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Monumento à Independência

A Semana da Pátria traz à lembrança os movimentos que culminaram com o célebre ato protagonizado por D. Pedro I às margens do Riacho Ipiranga, em São Paulo. O famoso grito de "Independência ou Morte", ainda que pouco difundido nos dias de hoje, segue como marca histórica de um período em que o Brasil buscava o nascimento como nação. O estudo e o ensino de história, assim como tudo no mundo, sofrem mudanças e o culto às personalidades históricas passa por momentos que oscilam entre a glória e o ostracismo...

Um documento enviado de São Paulo em 18 de julho de 1877 às câmaras municipais das cidades dos mais diferentes recantos do Brasil dá mostra do quanto o século XIX, em tempo bem próximo do 7 de setembro de 1822, ainda guardava grande louvor ao brado de Pedro I, considerando-o digno de eterna comemoração:


CM/S/SE/CR-010

Ill.mos Srs,

Possuindo a Côrte dois monumentos, e estando á eregir terceiro, nada existe, entretanto, em S. Paulo á assignalar a gloriosa colina onde se proclamou a Independencia do Brazil. Após mais de meio seculo o Governo não cura de perpetuar ahi o mais sublime dos feitos Nacionaes; de saldar a sagrada divida de gratidão da Patria aos heróes de nossa emancipação politica.

Em consequencia a Camara Municipal desta Cidade resolveo tomar a si a realisação da gloriosa empreza, appelando para o patriotismo Nacional. A' tal fim ella nomeou uma Comissão Central na Côrte, composta de conspicuos Cidadãos, e outra nesta Cidade. Esta, em data de 28 de Setembro de 1875, dirigiu Circular ás Camaras Municipaes do Imperio pedindo-lhes que nomeassem Commissões em cada Districto de Paz, afim de agenciarem donativos por meio de subscripção popular, pedido que igualmente foi feito pela referida Camara em igual Circular.

Presentemente, tendo o Imperio entrado em novo quatriennio municipal, e em consequencia, achando-se as Camaras Municipaes organisadas com pessoal diverso, e contando que VV. SS., por seu amor ao Paiz não deixaráo de cooperar para a eterna comemoração do feito que indepentisou o Brazil, vimos, por parte da referida Commissão desta Cidade, rogar-lhes que se dignem informar-nos do que ha occorrido á respeito, e procederem á nomeação das ditas Commissões, caso não tenham sido nomeadas, ou actival-as no cumprimento de seu encargo, si não tiver havido da parte dellas o preciso e esperado zelo.

Na satisfação do nosso pedido ha urgencia visto que brevemente vamos contractar a obra.

Contamos que VV. SS. não consentiráo que entre os mais Municipios do Imperio deixe de figurar como concorrendo para o Monumento de tão grande gloria do Brazil esse Municipio, aliás povoado, como o resto do Imperio, por Cidadãos de acrisolado patriotismo.

A correspondência segue orientando as comissões no trabalho de subscrição, chamando a atenção que as doações poderiam ser aceitas de ambos os sexos, por mais módicas que fossem, que os nomes dos subscritores seriam lançados em livro próprio por municípios e províncias, a ser impresso e distribuído gratuitamente e que todas as despesas seriam lançadas e divulgadas, ficando à disposição de quem quisesse verificá-las pelo prazo de três anos. 

Este documento, impresso, traz a assinatura do Secretário Diogo de Mendonça e do Presidente da Comissão Joaquim Ignacio Ramalho.

Monumento à Independência - junto ao riacho Ipiranga - São Paulo
- conjunto escultórico inaugurado em 1922 -
Apesar do patriotismo elevado daqueles tempos, os cachoeirenses, talvez preocupados com as questões locais, não conseguiram erigir nenhum monumento à Independência, embora tenham adotado para a sua principal praça o nome do seu patriarca: José Bonifácio de Andrada e Silva, de certa forma legando à posteridade não como pretendiam os paulistas o gesto do nosso primeiro imperador, mas o nome do homem que foi um dos principais personagens do movimento que separou definitivamente o Brasil de Portugal. Quanto às colaborações para o monumento de São Paulo... não há notícia, por enquanto, de subscrições de cachoeirenses.

(MR)

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