Foi com satisfação que a equipe do Arquivo Histórico recebeu a publicação Museus e histórias controversas: dizer o indizível em museus, resultado de uma reflexão proposta pelo Instituto Brasileiro de Museus - IBRAM sobre "quais as histórias que nossos museus estão contando? Como eles colaboram para a construção ou para o questionamento das versões oficiais dos grupos dominantes? Quais outras histórias precisam ser lembradas? Como trabalhar na expografia o confronto entre lembranças e esquecimento?"
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Capa da publicação de Franca - SP |
Uma das histórias retratadas na publicação, que contém outros onze textos, traz a vida de um personagem que se ligou a Cachoeira, mais especificamente ao comando da Guarda Nacional. Trata-se de José Pinheiro de Ulhoa Cintra, natural de Jacuí, Minas Gerais, e que foi coronel da República Rio-Grandense. A pesquisa, assinada por Sônia Regina Belato de Freitas Lelis e Walter Antônio Marques Lelis, foi publicada com o título Mineiros na Guerra dos Farrapos - Um filho de Jacuí - MG, Coronel da República Farroupilha, em cujas referências de consulta consta o Arquivo Histórico do Município de Cachoeira do Sul.
Segundo os autores, José Pinheiro de Ulhoa Cintra teria vindo para o Rio Grande do Sul em 1826, como alferes do 1.º Corpo de Artilharia, sediado em São Gabriel. De lá foi para Rio Pardo, onde constituiu família com a cachoeirense Ricarda Elisea da Silva, prima-irmã do General Manuel Luís Osório. O casal teria tido seis filhos, sendo um único homem, Jayme Pinheiro de Ulhoa Cintra. Durante a Revolução Farroupilha, em que teve participação importante, sua casa em Caçapava sediava reuniões dos farrapos. Conhecida por "Casa dos Ministérios", é tombada pelo IPHAE - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado. Naquela cidade, Ulhoa Cintra foi vulto político importante, tendo desempenhado as funções de vereador e juiz municipal, dentre outras. Foi ainda deputado provincial nas legislaturas de 1848/1849, de 1854/1855 e de 1863/1866. Seu falecimento, em Caçapava, se deu em 24 de julho de 1883.
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Dados de José Pinheiro de Ulhoa Cintra na publicação |
O arquivo de documentos da Guarda Nacional existente no Arquivo Histórico possui várias correspondências destinadas ou geradas pelo Major José Pinheiro de Ulhoa Cintra, oficial do comando da região de Cachoeira e Caçapava. Há neste arquivo também documentos que citam o tenente-coronel Jayme Pinheiro de Ulhoa Cintra, seu filho.
Em um destes documentos, o Major José Pinheiro oficia de Caçapava ao Tenente Coronel Balthazar Francisco de Bem, Chefe do Estado Maior e Comandante Superior interino da Guarda Nacional, remetendo por portador o pequeno arquivo que estava em seu poder, esclarecendo que por estar dispensado do exercício de major e doente, estava impossibilitado de prestar-se a qualquer exigência feita pela Guarda Nacional. O ofício traz a data de 4 de fevereiro de 1865.
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Arquivo Guarda Nacional - 4/2/1865 |
Documentos são suportes do tempo. Guardam histórias, muitas vezes indizíveis, termo muito apropriadamente empregado pelo IBRAM para trazer à tona histórias e diferentes versões, ou pontos de vista, fazendo emergir do passado personagens e fatos que poderiam seguir adormecidos até que alguém buscasse por eles. Ou não.
Os arquivos históricos, assim como os museus, podem ser depositários de acervos que se desdobram em diferentes possibilidades de narrativa e dialética. São instituições afins e complementares, oferecendo inúmeras e diferentes formas de leitura do passado.
Nota: agradecimentos aos pesquisadores Sônia Regina Belato de Freitas Lelis e Walter Antônio Marques Lelis pela oferta da publicação.
Nota: agradecimentos aos pesquisadores Sônia Regina Belato de Freitas Lelis e Walter Antônio Marques Lelis pela oferta da publicação.
MR
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