No ano de Cachoeira do Sul bicentenária, sempre oportuno relembrar páginas do passado, de onde podem ser extraídas lições e exemplos. Coincidentemente os tempos são de pandemia, momento em que se vê brotarem ações de solidariedade que pareciam andar rareando. E a página que será aberta aqui hoje rememora iniciativa de gênese duplamente significativa, pois propiciou ensino aos sedentos por conhecimento, estendendo braço para parcela desvalida da população da Cachoeira do final dos anos 1920, início dos 1930, constituindo-se em verdadeiro exemplo de solidariedade.
Em 1928, o intendente de Cachoeira, José Carlos Barbosa, autorizou o auxílio de um conto e 200 mil réis à direção da Escola Noturna da União de Moços Católicos em parcelas mensais de 100 mil réis, desde que a matrícula excedesse a 25 alunos. Como a escola era gratuita, a subvenção municipal foi determinante para a entidade seguir ofertando ensino aos necessitados:
A União de Moços Católicos, fundada em 15 de junho de 1924, era uma entidade com fins religiosos, culturais e sociais da juventude católica, voltada para o atendimento dos interesses dos sócios, mas também com objetivos cristãos de amparo. Diante da carência de ofertas de ensino à parcela da população que não tinha condições de frequentar aulas diurnas, em razão de trabalho, bem como pela falta de recursos financeiros, a União fundou uma escola noturna, inicialmente funcionando nos salões de sua sede, na Rua Sete de Setembro.
A procura foi tão grande, que o espaço disponível tornou-se acanhado. Por notícia do jornal O Comércio, de 29 de julho de 1931, sabe-se sobre a troca de endereço e como se apresentavam as aulas desenvolvidas:
![]() |
Autorização de subvenção municipal - 29/11/1928 - IM/CM/AL/L-011 |
A União de Moços Católicos, fundada em 15 de junho de 1924, era uma entidade com fins religiosos, culturais e sociais da juventude católica, voltada para o atendimento dos interesses dos sócios, mas também com objetivos cristãos de amparo. Diante da carência de ofertas de ensino à parcela da população que não tinha condições de frequentar aulas diurnas, em razão de trabalho, bem como pela falta de recursos financeiros, a União fundou uma escola noturna, inicialmente funcionando nos salões de sua sede, na Rua Sete de Setembro.
Prédio (1850) onde funcionou a União de Moços Católicos e a escola noturna - foto Renato F. Thomsen |
A procura foi tão grande, que o espaço disponível tornou-se acanhado. Por notícia do jornal O Comércio, de 29 de julho de 1931, sabe-se sobre a troca de endereço e como se apresentavam as aulas desenvolvidas:
![]() |
O Comércio, 29/7/1931, p. 3 |
Desde muito tempo que a União de Moços Católicos desta cidade vinha mantendo em sua sede social uma escola noturna gratuita, onde cerca de 100 alunos recebiam instrução. Tornando-se pequeno o vasto salão para conter o grande número de alunos que dia-a-dia vinha aumentando, a diretoria da União resolveu localizá-la em outro prédio que foi feito em dias da semana transata. Instalada em o prédio n.º 600 da Rua 7 de Setembro, tivemos ocasião de visitar esta escola. que se acha sob a competente direção do Sr. Francisco Terencio da Costa que por muitos anos exerceu o magistério público estadual, no 4.º distrito deste município.
O que ali encontramos então excedeu a nossa expectativa. Cerca de 140 pessoas, compostas de meninos, mocinhos, e até militares, quase na sua totalidade gente pobre, que vivendo do seu trabalho não pode frequentar as aulas diurnas, ali estavam entregues aos estudos. Recebidos gentilmente, palestramos ligeiramente com o Sr. Francisco Terencio da Costa, que nos informou que apesar daquele avultado número de alunos, a Escola havia recusado receber cerca de vinte, dada a impossibilidade de acomodá-los nos dois salões da Escola.
De fato, examinando os salões verificamos que todos os lugares estavam totalmente preenchidos por carteiras e mesinhas, todas ocupadas pelos alunos. Isto demonstra o quanto havia falta de escolas noturnas nesta cidade, e por outro lado revela a boa vontade da mocidade em estudar e aprender.
Sendo essa escola frequentada na sua quase totalidade por pessoas pobres que não podem cursar os estabelecimentos diurnos, fácil é calcular os grandes benefícios que a União dos Moços Católicos presta à mocidade cachoeirense, com a manutenção dessa escola noturna que, como dissemos, é dirigida pelo professor Francisco Terencio da Costa, cujos esforços e dedicação no desempenho de seu cargo são dignos de louvores.
O que ali encontramos então excedeu a nossa expectativa. Cerca de 140 pessoas, compostas de meninos, mocinhos, e até militares, quase na sua totalidade gente pobre, que vivendo do seu trabalho não pode frequentar as aulas diurnas, ali estavam entregues aos estudos. Recebidos gentilmente, palestramos ligeiramente com o Sr. Francisco Terencio da Costa, que nos informou que apesar daquele avultado número de alunos, a Escola havia recusado receber cerca de vinte, dada a impossibilidade de acomodá-los nos dois salões da Escola.
De fato, examinando os salões verificamos que todos os lugares estavam totalmente preenchidos por carteiras e mesinhas, todas ocupadas pelos alunos. Isto demonstra o quanto havia falta de escolas noturnas nesta cidade, e por outro lado revela a boa vontade da mocidade em estudar e aprender.
Sendo essa escola frequentada na sua quase totalidade por pessoas pobres que não podem cursar os estabelecimentos diurnos, fácil é calcular os grandes benefícios que a União dos Moços Católicos presta à mocidade cachoeirense, com a manutenção dessa escola noturna que, como dissemos, é dirigida pelo professor Francisco Terencio da Costa, cujos esforços e dedicação no desempenho de seu cargo são dignos de louvores.
![]() |
Parte da relação de alunos matriculados na aula noturna - IM/RP/SF/D-251 |
A notícia expõe drama vivido pela cidade naqueles tempos, qual seja o de suprir a carência de ensino para aqueles que não podiam frequentar escolas durante o dia. Ao confrontar-se o exemplo do passado com os dias que correm, oportuno ressaltar o quanto houve de evolução, uma vez que atualmente a população interessada em alargar seus conhecimentos e melhorar seu desempenho tem à disposição oferta de cursos noturnos nas redes de ensino.
A iniciativa da União de Moços Católicos foi ao mesmo tempo inspirada por outras e incentivadora, pois a história de Cachoeira do Sul pode recuperar outras páginas de igual valor, quando cidadãos e entidades tomaram para si o compromisso de colaborar com a ilustração de interessados em aprendizado e qualificação. Qualificar o cidadão era e é a maneira mais sólida de qualificar a sociedade em que se vive.
Captura de imagens de documentos e imprensa: Neiva E. C. Köhler
MR
Excelente leitura! Sempre elucidativo e significativo para nossa cultura e conhecimento.
ResponderExcluirÉ nossa história!
ResponderExcluir