Pular para o conteúdo principal

Placas de ruas - 1880

Quando andamos pelas ruas da cidade, facilmente percebemos nas paredes das casas, sejam elas residenciais ou comerciais, placas esmaltadas na cor azul indicando o nome da rua em que estamos. Muitas destas placas estão afixadas ali há décadas, cumprindo seu papel de orientar as pessoas no espaço urbano.

Em 30 de dezembro de 1880, a Câmara de Cachoeira firmou um contrato para confecção de placas metálicas, de nomenclatura de ruas e numeração de casas com Manoel Theodozio Gonsalves. 

O contrato traz o seguinte teor:
Aos trinta dias do mez de Dezembro do anno de mil oitocentos e oitenta no Paço da Camara Municipal d'esta Cidade da Caxoeira, depois de ter sido deliberado em sessão da mesma n'esta dacta, compareceu o Cidadão Constantino José de Barcellos como bastante procurador de Manoel Theodozio Gonsalves, cujos poderes exibio e ficão archivados na Municipalidade, com o qual foi cellebrado o contracto de collocação de placas metalicas com nomenclatura das ruas e numeração das casas d'esta Cidade, pela forma e condições ao diante exaradas:
1.ª
Manoel Theodozio Gonsalves, por seu procurador, obriga-se a fornecer e collocar em seus respectivos lugares 650 (seis centas e cincoenta) placas metalicas com a numeração das casas; e cento e quarenta (140) com a nomenclatura das ruas d'esta Cidade; aquellas ao preço de mil e sete centos reis (1.700) cada uma e estas á cinco mil reis, ambas com letras em alto relêvo em metal fundido; as primeiras com desenove centimetros de comprimento sobre dose de largura, e as ultimas (de nomenclatura) com quarenta e quatro centimetros de comprimento sobre trinta e dous e meio de largura; tanto umas como outras de cor azul e letras brancas.

Placa da Rua Antonio Gomes Pereira 

Atente o leitor para o cuidado com que os negócios públicos eram tratados pelas autoridades daquela época, detalhe que fica explícito na interessantíssima cláusula 2.ª, qual seja o da espécie de caução feita pelo fabricante das placas à municipalidade, valor que teria direito a reembolsar caso o serviço provasse ser bem feito, resistindo aos caprichos do tempo! E hoje, transcorridos 134 anos, quem duvida que muitas das placas esmaltadas azuis que ainda vemos por aí não foram as confeccionadas pelo Sr. Manoel Theodozio Gonsalves? 
2.ª
No acto de receber da Camara, a importancia das placas, depois d'ellas collocadas, deixará o mesmo Manoel Theodoro [sic] Gonsalves ou seu procurador, depositada nos cofres municipaes pelo espaço de cinco annos, uma letra afiançada por pessoa idonea, representando o valor de trinta por cento sobre a importancia total das chapas que forem collocadas; cuja letra ser-lhe-ha restituida si, no espaço dos cinco annos verificar-se que as chapas collocadas, não sofrerão alteração sensivel com a acção do tempo; sendo porem em caso contrario, obrigado a saptisfazer aos cofres municipaes a importancia da referida letra.

As cláusulas terceira e quarta referem-se às obrigações da Municipalidade com o contratado e a satisfação do pagamento ao final do trabalho de colocação de todas as placas. Terminada a lavratura do contrato, seguem as assinaturas da contratante Câmara Municipal, firmada pelo Presidente João Thomaz de Menezes, pelo procurador do contratado, Major Constantino José de Barcellos, e pelo Secretário da Câmara, Manoel Teixeira Cavalheiro.

Há também o interessante espaço denominado Memorial de Logradouros, no Museu Municipal, acima retratado, que reúne várias placas de ruas e praças da cidade, dentre as quais, possivelmente, há algumas oriundas do contrato que está muito bem conservado no acervo do Arquivo Histórico, no livro CM/OF/TA-007, páginas 6v. a 7v.

Memorial de Logradouros do Museu Municipal
- foto de Maurício Saraiva



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Casa da Aldeia: uma lenda urbana

Uma expressão que se tornou comum em nossos dias é a da "lenda urbana", ou seja, algo que costuma ser afirmado pelas pessoas como se verdade fosse, no entanto, paira sobre esta verdade um quê de interrogação!  Pois a afirmação inverídica de que a Casa da Aldeia é a mais antiga da cidade é, pode-se dizer, uma "lenda urbana". Longe de ser a construção mais antiga da cidade, posto ocupado pela Catedral Nossa Senhora da Conceição (1799), a Casa da Aldeia, que foi erguida pelo português Manoel Francisco Cardozo, marido da índia guarani Joaquina Maria de São José, é mais recente do que se supunha. Até pouco tempo, a época tida como da construção da casa era dada a partir do requerimento, datado de 18 de abril de 1849, em que Manoel Francisco Cardozo: querendo elle Suppl. Edeficar umas Cazas no lugar da Aldeia ecomo Alli seaxe huns terrenos devolutos na Rua de S. Carlos que faz frente ao Norte efundos ao Sul fazendo canto ao este com a rua principal cujo n...

Instituto Estadual de Educação João Neves da Fontoura - 90 anos

O mês de maio de 2019 está marcado por um momento significativo na história da educação de Cachoeira do Sul. No dia 22, o Instituto Estadual de Educação João Neves da Fontoura chegou aos seus 90 anos carregando, neste transcurso de tempo, desafios, dificuldades e conquistas. Muitas crianças e jovens passaram por seus bancos escolares, assim como professores e servidores dedicados à desafiadora tarefa educativa. A história do João Neves, como popularmente é chamado aquele importante educandário, tem vínculos enormes com seu patrono. Em 1929, quando a instituição foi criada com o nome de Escola Complementar, o Dr. João Neves da Fontoura era vice-presidente do estado e há pouco havia concluído uma gestão de grandes obras como intendente de Cachoeira.  Em 1927, ano em que Borges de Medeiros resolveu criar escolas complementares no estado para a formação de alunos-mestres, imediatamente João Neves empenhou-se para que uma destas escolas fosse instalada em Cachoeira, município p...

Chuvas ameaçam isolar a cidade de importantes centros do estado

"Chuvas ameaçam isolar a cidade de importantes centros do estado". Apesar da similaridade do que tem ocorrido pouco mais de ano depois da grande enchente de maio de 2024, a manchete é de notícia veiculada pelo Jornal do Povo em junho de 1961! Naquele tempo, a Ponte do Fandango tinha poucos meses de trânsito oficialmente aberto, mas já causava preocupação a possibilidade de não haver acesso através dela em razão das chuvas. Ponte do Fandango - Coleção Claiton Nazar Vejamos o que diz a matéria veiculada no dia 25 de junho de 1961, primeira página do Jornal do Povo : Chuvas Ameaçam Isolar a Cidade de Importantes Centros do Estado Cachoeira do Sul vive na iminência de ficar isolada das demais localidades, cujo acesso é feito pela Ponte do Fandango. Basta uma pequena enchente e êsse isolacionismo a que nos referimos estará decretado, uma vez que não mais nos poderemos servir da ponte do Fandango. Isto porque as duas estradas que a ela dão acesso estarão interditadas. Uma delas (a ...