O 7 de setembro de
1822, dia em que D. Pedro I decidiu que o Brasil seria independente de
Portugal, só foi ter repercussão na recém-instalada Vila Nova de São João da
Cachoeira meses depois, quando aqui chegaram as correspondências expedidas pela
Imprensa Nacional comunicando os atos administrativos que se sucederam ao grito
do Ipiranga.
Nos setembros subsequentes,
documentos revelam que era costume a Câmara incentivar os habitantes da Vila a
iluminarem a frente de suas casas nos dias 6 e 7. Também a casa que servia de
sede às reuniões dos vereadores tinha que iluminar sua fachada.
Sessão da Câmara em 5 de setembro de 1853
- Livro CM/OF/A-005, fl. 78
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Além da iluminação especial, era
costume contratar o padre para realização de um Te Deum, na Igreja Matriz, em
ação de graças pela Independência.
O Te Deum é
um hino religioso cantado em louvor a Deus pelo alcance de uma graça ou pelo
transcurso de um grande acontecimento. Às vezes é acompanhado por uma pregação
e algum canto, sendo mais solene do que uma missa. Era muito comum a sua
celebração em todos os grandes acontecimentos históricos do século XVIII e XIX,
mas hoje está praticamente em desuso.
Para ilustrar tal hábito, um
documento de 28 de agosto de 1857 registra que a Câmara contatou o Padre José
Teixeira da Cunha Louzada Sobrinho para a realização do Te Deum “para solenizar
o dia 7 de Setembro entrante da Independência do Império”.
Em 1862, no setembro do 40.º aniversário da Independência
do Brasil, e quando a Vila já havia se tornado Cidade da Cachoeira, a prática
de preparo da iluminação da Câmara custou aos cofres públicos municipais a quantia
de 54$000 réis e a celebração do Te Deum, no dia 7, 79$800. Tais gastos foram
computados como despesas eventuais, totalizando 133$800 réis.
Despesas eventuais – Livro
CM/Po/RD/DD-004
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Mas o que acontecia
na Cachoeira de 1822? O livro que contém as súmulas dos atos administrativos,
organizado por Aurélio Porto (IM/EA/AS/RL-001), dá para aquele ano histórico os
seguintes dados:
1822. Em 2 de
janeiro oficiou a Câmara ao Governador sobre a grande necessidade de aqui
estacionar um destacamento militar em vista do abandono em que jaz a vila.
Rendeu o segundo semestre de 1821, de novos impostos: 326.000 réis. Em 22 de
março o povo fez uma representação contra o sargento-mor Alexandre Luiz de
Queirós que tornou-se o terror dos habitantes da vila com suas continuadas tropelias.
Para coibir esses abusos, mandou o Governo que, na povoação, desde 1810 sem
força militar, viesse destacar o sargento-mor comandante Gaspar Francisco Menna
Barreto. Em 27 de julho agradece a Câmara a oferta que a esta fez de uma imagem
de São João, que manda colocar em sua sala de sessões ao Dr. Mendonça Pessanha,
Juiz de Fora. Em 1º de agosto dirige o povo uma moção de solidariedade a D.
Pedro I por não querer este abandonar o Brasil. Em 12 de outubro, com festas, é
proclamado o primeiro Imperador.
Como se
depreende dos registros feitos pelo historiador, a Vila Nova de São João da
Cachoeira há pouco emancipada de Rio Pardo (5/8/1820), vivia naquele ano de
1822 as dificuldades de uma época em que o próprio país tentava se estruturar e
reagir positivamente ao impulsivo gesto do jovem Príncipe Regente.
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D. Pedro I em retrato de 1830 - Wikipedia |
A estrutura
política e as decisões administrativas da Vila eram comandadas por três
vereadores: Constantino José Pinto (Presidente), Joaquim Gomes Pereira e
Antônio José de Menezes.
Assinaturas
de Constantino José Pinto, Antônio José de Menezes e Joaquim Gomes Pereira –
Livro CM/CP/TPJ-001, fl. 7v.
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A segurança
era precária e o Quebra, Alexandre Luiz de Queirós e Vasconcelos, com suas
ideias libertárias, assustava os moradores. O santo protetor era São João, que
dava nome à Vila, e a Igreja Matriz era o único dos bens patrimoniais
existentes até hoje que já estava construído, embora em constantes obras e de
aspecto bem diverso do que guarda atualmente.
Chegados ao
192.º ano da Independência do Brasil, com distância temporal suficiente para
mudanças enormes e que perpassam todos os aspectos da vida da comunidade
(econômicos, sociais, culturais, tecnológicos...), somos instigados a olhar
para trás e reconhecer que se muito avançamos, ainda há muito a buscar, porém
muito ainda a desvendar de um tempo em que engatinhando já ansiávamos caminhar
a passos largos rumo ao progresso e afirmação do Brasil como nação.
Meu Deus, uma existência só é pouca para apreciamos todas essas relíquias com que vocês nos brindam.
ResponderExcluirAbraços de gratidão,
Hugo !
Oi seria possível conseguir mais informação sobre a tomada de Cachoeira por Alexandre Queiroz em 1820. Nos livros que pesquisei esse episódio os acontecimentos estão muito confusos.
ResponderExcluirGiovanni Mesquita
giomesquitamuseu@gmail.com