantosa, marcha em grandes bandos e produz os maiores prejuizos.
Afóra outros meios de extincção, recommenda-se, como o mais vantajoso, o emprego das barreiras articuladas metalicas e os vallos.
As barreiras metalicas são folhas de ferro ou zinco, da altura de 35 cms, reunidas entre si com ganchos.
Estas barreiras, collocadas de pé, não permittem que o saltão passe d'um logar para outro; ellas aliás servem para levar os insectos a fossos escavados de antemão, onde, cahindo, são em seguida enterrados. Estes fossos ordinariamente têm 1 metro de largura, 1 a 1,m50 de profundidade e 2 a 4 metros de comprimento.
O gafanhoto voador. - O gafanhoto voador extingue-se com o fogo e com outros meios mais praticos que vêm á mão. Quando apparece em bandos, para impedir que pouse nas lavouras, fazem-se fogueiras com macega, galhos verdes, capim, procurando fazer muita fumaça, de modo que o vento a leve em direcção ás lavouras que se deseja preservar da invasão do gafanhoto. E' muito conveniente, n'um caso destes, lançar sobre a fogueira enxofre: a fumaça que se desprende afugenta o insecto até onde ella chega.

Gafanhoto - http://denizdalgasi.blogcu.com/kaplanla-cekirge/258253

Nos dias que correm, apesar dos recursos destrutivos de variados produtos químicos, a natureza massacrada pelo homem ainda é capaz de provocar surpresas assustadoras como esta da invasão de uma grande nuvem de gafanhotos, nascidos pelas condições favoráveis do descontrole climático e da falta de predadores.

MR

Comentários

  1. Por favor, Mirian, fale mais sobre os gafanhotos que estiveram aqui, na década de 40...

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  2. Lisara, assim que der o farei.
    Abraço.

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