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Série: Centenário do Château d'Eau - as esculturas

Dentre os muitos aspectos notáveis no Château d'Eau estão as esculturas de ninfas e Netuno. O conjunto escultórico, associado às colunas e outros detalhes que tornam o monumento único e marcante no imaginário e memória de todos, foi executado em Porto Alegre nas famosas oficinas de João Vicente Friedrichs.

Château d'Eau - década de 1930 - Acervo Orlando Tischler

Uma das ninfas do Château d'Eau - foto César Roos

Netuno - foto Robispierre Giuliani

Segundo Maria Júlia F. de Marsillac*, filha de João Vicente, com 15 anos o pai foi para a Alemanha estudar e lá se formou na Academia de Arte. Concluído o curso, o pai de João Vicente, Miguel Friedrichs, enviou-lhe uma quantia em dinheiro para que adquirisse material para a oficina que possuía em Porto Alegre. De posse dos recursos, João Vicente aproveitou para frequentar aulas de escultura, mosaico, galvanoplastia** e de adubos químicos, esquecendo de mandar notícias para a família. Com isto, Miguel Friedrichs pediu à polícia alemã que localizasse o filho e o enviasse de volta ao Brasil.

No retorno para Porto Alegre, Miguel já tinha recebido encomendas de trabalho para o filho João Vicente: as estátuas da Fé, Esperança e Caridade, e de mais um anjo para ser colocado na Igreja das Dores. João Vicente as esculpiu, deixando o pai orgulhoso. Empreendedor, logo depois resolveu abrir sua própria oficina de mosaicos, galvanoplastia e granitos, conquistando a independência financeira. Prosperou nos negócios, produzindo mosaicos e imagens de santos comercializados até para outros estados. Chegou a ter mais de 60 operários, dentre eles grandes escultores, como Fernando Corona e o pai, Alfred Steage, Sanguin e o desenhista Giuseppe Gaudenzi.

No encadernado Protocolo de Ofícios, ano 1924 (IM/S/SE/PC-022), folha 37, consta o seguinte registro: 

Outubro - 16 - Porto Alegre - 603 - João Vicente Friederichs, carta de 8 do corrente, communicando ter embarcado diversas peças de ornamento em cimento para o Chateaux desta cidade, conforme conhecimento junto.

Registo no Protocolo de Ofícios (1924) - IM/S/SE/PC-022, f. 37

Até agora o conjunto escultórico composto das ninfas e Château d'Eau eram difundidos como obras das oficinas de J. Vicente Friedrichs, mas o documento acima amplia para "peças de ornamento em cimento", o que pode significar balaústres, colunas e outras alegorias que o monumento ostenta. Detalhes que a excepcional documentação do Arquivo Histórico ainda deverá revelar.


Detalhes do Château d'Eau - fotos Robispierre Giuliani

Colunas e capitéis - foto Renato Thomsen

*Dados contidos na obra "Quase um século", de Maria Júlia F. de Marsillac.

** Processo eletroquímico que reveste um objeto com uma fina camada de metal para protegê-lo da corrosão, oxidação e desgaste.

Vou dar um até breve ao blog do Arquivo Histórico, este precioso registro que me proporcionou conduzir os seguidores pelos caminhos que a documentação aqui preservada é capaz de nos levar. Muito obrigada!

Mirian Ritzel

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