Cachoeira, no ano de 1896, mostrava-se uma cidade em crescimento, embora carecesse de muitas melhorias. A paisagem urbana era marcada pela Igreja Matriz e não longe dela, o prédio do Império do Divino Espírito Santo, que congregava os fieis em festas religiosas, quermesses e eventos beneficentes. Defronte, o sobrado da Casa de Câmara, Júri e Cadeia, ladeado pelo Teatro Cachoeirense, o primeiro da Cachoeira e do Rio Grande do Sul.
O lugar tomava o nome popular de Praça da Igreja*, da Matriz, ou da Conceição, em alusão à padroeira da cidade. Era um amplo terreno, livre de qualquer obra que induzisse à ideia atual de praça. Invariavelmente, era um passadouro de pessoas e animais.
Em 1852, o construtor português José Ferreira Neves havia feito o nivelamento da praça, sendo a terra que dali foi retirada ocupada para aterrar as sangas da Micaela e Lava-pés.
No mês de janeiro de 1890, o delegado de polícia em exercício, Olympio Coelho Leal, recebeu um ofício dos integrantes da junta governativa do município dizendo que se achavam expostos no terreno da Praça da Conceição uma grande quantidade de ossos humanos, resquício de um antigo cemitério existente no local. O quadro bizarro, que certamente incomodava as pessoas pela repugnância e falta de respeito que causava, levou as autoridades municipais a solicitarem ao delegado de polícia a utilização dos presos da cadeia para a remoção da ossamenta.
Quanto às obras de 1896, por carência de documentação do período - perdida ou suprimida dos arquivos municipais - não há fontes que esclareçam exatamente como foram procedidas nem o propósito que tinham. O fato é que restaram desse momento histórico um conjunto de documentos que aludem e comprovam as obras, sem no entanto esclarecê-las. O primeiro deles, datado de 31 de julho de 1896, é um recibo assinado por Antonio Simões, no valor de 3.700.000 réis, pelo serviço de calçamento na Praça da Conceição.
- 3700:000
Recebi da Intendencia municipal a quantia de treis contos e setesentos mil reis por conta do calçamento feito na praça da conceição
Cachoeira 31 de Julho de 96.
Antonio Simões
Pague se Julho 31 - 96
David Barcellos
Intendente
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| Recibo do serviço de calçamento na Praça da Conceição - 31/7/1896 - IM/RP/SF/DD - Caixa 13 |
Outro documento, de 22 de agosto de 1896, dirigido ao intendente municipal, David Soares de Barcellos, solicita informações sobre reclamação que as Irmandades Conjuntas do Santíssimo Sacramento e Nossa Senhora da Conceição fizeram à autoridade estadual pela contrariedade com a ordem que a Intendência emitira para demolição do adro em frente á igreja matriz dessa cidade.
Estado do Rio Grande do Sul.
Secretaria de Estado dos Negocios do Interior e Exterior
Porto Alegre, 22 de Agosto de 1896
Ao Sr. Intendente Municipal da Cachoeira:
Solicito de vós informação sobre a reclamação junta dirigida ao Sr. Bispo da Dioceses pelas Irmandades Conjunctas de S. S. Sacramento e N. S. da Conceição, contra a deliberação dessa Intendencia de mandar demolir o adro em frente á igreja matriz dessa cidade.
Saude e fraternidade
-Dr. João Abbott
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| Ofício encaminhado ao intendente cobrando explicações sobre a pretendida demolição do adro em frente à Igreja Matriz - 22/8/1896 - IM/S/SE/OR - Caixa 10 |
E, por último, há uma nota que registra o ponto do pessoal que trabalhou às custas da Intendência na reconstrução do Adro da escavação da rua.
Nota do ponto do pessoal que trabalha por conta da Intendencia na reconstrução do Adro da escavação da rua
Antonio Simões 2 dias 10:000
João Pereira 3 3/4 dias 7:500
Jovencio Vieira 4 dias 8:000
Pacifico Pereira 3 3/4 dia 6:500
Heleno Lopes 2 dia 4:000
Bento Martins 4 1/4 dias 8:500
Francisco Fagundes 3 dias 6:000
Vicente da Trindade 2 dias 4:000
Soma 54:500
Recebi da Intendencia municipal a conta acima
Cachoeira 3 de Outubro de 96
Antonio Simões
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| Custas com o pessoal que trabalhou na reconstrução do adro - 3/10/1896 - IM/RP/SF/DD - Caixa 13 |



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