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Trajes inadequados na Igreja

Com a chegada da primavera e a natural elevação das temperaturas a partir de outubro, a indumentária das pessoas vai sendo reduzida em quantidade, espessura e tamanho. As lãs são abolidas, dando lugar aos tecidos leves; os casacos e toda sorte de acessórios do frio voltam para dentro dos armários. 

Se os tempos atuais não causam surpresas quanto a alguns exageros, em tempos mais remotos o trajar das pessoas era muitas vezes patrulhado, resultando em observância rígida de padrões de comportamento para livre acesso a determinados lugares. Por exemplo, houve tempos em que os homens deveriam obrigatoriamente usar chapéus, com regras para tirá-los da cabeça toda vez que adentrassem em ambiente fechado. Hoje, quando a maioria dos adolescentes usa bonés no lugar dos chapéus de antigamente, tirá-los é impensável, seja dentro ou fora dos ambientes.

Para as mulheres, mais severas eram as regras, pois o recato e os bons costumes transpareciam no comportamento e no tipo de vestes que elas usavam. O nível de exigência podia ser bastante alto em determinados espaços da sociedade, especialmente nas igrejas.

Uma notícia publicada no jornal O Commercio, em 7 de outubro de 1925, dá a medida do quanto o modo de vestir feminino podia ou não ser proibitivo nos cerimoniais e cultos católicos:

Aviso na Igreja Matriz e capellas. - Foi affixado nas portas da Igreja Matriz e das capellas, nos confissionarios e na porta do baptisterio o seguinte aviso para o devido conhecimento:

"Da circular de S. Exa. Revma. Sr. Bispo Diocesano, Dom Attico Eusebio da Rocha - Portanto, declaramos que não podem servir de madrinhas, nem são dignas da absolvição sacramental e da Sagrada Communhão, as senhoras e senhorinhas, que se apresentarem com vestes transparentes ou demasiadamente curtas, braços quasi nús e collo descoberto."


Senhoras e senhoritas na saída da Igreja Matriz - Museu Municipal


As determinações da circular são claras - o modo de vestir, se em desacordo com o recato preconizado pela Igreja, excluía as mulheres infratoras não só da participação de momentos solenes, como casamentos e batizados, inclusive desqualificando-as para o recebimento de sacramentos e da comunhão! 

Para dar a medida de como era importante o trajar, especialmente dentro de igrejas e capelas, por essa época todas as mulheres, solteiras ou casadas, deveriam portar véus nas celebrações e missas. As solteiras usavam véus de renda brancos e as casadas usavam na cor preta. O véu, mais do que uma peça de indumentária, representava respeito ao sagrado e submissão. Com o passar do tempo, a Igreja Católica deixou de exigir o uso do véu, peça que não é exclusividade do catolicismo e que se vê, com outros usos e formas, em múltiplas instituições religiosas pelo mundo.


Véu branco para solteiras e preto para casadas - Facebook

Os tempos e os costumes mudam bastante, de forma que o que escandalizou ontem pode não escandalizar hoje. E amanhã, quem se arrisca a dizer?

MR

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