A educação no Rio Grande do Sul foi das mais tardias no Brasil. As longas lutas pelo estabelecimento de fronteiras que os riograndenses enfrentaram, relegaram a segundo plano investimentos em infraestrutura e principalmente em educação.
Em Cachoeira, a instituição da primeira aula pública data de 1821, mas o funcionamento efetivo ainda demoraria alguns anos.
A Câmara Municipal da Vila Nova de São João da Cachoeira nomeava regularmente comissões para inspecionar o andamento de serviços, dentre estes, a instrução pública.
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CM/Grupo 2: Comissões/ Série A: Inspeção e Melhoramentos/Subsérie 2: Pareceres |
Em 1833, a inspeção da comissão revelou que a Vila estava provida de uma aula de primeiras letras pelo método lencastriano, exercida pelo professor Manoel Alves Ribeiro, com 63 alunos, e número maior não podia atender devido às condições da casa onde funcionava. Apesar do professor cumprir com seus encargos, a comissão apontou a necessidade de uma "escola de gramática da Língua Nacional", ressaltando que o salário que lhe era pago, de 450.000 réis, deveria ser aumentado para 600.000, "não só porque aquele ordenado é diminuto na proporção de comodidades da vida, como a decência de seu exercício, e ainda mais por se achar onerado ao pagamento das casas cuja despesa deve ser suprida pela Fazenda Pública."
Outro documento produzido pela inspeção, datado de 10 de abril de 1878, dá uma excelente visão do andamento das lições ministradas aos alunos, então divididos em duas aulas públicas: uma do sexo masculino e outra do sexo feminino.
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Câmara Municipal/Grupo 2: Comissões/ Série A: Inspeção e Melhoramentos/Subsérie 2: Pareceres |
A aula pública do sexo masculino era regida pelo professor José Affonso Taborda e, no dia da inspeção, contava com 56 alunos, sendo 14 faltantes. A aula foi encontrada em ordem, sendo porém a sala bastante acanhada para o número de alunos e sem o necessário asseio "devido ao estado ruinoso da casa". O professor estava à procura de outra casa que melhor pudesse acomodar a aula. Dentre as carências, a comissão apontou a falta de papel para escrever. Nas matérias desenvolvidas, notou adiantamento dos alunos em doutrina, leitura em prosa e verso e aritmética. Em escrita, análise gramatical e geografia os alunos demonstraram atraso.
A aula pública do sexo feminino era regida pela professora D. Maria Luiza e ocupava uma sala com boas acomodações. A comissão assistiu à lição, observando que as alunas estavam adiantadas em escrituração, geografia da Província e leitura de verso, e pouco atrasadas em aritmética, análise gramatical e leitura de prosa, sendo que nesta "deixaram de ler com a virgulação necessária."
Como se depreende dos documentos encontrados, a escola pública há muito enfrenta problemas da mesma natureza, confirmando que o professor, mesmo desvalorizado, é o grande herói desta história.
Parabéns, professor, pelo transcurso de seu dia!
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