Há 70 anos o mundo respirou aliviado, comemorando o final da II Grande Guerra Mundial. Cachoeira do Sul, a exemplo de cidades ao redor do mundo, festejou a notícia do término da guerra, celebrando o Dia da Vitória.
O jornal O Comércio, edição de 9 de maio de 1945, relata a forma como a cidade comemorou a notícia e informa aos cachoeirenses os acontecimentos que legitimaram o fim do conflito, cujas consequências espalharam-se, de alguma forma, sobre todos.
A matéria jornalística, que traz o retrato de Getúlio Vargas encimando uma frase de enaltecimento aos valentes filhos da F.E.B. (Força Expedicionária Brasileira), traz a seguinte notícia:
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O Comércio, 9/5/1945, p. 1 - acervo de imprensa do Arquivo Histórico |
Derrotado o Nazismo
A Alemanha aceitou os termos de Paz impostos pelas Nações Unidas
- Comemorado festivamente o DIA DA VITÓRIA -
Desde segunda-feira que as populações de quasi toda a Europa, Américas, Africa, Oceania e de quasi toda a Asia, se encontram possuidas das mais vibrantes demonstrações de alegria, por motivo da completa derrota das forças nazi-facistas na Europa.
Apesar da rendição se ter verificada no dia 7 do corrente, na séde do Q. G. de Eisenhower em Reims, foi esta data alterada para ontem por comum acôrdo dos "três grandes lideres".
A rendição que põe o ponto final nesta segunda grande guerra, depois de 5 anos e 8 mêses de derramamento de sangue e destruições, foi assinada da parte da Alemanha, pelo cel. gal. Gustav Jodl, o novo chefe do estado-maior da Wehrmacht. Da parte do Supremo Comando aliado foi assinada pelo tenente gal. Walter Badel Smith, chefe do estado-maior de Eisenhower. Da parte da Russia foi assinada pelo gal. Ivan Susloparoff e da parte da França pelo gal. François Sevez.
(...)
Embora o povo de todos os paises não conheça até o momento pormenores da capitulação, uma cousa é certo: a guerra na Europa terminou oficialmente, a resistencia organizada chegou ao fim e os alemães foram definitivamente derrotados.
Um porta-voz do Ministério das Informações, quatro horas depois que Edward Kennedy transmitiu ao mundo seu despacho urgentissimo, tornou suficientemente claro que a guerra, de fato terminou na Europa, e que o dia de ontem foi considerado "Dia da Vitória".
Assim O Comércio refere o acontecimento em Cachoeira do Sul:
O Comicio de 2.a feira
A população local vibrante de entusiasmo, pelas noticias da Rendição Incondicional da Alemanha, circuladas desde as primeiras horas, regorgitava pelas ruas, cheia de alegria, pela alviçareira nova do término das hostilidades na Europa.
Este entusiasmo regorgitou ainda mais, quando a imprensa local, resolveu promover um comicio para desta maneira iniciar as festividades do "Dia da Vitória" O comicio de segunda-feira, que teve a cooperação do serviço de alto-falantes da Voz Sonora da Princeza do Jacui, que gratuita e espontaneamente tem colaborado em todas as iniciativas, desde a sua fundação, na difusão da palavra dos oradores, que tem emprestado seu verbo para melhor orientação da população cachoeirense, realizou-se da sacada da residencia da exma. sra. d. Inácia Amélia Oliveira, apinhando-se à frente desta casa uma grande multidão de povo, sequiósa de ouvir os oradores inscritos.
Assomando à tribuna, falaram o advogado Aristides Moreira, o dr. Oscar José da Costa Cabral, e o dr. Liberato S. V. da Cunha, que discorreram com eloquência sobre o grande significado da Rendição Incondicional pois não poderia ser outra a decisão do nazismo, uma vez que os exércitos Russos, Inglezes, Americanos e Brasileiros, o vinham combatendo. Quando um dos oradores se referiu a Força Espedicionária Brasileira, a população prorrompeu em aplausos e vivas aos guapos soldados que levaram a sua cooperação para a vitória.
Todos os oradores foram delirantemente aplaudidos.
(...)
Para que não aconteça de novo
(...)
2074 dias de destruição e morte por todos os cinco continentes foi a nefanda herança que Hitler legou à humanidade. Tezouros incalculaveis da arte foram destruidos. Milhões de vidas foram sacrificadas por causa de um só homem, que, com as suas ideias de megalomaniaco invenenou um povo inteiro. Cidades inteiras foram reduzidas a montões de ruinas. Milhares de navios que podiam ser exclusivamente postos a navegar para trazer a felicidade e fartura à todos os povos do mundo hoje jazem destroçados e cobertos de limo e ferrugem no fundo do mar. É humanamente impossivel que homens tão nefandos como esse não sofram um castigo exemplar, para que no futuro, a humanidade não venha novamente ser assaltada por semelhante calamidade.
(...)
Todavia, apesar de todos os males a humanidade, a Democracia, ou a liberdade, como queiram, venceu.
(...)
Entretanto, esperamos confiantes, que o novo mundo em organização, seja feito de tal maneira que, não seja preciso daqui há 20 anos fazer novos sacrificios.
O Jornal do Povo, cuja edição posterior ao Dia da Vitória só circulou, curiosamente, em 24 de maio, estampou na primeira página do dia 6 de maio:
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Jornal do Povo, 6/5/1945, p. 1 - acervo de imprensa do Arquivo Histórico |
ACENTUAM-SE AS DIVERGÊNCIAS
ENTRE AS DEMOCRACIAS E A RÚSSIA
- Inglaterra e Estados Unidos Exigem Notícias Dos Líderes Poloneses -
O Presidente Getúlio Vargas Felicita a F.E.B.
Servindo-se de seu rico acervo de imprensa, o Arquivo Histórico divulga uma página importantíssima da história da humanidade, revelando que os fatos, apesar de terem ocorrido a milhas de distância, estenderam seus tentáculos sobre nós. Os nefastos efeitos do evento e a decretação de seu fim justificaram o tom das comemorações na Cachoeira do Sul de 1945.
(MR)
(MR)
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