Em 1856, o Dr. Luiz Alves Leite de Oliveira Bello percorreu o território do Rio Grande do Sul, passando por Cachoeira. Além de descrever o que viu depois de um passeio que fez pela vila logo depois do almoço, admirando-se com a Igreja Matriz e o prédio do Império do Divino Espírito Santo, fez outras interessantes observações.
Ao se referir ao estado geral da Vila Nova de São João da Cachoeira, escreveu em seu diário de viagem: Esta vila está muito bem situada à margem esquerda do majestoso Jacuí, sobre uma planície elevada e ligeiramente inclinada. Não tem bons edifícios, mas é populosa; tem muito comércio para a serra do mesmo município e para Santa Maria, São Martinho e Cruz Alta. Sem contestação, é a Vila da Cachoeira uma das povoações mais bonitas da Província. Suas ruas são largas e cortadas em ângulos retos. O porto sobre o Jacuí é profundo e cômodo. Se as cachoeiras que há neste rio da cidade do Rio Pardo para cima não embaraçassem a navegação nos tempos da seca, seria a Vila da Cachoeira e não esta cidade o principal empório do comércio da capital com o interior da Província.
Como se vê pelas palavras do ilustre viajante, registradas no livro "Cachoeira do Sul em busca de sua história", de Angela Schumacher Schuh e Ione Maria Sanmartin Carlos (1991), as cachoeiras que existiam no Jacuí eram barreiras à plena navegação. Esta questão por muitas vezes foi levantada pelos vereadores como uma das obras importantes para alavancar o progresso da vila, quando questionados pelas autoridades provinciais sobre as maiores necessidades do lugar.
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Uma das cachoeiras do Jacuí - MMEL |
Aurélio Porto citou, ao fazer uma síntese da documentação existente nos arquivos da antiga Câmara Municipal, que em 12 de julho de 1862 os vereadores informaram ao governo que havia voltado à capital o capitão de fragata Francisco Candido de Castro Menezes que viera a esta cidade fazer um estudo relativo às cachoeiras do rio Jacuhy, o qual não foi levado a effeito devido à estação chuvosa e consequentes cheias o ter impedido. (IM/EA/SA/RL-001, fl. 6v).
Antecedendo isto, há o registro de um ofício expedido pela Câmara ao Desembargador Francisco d'Assis Pereira Rocha, presidente da Província, em que está expresso:
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CM/S/SE/RE-002, fls. 277 e 278 |
Illm.º Exm.º Senr. - Sendo uma das mais urgentes necessidades deste Municipio o melhoramento e abertura das cachoeiras que existem entre esta e a cidade de Rio Pardo, afim de que se torne franca a navegação que conduz o commercio não só para este Municipio como para toda a campanha, tem sido tambem um dos primeiros cuidados desta Camara o reclamar em todos os seos relatorios medidas que tendão a melhorar este estado precario de sua navegação e commercio.
Infelizmente porem não tem podido nunca indicar os meios de remover aquelles obstaculos pela falta que tem tido de pessoas habilitadas para isso - Mas constando-lhe agora que se acha na Provincia e às ordens de V. Ex.ª um Engenheiro Hydraulico com os conhecimentos e pratica necessarios para poder com acerto disignar a obra que tem de fazer-se nas referidas cachoeiras, e confiada na sollicitude com que VEx.ª tem attendido a todas as necessidades materiaes da Provincia, e a bondade com que se presta a ouvir todas as reclamaçoens que se lhe fazem sobre taes objectos, resolveo pedir a V. Ex.ª, que tomando na devida consideração o que fica exposto, se digne mandar o citado Engenheiro examinar as ditas cachoeiras, e indicar as obras que nellas se devem fazer, tirando a competente planta e orçamento, afim de que esta Camara com os dados que lhe forem fornecidos a respeito, possa pedir a Assemblea Provincial os meios de occorrer [sic] a esta necessidade. D.s G.e a VEx.ª. Paço da Camara Municipal da cidade da Cachoeira 4 de Junho de 1862. Illmº e Exmº Sr. Dezembargador Fran.co Perª da S.ª. Ferminiano Per.ª Soares - Joze Custodio Coelho Leal - Felisbino Ign.co Soares - Antonio Gomes Per.ª João Jozé Rodrigues. -
O resultado das tentativas de remoção das cachoeiras foi nulo. Na década de 1950, quando tiveram início as obras da Barragem-Ponte do Fandango, a primeira providência foi dinamitar a parte do rio em que existia a Cachoeira do Fandango. Sobre ela foi erguida a monumental ponte, restando à navegação constituir-se em parte sepultada da história.
MR
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