Pular para o conteúdo principal

Visita da Princesa Isabel e do Conde d'Eu a Cachoeira

Começava o ano de 1885. A Câmara Municipal da Cachoeira aguardava a visita de Isabel, Princesa Imperial do Brasil, e de seu marido, o Conde d'Eu, e neste intuito procurava organizar um programa à altura da filha do Imperador Pedro II e herdeira presuntiva do trono.

Princesa Isabel - foto Joaquim Insley Pacheco

Assim, em 5 de janeiro de 1885, a Câmara expediu o seguinte convite:

Camara Municipal

Convite

Sendo esperado brevemente n'esta Cidade a Serenissima Princeza Imperial D. Isabel e Sua Alteza Real o Snr. Conde d'Eu, seu esposo, a Camara Municipal convida a todos os seus municipes, para que concorrão ao desembarque dos Augusto [sic] viajantes.

Outrosim pede aos habitantes da Cidade, que hajão de illuminar a frente de suas casas na noute do dia da chegada e estada aqui de Suas Altezas.

Paço da Camara Municipal da Cachoeira, 5 de Janeiro de 1885.

O Vereador Presidente Antonio Eusebio da Fontoura

O Secretario Manoel Teixeira Cavalheiro

Registro do conteúdo do convite - CM/S/SE/RE-009, fl. 126

A respeito da visita do casal, não há detalhamento do programa nem da recepção, tendo restado daqueles dias o registro feito pelo historiador Aurélio Porto ao tempo em que organizou o acervo documental do município. Assim se reportou Aurélio Porto ao acontecido, conforme o que leu no livro de atas do período, até então existente, aqui transcrito com atualização da grafia:

1885. Em 5 de janeiro a Câmara resolve ir incorporada receber S. A. o Conde d’Eu e Princesa Isabel, convidando o povo a iluminar as frentes de suas casas por três dias. Em 16 de janeiro passa o Conde d’Eu, sendo-lhe oferecido, na Estação da Estrada de Ferro, um almoço. (IM/EA/SA/RL-001)

A última década do Império no Brasil foi de grandes dificuldades, pois a pressão pela abolição da escravatura e a propaganda republicana estavam enfraquecendo cada vez mais o Imperador que também enfrentava pressão dos grandes produtores, contrários à abolição. A viagem às províncias do Sul do Brasil foi mais uma estratégia para aproximar o povo dos membros da Família Imperial, representada pela Princesa Isabel, seu esposo e filhos.

Conde d'Eu e a Princesa Isabel com os três filhos (1885)
- memoriasantista.com.br

Interessante que a anotação de Aurélio Porto refere a recepção ao casal em 5 de janeiro, passando em 16 apenas o Conde d'Eu, ocasião do almoço que lhe foi oferecido na estação. Tal fato deve ter coincidido com o período de cerca de um mês que a Princesa e os filhos ficaram hospedados em Porto Alegre, na sede do governo, depois de terem partido de Cachoeira.

Estação Ferroviária de Cachoeira - MMEL

Cachoeira pode, portanto, contar na sua história duas visitas do Imperador Pedro II, uma da sua primogênita Isabel e duas de seu genro Conde d'Eu.

MR

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Casa da Aldeia: uma lenda urbana

Uma expressão que se tornou comum em nossos dias é a da "lenda urbana", ou seja, algo que costuma ser afirmado pelas pessoas como se verdade fosse, no entanto, paira sobre esta verdade um quê de interrogação!  Pois a afirmação inverídica de que a Casa da Aldeia é a mais antiga da cidade é, pode-se dizer, uma "lenda urbana". Longe de ser a construção mais antiga da cidade, posto ocupado pela Catedral Nossa Senhora da Conceição (1799), a Casa da Aldeia, que foi erguida pelo português Manoel Francisco Cardozo, marido da índia guarani Joaquina Maria de São José, é mais recente do que se supunha. Até pouco tempo, a época tida como da construção da casa era dada a partir do requerimento, datado de 18 de abril de 1849, em que Manoel Francisco Cardozo: querendo elle Suppl. Edeficar umas Cazas no lugar da Aldeia ecomo Alli seaxe huns terrenos devolutos na Rua de S. Carlos que faz frente ao Norte efundos ao Sul fazendo canto ao este com a rua principal cujo n...

Instituto Estadual de Educação João Neves da Fontoura - 90 anos

O mês de maio de 2019 está marcado por um momento significativo na história da educação de Cachoeira do Sul. No dia 22, o Instituto Estadual de Educação João Neves da Fontoura chegou aos seus 90 anos carregando, neste transcurso de tempo, desafios, dificuldades e conquistas. Muitas crianças e jovens passaram por seus bancos escolares, assim como professores e servidores dedicados à desafiadora tarefa educativa. A história do João Neves, como popularmente é chamado aquele importante educandário, tem vínculos enormes com seu patrono. Em 1929, quando a instituição foi criada com o nome de Escola Complementar, o Dr. João Neves da Fontoura era vice-presidente do estado e há pouco havia concluído uma gestão de grandes obras como intendente de Cachoeira.  Em 1927, ano em que Borges de Medeiros resolveu criar escolas complementares no estado para a formação de alunos-mestres, imediatamente João Neves empenhou-se para que uma destas escolas fosse instalada em Cachoeira, município p...

Série: Centenário do Château d'Eau - as esculturas

Dentre os muitos aspectos notáveis no Château d'Eau estão as esculturas de ninfas e Netuno. O conjunto escultórico, associado às colunas e outros detalhes que tornam o monumento único e marcante no imaginário e memória de todos, foi executado em Porto Alegre nas famosas oficinas de João Vicente Friedrichs. Château d'Eau - década de 1930 - Acervo Orlando Tischler Uma das ninfas do Château d'Eau - foto César Roos Netuno - foto Robispierre Giuliani Segundo Maria Júlia F. de Marsillac*, filha de João Vicente, com 15 anos o pai foi para a Alemanha estudar e lá se formou na Academia de Arte. Concluído o curso, o pai de João Vicente, Miguel Friedrichs, enviou-lhe uma quantia em dinheiro para que adquirisse material para a oficina que possuía em Porto Alegre. De posse dos recursos, João Vicente aproveitou para frequentar aulas de escultura, mosaico, galvanoplastia** e de adubos químicos, esquecendo de mandar notícias para a família. Com isto, Miguel Friedrichs pediu à polícia alemã...