Pular para o conteúdo principal

O 13 de Maio

Neste 13 de maio, quando transcorrem 134 anos da assinatura da Lei Áurea pela Princesa Isabel, extinguindo legalmente a escravidão no Brasil, buscamos descobrir como a Cidade da Cachoeira recebeu a notícia. Como não existem atas das sessões desse período histórico, graças à anotação do historiador Aurélio Porto num livro da Seção de Estatística e Arquivo (IM/EA/SA/RL-001, fls. 10 e 10v), organizado por ele enquanto Secretário da Intendência, é que se torna possível reviver o que foi feito.

14 de Maio. Rendendo homenagens à data da extincção da escravidão no Brasil, a Camara reune-se em sessão solemne, determinando o seguinte: 1.º Lavrar acta especial sobre o advento da Liberdade; 2.º Iluminar por tres dias a fachada do edificio da Camara; 3.º Telegraphar a José do Patrocinio, o batalhador dessa crusada; 4.º Felicitar o Gabinete de 10 de Março*.

Abolicionista José do Patrocínio
- Academia Brasileira de Letras


Edifício da Câmara, que foi iluminado por três noites
para celebrar a Abolição da Escravatura - Fototeca Museu Municipal


José Carlos do Patrocínio foi farmacêutico, jornalista, orador, poeta e romancista que teve papel fundamental para que a abolição da escravatura acontecesse. Filho natural do Padre João Carlos Monteiro e da quitandeira Justina, José do Patrocínio viveu na fazendo do pai, onde desde criança assistiu ao tratamento dispensado aos escravos, repudiando o sistema escravista com veemência. A partir de 1879, quando escrevia para a Gazeta de Notícias, do Rio de Janeiro, passou a defender a abolição. Suas colunas naquele e em outros jornais em que escreveu, rapidamente ganharam outros adeptos, sendo ele considerado uma das figuras mais importantes desse momento histórico. Foi José do Patrocínio um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras.

O conteúdo do telegrama que foi remetido para José do Patrocínio chegou aos nossos dias graças a um encadernado que contém o registro das correspondências expedidas pela Câmara (CM/S/SE/RE-011, fls. 56v e 57):

Telegramma
Cachoeira 14 de Maio de 1888
José Carlos do Patrocinio = Rio de Janeiro
A Camara Municipal da Cidade da Cachoeira no Rio Grande do Sul, em sessão extraordinaria, resolveu unanimemente felicitar a VªS.ª como o mais glorioso e emerito propugnador da libertação dos captivos, pela aurea lei que extingue a escravidão em nossa Patria. = assignados = 
Francisco Gomes Porto, Crescencio da Silva Santos, João Jorge Krieger, Cincinato de Sampaio Ribeiro, Antonio Nelson da Cunha, Josino Outubrino de Lima


Telegrama remetido pela Câmara de Cachoeira a José do Patrocínio - CM/S/SE/RE-011

*Gabinete João Alfredo: ministério formado pelo Partido Conservador em 10 de março de 1888 e dissolvido em 7 de junho de 1889. Foi chefiado por João Alfredo Correia de Oliveira, político abolicionista e monarquista que esteve ligado à formulação da Lei do Ventre Livre e da Lei Áurea.

MR

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Casa da Aldeia: uma lenda urbana

Uma expressão que se tornou comum em nossos dias é a da "lenda urbana", ou seja, algo que costuma ser afirmado pelas pessoas como se verdade fosse, no entanto, paira sobre esta verdade um quê de interrogação!  Pois a afirmação inverídica de que a Casa da Aldeia é a mais antiga da cidade é, pode-se dizer, uma "lenda urbana". Longe de ser a construção mais antiga da cidade, posto ocupado pela Catedral Nossa Senhora da Conceição (1799), a Casa da Aldeia, que foi erguida pelo português Manoel Francisco Cardozo, marido da índia guarani Joaquina Maria de São José, é mais recente do que se supunha. Até pouco tempo, a época tida como da construção da casa era dada a partir do requerimento, datado de 18 de abril de 1849, em que Manoel Francisco Cardozo: querendo elle Suppl. Edeficar umas Cazas no lugar da Aldeia ecomo Alli seaxe huns terrenos devolutos na Rua de S. Carlos que faz frente ao Norte efundos ao Sul fazendo canto ao este com a rua principal cujo n...

Instituto Estadual de Educação João Neves da Fontoura - 90 anos

O mês de maio de 2019 está marcado por um momento significativo na história da educação de Cachoeira do Sul. No dia 22, o Instituto Estadual de Educação João Neves da Fontoura chegou aos seus 90 anos carregando, neste transcurso de tempo, desafios, dificuldades e conquistas. Muitas crianças e jovens passaram por seus bancos escolares, assim como professores e servidores dedicados à desafiadora tarefa educativa. A história do João Neves, como popularmente é chamado aquele importante educandário, tem vínculos enormes com seu patrono. Em 1929, quando a instituição foi criada com o nome de Escola Complementar, o Dr. João Neves da Fontoura era vice-presidente do estado e há pouco havia concluído uma gestão de grandes obras como intendente de Cachoeira.  Em 1927, ano em que Borges de Medeiros resolveu criar escolas complementares no estado para a formação de alunos-mestres, imediatamente João Neves empenhou-se para que uma destas escolas fosse instalada em Cachoeira, município p...

Série Documentos da Imigração Italiana em Cachoeira: o médico italiano Silvio Scopel

Um dos médicos que mais marcou a história da medicina em Cachoeira do Sul, certamente, foi o italiano Dr. Silvio Scopel que aqui reconstruiu sua vida e viveu por 38 anos. Silvio  Giovanni Giacomo Scopel nasceu em 7 de fevereiro de 1879, na província de Belluno, filho de Giovanni Scopel e Teresa Cricco Scopel. Formou-se médico em 1901, pela Universidade de Pádua, atuando como médico cirurgião e parteiro em diferentes cidades italianas. Em 1906, casou com Margherita Dal Mas, não tendo descendência desta união. O casamento não durou muito, pois Margherita faleceu, causando profunda tristeza no jovem médico. Tal estado de ânimo o fez optar por, na companhia de um colega e amigo, também médico, Dr. Alvise Dal Vesco (também aparece Dalvesco), vir para o Brasil. Sua chegada em Cachoeira se deu no ano de 1912, oferecendo os dois médicos os seus serviços, inicialmente prestados nas farmácias Popular e Nova, na Rua 7 de Setembro. Dr. Silvio Giovanni Giacomo Scopel - MMEL Propaganda do D...