Pular para o conteúdo principal

Fevereiro de 1918 - reabertura do Colégio Alemão-Brasileiro

Em fevereiro de 1918, o mundo ainda estava sob o efeito da 1.ª Guerra Mundial, cujo fim só aconteceria em novembro. Cachoeira não estava alheia aos acontecimentos e vivia também consequências do conflito mundial. Uma delas foi o fechamento do Colégio Alemão-Brasileiro, hoje Colégio  Sinodal Barão do Rio Branco, em razão de lá ser ministrado o ensino na língua alemã. O próprio nome da escola era alemão: Deutsch Brasilianische Schule. 

Deustsch Brasilianische Schule
O jornal O Commercio, em sua edição do dia 6 de fevereiro de 1918, traz uma boa notícia para a comunidade evangélica, tão ciosa da oferta de educação para os seus filhos:

Reabertura de uma escola. No principio do mez de Janeiro esteve na Intendencia Municipal a directoria da escola mantida pela Communidade Evangelica da Cachoeira, composta dos srs. Ernesto Müller, Augusto Wilhelm e Emilio Schlabitz, solicitando permissão para ser reaberta a referida escola, com a condição de leccionar sómente a lingua portugueza.

O capitão Francisco Gama consentiu na reabertura, sob o compromisso formal de ser ministrado exclusivamente o ensino da lingua vernacula.

Posteriormente foi pedida á Intendencia, pela referida directoria, uma relação dos livros adoptados nas escolas publicas, a qual foi fornecida.

As autoridades locaes exercerão a fiscalisação da referida escola, que foi reaberta no dia 4, às 8 horas da manhã.

São professores daquelle estabelecimento de ensino o sr. Gustavo Schreiber, a exma. sra. d. Gertrudes Mützel e o sr. pastor Germano Dohms, que tambem exerce as funcções de director.

A notícia acima mostra que houve um importante acordo entre o Intendente, Capitão Francisco Fontoura Nogueira da Gama, e o diretor da escola, o Pastor Germano Dohms, também a liderança religiosa da comunidade e porta-voz de decisão tomada entre os seus membros.

Augusto Wilhelm e Ernesto Müller que junto a Emílio Schlabitz
solicitaram a reabertura da escola 


Capitão Francisco Gama - Intendente
- Galeria de Intendentes
Pastor Hermann (Germano) Dohms - Portal Luterano

O Pastor Dohms, um dos grandes nomes do Sínodo Rio-Grandense, havia chegado em Cachoeira no ano de 1914, quando a comunidade contava apenas com 44 membros, mas já havia construído um prédio para a escola, onde ele encontrou acomodação para morar em um pequeno apartamento e um auditório para realizar os cultos. Tornou-se o primeiro diretor da escola, voltando-se para a educação da juventude. Em dois anos, aumentou o número de alunos de 47 para 137 matriculados. De ano em ano, segundo informações do Pastor Kurt Benno Eckert*, ia acrescentando uma série, chegando ao final de quatro anos a contar com oito séries. Por esse tempo, o Colégio Alemão-Brasileiro equiparou-se às mais requintadas escolas da capital. Dohms também foi o criador do "Proseminar" - Instituto Pré-Teológico para formação de pastores luteranos. O prédio do Proseminar foi erguido em seis meses no ano de 1917, projetado pelo arquiteto Hans von Hof.

Prédio do antigo Proseminar - tombado - Arquivo COMPAHC
Anos mais tarde, como mostra anúncio n'O Commercio de junho de 1933, a escola era chamada Colégio Brasileiro-Alemão.

Anúncio n'O Commercio - janeiro de 1933

A mais do que centenária história do Colégio Sinodal Barão do Rio Branco mostra a força da Comunidade Evangélica de Confissão Luterana de Cachoeira do Sul e das suas lideranças desde 1893, ano da sua criação, dando sustentação à trajetória importantíssima deste educandário que tantas gerações formou e ainda formará.

*Fonte: livro Quando Florescem os Arrozais - História da Comunidade Evangélica de Confissão Luterana de Cachoeira do Sul, Pastor Kurt Benno Eckert. Martins Livreiro - Editor, Porto Alegre, 1994.

MR

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A enchente de 1941

As grandes enchentes de 2015 remetem o interesse para eventos climáticos semelhantes ocorridos em outras épocas. De imediato, a grande enchente de 1941, referência para a magnitude deste tipo de calamidade, vem para as rodas de conversa, recheia as notícias da imprensa e, já mais raramente, ainda encontra testemunhas oculares para darem suas impressões. O jornal O Commercio , edição do dia 14 de maio de 1941, constante da coleção de imprensa do Arquivo Histórico, traz na primeira página a repercussão da grande cheia, refere os prejuízos na economia, especialmente no setor orizícola, e dá ciência das primeiras providências das autoridades após a verificação dos estragos: Apezar das ultimas chuvas continúa baixando o nivel das águas Jamais o coração dos riograndenses se sentiram tão cheios de tristeza, de aflição, de tantas apreensões, como por ocasião dessa catástrofe imensamente incalculaveis nos prejuizos, estragos e fatalidades, derivados das incessantes e cerradas chuva...

Casa da Aldeia: uma lenda urbana

Uma expressão que se tornou comum em nossos dias é a da "lenda urbana", ou seja, algo que costuma ser afirmado pelas pessoas como se verdade fosse, no entanto, paira sobre esta verdade um quê de interrogação!  Pois a afirmação inverídica de que a Casa da Aldeia é a mais antiga da cidade é, pode-se dizer, uma "lenda urbana". Longe de ser a construção mais antiga da cidade, posto ocupado pela Catedral Nossa Senhora da Conceição (1799), a Casa da Aldeia, que foi erguida pelo português Manoel Francisco Cardozo, marido da índia guarani Joaquina Maria de São José, é mais recente do que se supunha. Até pouco tempo, a época tida como da construção da casa era dada a partir do requerimento, datado de 18 de abril de 1849, em que Manoel Francisco Cardozo: querendo elle Suppl. Edeficar umas Cazas no lugar da Aldeia ecomo Alli seaxe huns terrenos devolutos na Rua de S. Carlos que faz frente ao Norte efundos ao Sul fazendo canto ao este com a rua principal cujo n...

Hospital da Liga - uma obra para todos

Interessante recobrar a história de construção do Hospital da Liga Operária, o gigante do Bairro Barcelos, que se ergueu sob a batuta do maestro do operariado cachoeirense: o vereador José Nicolau Barbosa. E justamente agora que o município planeja desapropriá-lo para nele instalar o sonhado curso de medicina. José Nicolau Barbosa apresentando a obra do Hospital da Liga Operária - Acervo familiar O sonho do Nicolau, como ficou conhecido o empenho que aplicou sobre a obra, nunca chegou a se realizar, uma vez que a edificação não pôde ser usada como hospital. Ainda assim, sem as condições necessárias para atendimento das exigências médico-sanitárias, o prédio de três andares vem abrigando a Secretaria Municipal de Saúde. Mesmo desvirtuado de seu projetado uso original, mantém o vínculo com o almejado e necessário atendimento da saúde do trabalhador cachoeirense. O Jornal do Povo , edição de 1.º de março de 1964, traz uma entrevista com José Nicolau Barbosa, ocasião em que a reportagem do...