A história guarda normalmente os nomes de heróis, de políticos destacados, de personalidades diferenciadas e esquece dos cidadãos que à sombra da discrição e do trabalho denodado promoveram ações importantes para a vida da comunidade. O médico Cândido Alves Machado de Freitas foi um desses cidadãos do passado, a quem Cachoeira deve importantes melhoramentos, notadamente na área da saúde, uma vez que o nome dele impõe-se dentre as lideranças pela implantação do Hospital de Caridade.
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Dr. Cândido A. M. de Freitas - fototeca Museu Municipal |
A biografia de Cândido Alves Machado de Freitas está incompleta. Por um requerimento seu apresentado ao presidente e demais vereadores da Câmara Municipal, em 4 de março de 1887, Dr. Cândido informou que havia chegado a Cachoeira em janeiro de 1882, ocupando-se das atividades médicas e prestando serviços à justiça em autos de corpo de delito (conjunto de exames ou provas materiais a respeito de um crime), autópsias, inspeções de saúde, exames de sanidade e outras atividades relacionadas, tarefas para as quais havia sido nomeado pelo juiz de direito, com remuneração. No entanto, segue dizendo o texto do requerimento, a Câmara estava cobrando do médico imposto municipal no valor de 30.000 réis, quantia inferior ao que a própria Câmara devia pelos trabalhos prestados por ele à justiça. Pleiteando a solução do impasse, disse o Dr. Cândido:
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Requerimento do Dr. Cândido A. M. de Freitas - CM/Po/DRD/DR-Caixa 26 |
Considerando que esta Camara deve ao supp.e quantia superior áquella do dito imposto; considerando que o suppl.e tem com toda pontualidade pago a esta Camara os impostos municipaes que lhe competem até o fim do anno p.p.; considerando que, segundo o direito natural, [rasgado] imposição iniqua e absurda, que só [rasgado] com o absolutismo e barbarismo, exigir [rasgado] um credor pague, sob pena de multa, ao seu devedor, quando aquelle tem sido pressuroso em pagar o que deve, ao passo que este é moroso e até remisso em fazer o mesmo; á vista destas considerações o supp.e vem tambem declarar á Illm.ª Camara que está disposto a impugnar o dito imposto municipal, não pagando-o, em quanto V.S.ªs não mandarem pagar ao supp.e o que lhe é devido por lei e de direito.
Confiando na retidão e justiça de V.S.ªs e escudado na lei.
P. o supp.e deferimento na forma requerida
E. R. M.
Cachoeira, 4 de Março de 1887
Dr. Candido Alves M. de Freitas
Certamente os impasses da dívida da Câmara com o médico e da dívida do médico com os impostos municipais foram resolvidos. A política nacional naqueles últimos anos do Império estava agitada e em breve passaria por profundas mudanças, com o advento da República. A Câmara, órgão administrativo da época, foi substituída pela Junta e depois pela Intendência Municipal. A partir de 1892 os administradores do município passaram a ser os intendentes, eleitos ou nomeados, tendo sido Olímpio Coelho Leal o primeiro a desempenhar o cargo. Sucederam Olímpio na intendência David Soares de Barcellos e Viriato Gonçalves Vianna, que tinha como vice o Dr. Cândido Freitas. Por problemas políticos e de ordem pessoal, o intendente Viriato Vianna, que também era médico, afastou-se da administração municipal, passando-a a Cândido em 3 de março de 1906.
À frente do município, Cândido Freitas concluiu, já naquele primeiro ano de seu mandato, a arborização da Praça José Bonifácio, iniciada por David Soares de Barcellos, e autorizou a construção de um quiosque na mesma praça, onde eram comercializados lanches e bebidas.
1906 foi ano de grande seca e a economia do município, essencialmente agrícola, ressentiu-se dos efeitos da estiagem. Para reduzir os custos, Cândido determinou medidas de economia para as finanças municipais, dentre elas a redução de seus vencimentos como intendente e a diminuição dos dias de recolhimento do lixo, que de diário passou para apenas três vezes por semana. Preocupado especialmente com o atendimento dos doentes pobres, nomeou o Dr. Balthazar de Bem para a assistência pública.
Mas Cândido Alves Machado de Freitas destacou-se mesmo na criação e organização do Hospital de Caridade, inaugurado em 11 de dezembro de 1910, quando ele foi empossado o primeiro diretor. Foi também o responsável pela criação de uma sociedade beneficente para sua manutenção.
Como médico, clinicava na Rua Sete de Setembro, realizava serviço como legista e colaborava com o jornal O Commercio publicando artigos de saúde na coluna intitulada Útil a todos.
No ano de 1913, a fim de prover a educação do filho, mudou-se com a família para Porto Alegre. Quando de sua morte, em Belo Horizonte, Minas Gerais, em 1938, já era viúvo de Mariana Gomes de Freitas, deixando o filho único Dr. Cândido Machado de Freitas Filho (Jornal O Commercio, 9/11/1938, p. 2).
Ainda que praticamente esquecido nos dias de hoje, o tempo reservou o nome de Cândido A. M. de Freitas quando se evocam as memórias dos primeiros intendentes do município e a história do Hospital de Caridade. Vão-se os homens, preservam-se seus feitos.
(MR)
À frente do município, Cândido Freitas concluiu, já naquele primeiro ano de seu mandato, a arborização da Praça José Bonifácio, iniciada por David Soares de Barcellos, e autorizou a construção de um quiosque na mesma praça, onde eram comercializados lanches e bebidas.
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Quiosque na Praça José Bonifácio - fototeca Museu Municipal |
1906 foi ano de grande seca e a economia do município, essencialmente agrícola, ressentiu-se dos efeitos da estiagem. Para reduzir os custos, Cândido determinou medidas de economia para as finanças municipais, dentre elas a redução de seus vencimentos como intendente e a diminuição dos dias de recolhimento do lixo, que de diário passou para apenas três vezes por semana. Preocupado especialmente com o atendimento dos doentes pobres, nomeou o Dr. Balthazar de Bem para a assistência pública.
Como médico, clinicava na Rua Sete de Setembro, realizava serviço como legista e colaborava com o jornal O Commercio publicando artigos de saúde na coluna intitulada Útil a todos.
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Receituário do médico Candido A. M. de Freitas - consultório na Rua 7 de Setembro n.º 35 A - acervo documental Arquivo Histórico |
No ano de 1913, a fim de prover a educação do filho, mudou-se com a família para Porto Alegre. Quando de sua morte, em Belo Horizonte, Minas Gerais, em 1938, já era viúvo de Mariana Gomes de Freitas, deixando o filho único Dr. Cândido Machado de Freitas Filho (Jornal O Commercio, 9/11/1938, p. 2).
Ainda que praticamente esquecido nos dias de hoje, o tempo reservou o nome de Cândido A. M. de Freitas quando se evocam as memórias dos primeiros intendentes do município e a história do Hospital de Caridade. Vão-se os homens, preservam-se seus feitos.
(MR)
Bhá prima, te superastes, que espetáculo de narrativa vívida,translúcida,consegues transmitir didaticamente o calor dos acontecimentos sem deixar-se contaminar pelas ilações atuais, parabéns, texto escorreito e gostoso de ler-se, cada dia mais fã, teu primo e amigo.
ResponderExcluirLisonjeada, primo! O compromisso é cada dia maior! Obrigada!
ResponderExcluirValeu Mirian! Conheci um pouco mais da historia de Cachoeira.
ResponderExcluirValeu Mirian! Conheci um pouco mais da historia de Cachoeira.
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