SETE DE SETEMBRO
Silencio!... não turbeis na paz da morte
Os manes que o Brazil quasi esquecia!...
E' tarde!.. Eis que espedaça a lousa fria
De um vulto venerando o braço forte!...
Surgiu!.. A magestade traz no porte,
Onde o astro da gloria s'irradia!...
Vem, grande Andrada, adivinhaste o dia!...
Vem juntar ao da patria o teu transporte!...
Recua?!.. Não se apressa em vir saudal-a;
Cobre a fronte brilhante de heroismo,
E soluça!.. O que tem?!. Eil-o que fala;
"Oh! patria que eu salvei do despotismo!
Lá vejo a corrupção que te avassalla!
Não te conheço!.." E se afundou no abysmo!..
Felix Xavier da Cunha
O soneto acima, do advogado, jornalista, escritor e político Félix da Cunha, foi publicado pelo jornal O Commercio, edição do dia 4 de setembro de 1907 ao ensejo da comemoração da data da independência do Brasil.
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Félix Xavier da Cunha |
Apesar dos 110 anos de distanciamento no tempo, os versos do poeta encerram atualidade, ainda que o linguajar e o estilo possam parecer anacrônicos. Na tentativa de atualizar o conteúdo dos versos e permitir o seu entendimento, o poeta poderia ter dito o mesmo assim:
Silêncio. Não perturbemos a paz da morte daqueles que o Brasil já quase esqueceu.
É tarde quando o braço forte de um vulto importante rompe a lage do seu túmulo e surge, com a glória estampada na testa. É José Bonifácio de Andrada e Silva que emerge do túmulo justamente no dia 7 de setembro, quando a pátria também fez a sua passagem do domínio de Portugal para a liberdade. Mas Andrada recua, não tem pressa em sair do túmulo. Cobre a testa, soluça e diz: Pátria que eu salvei do domínio, vejo que a corrupção te destrói! Não te conheço mais! E volta para dentro do túmulo...
Félix da Cunha, que dá nome a uma rua próxima ao endereço do Arquivo Histórico, nasceu e viveu no século XIX, portanto a estética de seus versos é a da sua época. E chama a atenção que a estética muda, mas infelizmente a temática segue a mesma...
MR
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