O aborto é um assunto que desperta muita discussão e polêmica, seja ontem ou hoje. Sua prática é condenada por uns e defendida por outros. Razões éticas, morais, religiosas e sociológicas são levantadas, oferecendo vários ângulos para sua observação e julgamento.
Pois surpreendentemente o jornal local O Commercio, da coleção de imprensa do Arquivo Histórico, em sua edição do dia 25 de abril de 1906, ou seja, há 109 anos, publicou em sua primeira página um soneto, então um tipo de poesia muito em voga na época, intitulado O aborto.
O aborto
Tu que antes de nascer, morres forçado,
Triste aborto, imperfeita creatura;
Do ser e do não ser cuidado;
Do ser desprezo e do não ser cuidado;
Tu és de amor o fructo malfadado;
Fructo que a honra anniquilar procura.
De amor obra funesta e sem ventura,
Da honra triste victima e do fado.
Anjo, perdôa a culpa commetida;
Contempla a mãe, a esposa sem consorte.
Não a culpes de ingrata e de homicida.
Dous tyrannos decidem a tua sorte:
Contra a honra o amor fez dar-te a vida
E a honra contra amor fez dar-te a morte.
(Extr.)
O jornal extraiu o soneto de outra publicação? Não há referência a autor. Não importa. Fica o registro da curiosa publicação e da provável discussão que deve ter provocado nos leitores do Comercinho a abordagem de tema tão polêmico.
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Parte da página do O Commercio - edição de 25/4/1906 |
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