Vila Nova de São João da Cachoeira. Ano de 1836. Não bastassem os problemas que estavam começando com a Revolução Farroupilha, drama que perduraria por longos 10 anos, a Vila se achava infestada por cães danosos... Aqueles eram também tempos de medo pela raiva canina, doença que apavorava a Europa, de onde vinham as soluções científicas, e para a qual o tratamento ainda era ineficiente, vitimando tanto as pessoas atacadas quanto os cães. Somente em 1885 Pasteur aplicaria pela primeira vez a vacina antirrábica em humanos, depois de vários experimentos em animais. Enquanto isto, os países das Américas poucos meios tinham para combater a doença e lançavam mão da estratégia de eliminação tácita dos cães...
A notícia dos cães danosos chegou até nós através de um documento constante do Fundo Câmara Municipal (1820-1889) existente no Arquivo Histórico, portador de instruções para combate dos cães que andavam soltos pelas ruas da Vila. Como a grafia é bastante dificultosa em razão da época, do talhe de letra e eventualmente pelos erros do escrivão, o texto do documento foi atualizado em sua transcrição:
Cópia. O Cidadão Brasileiro Noé Antonio Ramos, Juiz de Paz da Cabeça do Termo do Município desta Vila de São João da Cachoeira [?] = Por saber que estando a Vila infestada de cães daninhos com grave prejuízo da salubridade pública e achando-se nesta parte a polícia com intervenção do Artigo 12 das posturas da Câmara tantas vezes recomendado e publicado sem que os moradores lhe prestem o respeito devido; roga e recomenda a todos faça extinguir cada um os cães que tiverem no prazo de oito dias sob pena de multa de cinco mil réis conforme o mesmo Artigo e custas. Outrossim fica autorizado qualquer para matar os cães que vagarem pelas ruas. E para que chegue a notícia a todos mandei passar a presente que vai por mim assinado e selado com o selo do estilo que é o valha sem selo ex-causa. Cachoeira, doze de janeiro de mil oitocentos e trinta e seis. Eu Iziquiel Rodrigo de Niza e Castro, escrivão que serve neste Juízo o escrevi. = Valha sem selo ex-causa = Ramos =
Está conforme
Iziquiel Rodrigo de Niza e Castro
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Cópia de ofício - CM/S/SE/RG/Caixa 13 - 12/1/1836 |
A história ainda não revelou o número de cães que foram mortos, tampouco se houve alguma vítima de raiva canina. De qualquer forma, por meio deste documento foi possível levantar uma página curiosa dos tempos em que um simples cão podia ter o espectro de um monstro, quiçá uma matilha!
(MR)
(MR)
O medo vem com a falta do saber !
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