Atacar questões de asseio público é obrigação dos gestores em todos os tempos, porque mesmo no passado já havia o entendimento de que certos maus hábitos são responsáveis imediatos por problemas de saúde da população. Uma das primeiras manifestações de preocupação com estas questões em Cachoeira se deu em 1827, quando o cirurgião Gaspar Francisco Gonçalves alertou sobre os sepultamentos dentro da Igreja Matriz e o mau recolhimento das águas nas sangas e córregos da vila.
Na edição de 1.º de janeiro de 1918, o jornal O Commercio registra uma prática salutar empreendida pela administração municipal que era a de promover vistorias domiciliares em busca de irregularidades que atentassem contra o asseio e, logicamente, em casos de descumprimento das determinações constantes do código de posturas, aplicar multas.
Diz a matéria o seguinte:
Visitas domiciliares. - O [rasgado] Alexandre Lemos de Farias, fiscal da 2.ª zona urbana, procedeu na semana finda, a visitas domiciliares nas ruas Saldanha Marinho e Julio de Castilhos.
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Rua Saldanha Marinho - Fototeca Museu Municipal |
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Rua Júlio de Castilhos com tropa de animais - Coleção Claiton Nazar |
Em varios pateos e quintaes aquelle funccionario achou irregularidades quanto ao asseio, determinando a retirada de alguns suinos para fóra da cidade, sob pena de multa aos que não attendessem.
Tambem encontrou sargetas com depositos de aguas servidas em alguns hoteis, determinando e ordenando fosse a remoção dessa agua servida feita pela pipa da municipalidade.
Eram tempos de uma cidade que ainda continha em seu recinto chácaras e grandes quintais, onde os proprietários se entregavam à criação de animais para a sua subsistência. Também os hotéis e pensões, então em número significativo, não dispunham da modernidade do serviço de água e esgotos, cujo passo inicial seria dado somente na década seguinte, ou seja, em 1921, com a instalação da primeira hidráulica, e em 1923, com o assentamento dos primeiros condutos para esgoto. E a zona examinada, compreendida pelas ruas Saldanha Marinho e Júlio de Castilhos, só iria ter estes benefícios a partir de 1925, com a segunda hidráulica. As águas servidas, ou seja, usadas em banhos e limpezas de toda ordem, não deveriam correr livremente em valos, mas serem colhidas nas pipas da Intendência, cujo recolhimento era feito pela carroça do asseio público.
Hoje, cem anos depois, muito ainda há de desafios a serem vencidos na zona urbana. Ainda que o tempo tenha passado e trazido com ele avanços inimagináveis para aqueles que viviam os dilemas e as dificuldades do início do século XX, lutamos hoje com depósitos de água que proliferam mosquitos disseminadores de doenças, com esgotos correndo a céu aberto, com lixo jogado pelas ruas, advinda da deseducação de muitos! Como é possível perceber, asseio público é assunto de todas as épocas e a formação de hábitos passa também pela punição.
MR
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