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Mazelas do Passado

Cumpre-me levar ao conhecimento de VV. S.S.ªs. que aparecendo um caso de bexigas em um menino, e convindo evitar que se deseinvolva a epedimia, e em vista do Art.º 116 das posturas Municipaes, resolvi esolar o bexigento, allugando p.ª isso a chacara de D. Senhorinha de Carvalho Ilha, justando tambem uma peçôa p.ª ajudar a cuidar no enfermo, e allugando a M.el Homem d'Oliveira carroças p.ª transporta o bexigento, trastes e viveres, e obrigando-me a que o medico fosse vêr o enfermo as vezes necessarias, e fornecendo remedios, dieta, e alimentos para as pessôas que forão cuidar no menino. De combinação com o Illm.º Sr. Presidente desta Camara fiz dar e dei estas providencias, e espero que esta Illm.ª Camara tomando na consideração que lhe parecer justa, mando saptisfazer aos interessados em tempo opportuno, o que communicarei a esta Illm.ª Camara.
Deos Guarde a VVSS.ªs
Delegacia de Policia do Termo da Cachoeira
21 de Maio de 1874

Ofício de 21/5/1874
CM/S/SE/CR - Caixa 11
Esta correspondência do Delegado de Polícia, Hilario José de Barcellos, nos remete a uma questão de saúde pública e que envolvia uma doença assustadora no século XIX, responsável por epidemias e muitas mortes: a bexiga, mais conhecida hoje como varíola.
A varíola é uma doença infecto-contagiosa que assolou e assombrou a humanidade por milhares de anos, sendo considerada erradicada pela Organização Mundial de Saúde desde o final da década de 1970 em razão da única forma de controle possível, a vacinação.
Em 2015 as autoridades brasileiras têm se deparado com um grande desafio que, a exemplo da dor de cabeça que a varíola dava às autoridades do século XIX, o mosquito Aedes Aegypti tem provocado como transmissor de três doenças: a dengue, a febre Chikungunya e o vírus Zika
Guardados a evolução científica e o número de recursos que hoje estão à disposição da medicina, o panorama social verificado em 1874 não difere muito do que se encontra em 2015. Se no século XIX a luta contra a bexiga só tinha chances de ser vencida com o isolamento do paciente, ainda que com parcos recursos materiais e profissionais, no século XXI o desafio é aprimorar a educação no Brasil, especialmente no manejo e cuidado com os ambientes em que as pessoas vivem. O Aedes Aegypti encontra espaço para proliferação livre porque as pessoas não são educadas para manterem os ambientes em que vivem sem os agentes criatórios do mosquito.
Bexiga ou zika, não importa o nome da mazela que nos atinja. O que é preciso é encontrar fórmulas que mantenham estas mazelas no passado.

MR

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