Pular para o conteúdo principal

Série: Centenário do Château d'Eau

O Arquivo Histórico inicia com esta postagem a Série: Centenário do Château d'Eau, marco a ser comemorado no dia 18 de outubro de 2025. Até que o dia da comemoração chegue, o blog tratará mensalmente de algum assunto relacionado à grande obra de ampliação do saneamento empreendida a partir de 1923 em Cachoeira. Foram aqueles anos de 1920 um divisor de águas na história de Cachoeira do Sul no que se refere a investimentos em serviços básicos. Em razão disto, o município foi dos primeiros do estado a investir em distribuição de água e esgotos. Um belo feito para aquela época!

Como resultado de vultosos investimentos, foi há um século inaugurada a segunda hidráulica, que tinha no Château d'Eau e no Reservatório R2 o coroamento estético e funcional daquele momento histórico ímpar.

As obras do saneamento obedeceram a diversas etapas a partir de setembro de 1921, quando a primeira hidráulica, junto à Praça Itororó, foi inaugurada. Naquele tempo, apenas a zona baixa da cidade estava abastecida, constituindo-se a obra da segunda hidráulica uma ampliação significativa desses serviços e que transformou a cidade em um grande canteiro de obras.

Instalação da rede de água na Rua Saldanha Marinho - trecho próximo aos trilhos da Viação Férrea -  foto A. Saindenberg

Em junho de 1925, a Intendência Municipal, através do engenheiro-chefe da Seção de Obras Públicas, Arno Bernhardt, publicou o seguinte edital, no jornal O Commercio, na primeira página do suplemento da edição de 1.º de julho de 1925:

O Commercio, 1/7/1925, p. 1 - suplemento

INTENDENCIA MUNICIPAL

EDITAL

AGUAS E EXGOTTOS

De ordem do Snr. Intendente Municipal levo ao conhecimento de todos os proprietarios que tenham predios situados nas seguintes ruas: Saldanha Marinho (entre General Camara e trilhos da Viação Ferrea); Julio de Castilhos (entre os trilhos da Viação Ferrea e rua Juvencio Soares); rua Juvencio Soares (quadra entre a Rua Julio de Castilhos e rua David Barcellos) rua David Barcellos (entre travessa da Estação e Juvencio Soares) e travessa da Estação (toda), que ficam nesta data intimados a executarem as installações domiciliarias de aguas e exgottos nas ruas acima referidas. 

Os proprietarios que não tiverem executado as installações até 31 de agosto do corrente anno pagarão além da taxa mensal, mais a multa mensal  de 50% da mesma taxa,  de accordo com o Regulamento Sanitario em vigor. 

Seccção de Obras Publicas Municipaes, Cachoeira, 15 de junho de 1925. 

Arno Bernhardt

Engenheiro-chefe

A importante obra de saneamento da cidade, além do grande investimento público, obrigou os moradores da zona beneficiada a providenciarem o que lhes cabia para permitir que a água e o esgoto chegassem às suas residências. Neste cenário, passaram a proliferar empresas e profissionais autônomos prestadores destes serviços, bem como houve grande movimentação no comércio local e estadual para dar conta da demanda dos materiais necessários a tão grandiosa obra.

Na edição de 15 de julho de 1925, na primeira página, o jornal O Commercio publicou nota sobre as instalações de águas e esgotos:

O Commercio, 15/7/1925, p. 1

Installações de aguas e exgottos. - Até 30 de Junho findo foram construidas 428 installações domiciliarias de aguas e exgottos, tendo sido arrecadado cerca de 60:000$000, provenientes da taxa respectiva

Afim de tornar effectiva a arrecadação dessa taxa, a Municipalidade vae entregar ao seu procurador, dr. Glycerio Alves, a relação dos contribuintes retardatarios, para effectuar amigavel ou judicialmente a cobrança respectiva, pois, de accordo com as Instrucções da Lei Orçamentaria vigente, os debitos serão levados para a Divida Activa, nos mezes de Janeiro e Julho de cada anno, para ser promovida a cobrança executiva. 

Como se vê pelo noticiário da época, a urgência e relevância das obras exigia também dos cidadãos que fizessem a sua parte, afinal, estava implantada a evolução que tirou Cachoeira do século XIX, jogando-a a pleno nas inovações e melhorias do século XX!

MR

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Casa da Aldeia: uma lenda urbana

Uma expressão que se tornou comum em nossos dias é a da "lenda urbana", ou seja, algo que costuma ser afirmado pelas pessoas como se verdade fosse, no entanto, paira sobre esta verdade um quê de interrogação!  Pois a afirmação inverídica de que a Casa da Aldeia é a mais antiga da cidade é, pode-se dizer, uma "lenda urbana". Longe de ser a construção mais antiga da cidade, posto ocupado pela Catedral Nossa Senhora da Conceição (1799), a Casa da Aldeia, que foi erguida pelo português Manoel Francisco Cardozo, marido da índia guarani Joaquina Maria de São José, é mais recente do que se supunha. Até pouco tempo, a época tida como da construção da casa era dada a partir do requerimento, datado de 18 de abril de 1849, em que Manoel Francisco Cardozo: querendo elle Suppl. Edeficar umas Cazas no lugar da Aldeia ecomo Alli seaxe huns terrenos devolutos na Rua de S. Carlos que faz frente ao Norte efundos ao Sul fazendo canto ao este com a rua principal cujo n...

Instituto Estadual de Educação João Neves da Fontoura - 90 anos

O mês de maio de 2019 está marcado por um momento significativo na história da educação de Cachoeira do Sul. No dia 22, o Instituto Estadual de Educação João Neves da Fontoura chegou aos seus 90 anos carregando, neste transcurso de tempo, desafios, dificuldades e conquistas. Muitas crianças e jovens passaram por seus bancos escolares, assim como professores e servidores dedicados à desafiadora tarefa educativa. A história do João Neves, como popularmente é chamado aquele importante educandário, tem vínculos enormes com seu patrono. Em 1929, quando a instituição foi criada com o nome de Escola Complementar, o Dr. João Neves da Fontoura era vice-presidente do estado e há pouco havia concluído uma gestão de grandes obras como intendente de Cachoeira.  Em 1927, ano em que Borges de Medeiros resolveu criar escolas complementares no estado para a formação de alunos-mestres, imediatamente João Neves empenhou-se para que uma destas escolas fosse instalada em Cachoeira, município p...

Cachoeira do Sul e seu rico patrimônio histórico-cultural

A história de Cachoeira do Sul, rica e longeva, afinal são 202 anos desde a sua emancipação político-administrativa, legou-nos um conjunto de bens que hoje são vistos como patrimônio histórico-cultural. Muito há ainda de testemunhos desta história que merecem a atenção pelo que representam como marcas dos diferentes ciclos históricos. Mas felizmente a comunidade e suas autoridades, desde 1981, pela criação do Conselho Municipal do Patrimônio Histórico-Cultural - COMPAHC, têm reconhecido e protegido muitas destas marcas históricas. Antes da existência do COMPAHC muitos e significativos bens foram perdidos, pois o município não dispunha de mecanismos nem legislação protetiva, tampouco de levantamento de seu patrimônio histórico-cultural. Assim, o Mercado Público, em 1957, e a Estação Ferroviária, em 1975, foram duas das maiores perdas, sendo estes dois bens seguidamente citados como omissões do poder público e da própria comunidade. Sempre importante lembrar que por ocasião do anúncio da...