Diz Anna Fran.ca Roiz. Pereira, residente em Porto Alegre, por seu procurador abaixo assignado, que tendo subido extraordinam.te o preço dos alugueis de casas, e a fim de fazer face ao pagam.to da que aluga p.ª sua moradia e de sua numerosa familia, vem respeitosam.te pedir a V.S.ª se digne ordenar q. d'esta data em diante lhe seja pago o aluguel da casa occupada pela Guarda Municipal, pelo preço de quarenta mil reis mensaes; attendendo tambem a q. é um edificio que está sugeito a m.tos estragos, cujas reconstrucções correm por conta da proprietaria supp.e, como succedeu por occasião do conflicto de 25 de Março de 1891, q. nenhuma indemnisação teve a supp. do Governo Federal como era de justiça, attendendo mais a que com o pagam.to da décima urbana que integralm.te faz a supp.e, nao fica oneroso aos cofres municipaes o acrescimo que pede: Portanto
P. a VS.ª se digne
deferir o q. requer
E R. M.ce
Cachoeira 31 de Março 1894
Policarpo Perª de Carvº e S.ª
(IM/S/SE/CR-001)
O requerimento de Anna Francisca Rodrigues Pereira, que havia sido a primeira professora pública nomeada em Cachoeira, traz uma informação muito interessante quando solicitou ao intendente que ordenasse lhe fosse majorado o aluguel para 40.000 réis mensais pela casa ocupada em Cachoeira como quartel da guarda municipal. Com o valor desse aluguel, poderia fazer frente ao que lhe era cobrado pela casa de moradia que alugava para sua numerosa familia. Em seus argumentos para o aumento do aluguel, Anna Francisca referiu que a casa necessitava de muitos reparos que corriam por sua conta, como ocorrera por ocasião de um conflito havido na cidade. Com este simples pedido, ela lança o olhar de hoje para um episódio acontecido em 25 de março de 1891, fato que até o presente momento não havia sido descoberto, muito em razão da inexistência de exemplares de jornais da época. Que conflito teria sido este?
Desde 1884, Porto Alegre dispunha do jornal A Federação, órgão do Partido Republicano, que noticiava os acontecimentos nos mais diferentes recantos do estado. E eis que na edição de 27 de março de 1891, pôde ser encontrada a notícia Conflicto na Cachoeira, onde se lê que na noite de 25 ocorreu luta entre praças da guarda cívica e do batalhão de engenheiros estacionado na cidade. Encontrando-se em uma rua travaram lucta, informa o jornal. Os praças da guarda cívica buscaram reforços em seu quartel e partiram a atacar o do batalhão de engenheiros. Ali travou-se grave conflicto, ficando feridos soldados de parte a parte. Tambem ficaram feridos o tenente Carlos Pacheco, commandante da secção civica, e o delegado de policia. Pessoas do povo tambem tomaram parte na lucta, a favor das praças civicas. Obedecendo a ordens superiores o batalhão partiu hoje para esta capital, pela estrada de ferro de Porto Alegre a Uruguayana, ficando na Cachoeira os soldados feridos a elle pertencentes. O jornal informou ainda que seguiria para Cachoeira um reforço da guarda cívica.
Na edição do dia seguinte, o jornal faz uma mais bem detalhada descrição do conflito, dizendo que tudo começara no dia anterior, quando um soldado do batalhão havia sido ferido por outro da guarda cívica. Em a noite do dia seguinte, logo após a entrada do sol, começaram a apparecer grupos de soldados do batalhão, munidos de cacetes e armas brancas. Começaram os ataques e na contenda o grupo invasor do quartel da guarda civica, composto de cerca de trinta soldados do batalhão, quebrou janellas, arrombou portas, extraviou o archivo, tomou o armamento e com elle começou a fazer fogo contra os populares que então se reuniam na praça. Cerca de uma hora durou o tiroteio. Alem do commandante da guarda civica e do delegado, ficaram feridos mortalmente um guarda e um cidadão, e outros levemente.
Pelo que se deduz das informações contidas n'A Federação, os envolvidos no conflito representavam maus elementos que tinham participado dos episódios ocorridos no Rio. Na confusão em Cachoeira, não acataram as ordens de disciplina dos distinctos officiaes do batalhão que se apresentaram para contel-os na occasião do ataque ao quartel da guarda civica.
O inocente requerimento da antiga professora Anna Francisca Rodrigues Pereira, cujo despacho do intendente não lhe foi favorável, traz à luz de nossos dias preciosas e até então desconhecidas informações. E juntamente com as novas, traz interrogações que, por enquanto, ainda ficarão à espera de desvendamento. Que conflitos teriam se ferido no Rio? Seria a casa que ela solicitava majoração no aluguel a antiga Aula de Meninas, onde começara a lecionar no final dos anos 1840? Tal casa, segundo ela mesma informou no requerimento, havia sido bastante avariada com o conflito. E sendo aquela a casa, sua localização, na Rua Moron, próxima às praças da Igreja e do Mercado, permitiria que lá o povo se reunisse para observar a briga.
Daqui a pouco, quando menos se espera, poderão surgir outros documentos com luzes sobre estas dúvidas. Mas muito importante, um excelente achado, foi a preciosa informação que termina a matéria da edição do dia 28 de março de 1891 d'A Federação: O dr. Ramiro Barcellos compareceu a prestar soccorros medicos aos feridos. Definitivamente o documento encontrado é demais precioso, pois abriu uma janela para o passado, comprovando que o Dr. Ramiro Barcellos realmente um dia clinicou na terra natal!
MR
![]() |
Requerimento 31/3/1894 - IM/S/SE/CR-002 |
O requerimento de Anna Francisca Rodrigues Pereira, que havia sido a primeira professora pública nomeada em Cachoeira, traz uma informação muito interessante quando solicitou ao intendente que ordenasse lhe fosse majorado o aluguel para 40.000 réis mensais pela casa ocupada em Cachoeira como quartel da guarda municipal. Com o valor desse aluguel, poderia fazer frente ao que lhe era cobrado pela casa de moradia que alugava para sua numerosa familia. Em seus argumentos para o aumento do aluguel, Anna Francisca referiu que a casa necessitava de muitos reparos que corriam por sua conta, como ocorrera por ocasião de um conflito havido na cidade. Com este simples pedido, ela lança o olhar de hoje para um episódio acontecido em 25 de março de 1891, fato que até o presente momento não havia sido descoberto, muito em razão da inexistência de exemplares de jornais da época. Que conflito teria sido este?
Desde 1884, Porto Alegre dispunha do jornal A Federação, órgão do Partido Republicano, que noticiava os acontecimentos nos mais diferentes recantos do estado. E eis que na edição de 27 de março de 1891, pôde ser encontrada a notícia Conflicto na Cachoeira, onde se lê que na noite de 25 ocorreu luta entre praças da guarda cívica e do batalhão de engenheiros estacionado na cidade. Encontrando-se em uma rua travaram lucta, informa o jornal. Os praças da guarda cívica buscaram reforços em seu quartel e partiram a atacar o do batalhão de engenheiros. Ali travou-se grave conflicto, ficando feridos soldados de parte a parte. Tambem ficaram feridos o tenente Carlos Pacheco, commandante da secção civica, e o delegado de policia. Pessoas do povo tambem tomaram parte na lucta, a favor das praças civicas. Obedecendo a ordens superiores o batalhão partiu hoje para esta capital, pela estrada de ferro de Porto Alegre a Uruguayana, ficando na Cachoeira os soldados feridos a elle pertencentes. O jornal informou ainda que seguiria para Cachoeira um reforço da guarda cívica.
Jornal A Federação - edição de 27/3/1891 http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=388653&PagFis=6107&Pesq=mar%C3%A7o%20de%201891 |
Jornal A Federação - edição de 28/3/1891 http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=388653&PagFis=6107&Pesq=mar%C3%A7o%20de%201891 |
Pelo que se deduz das informações contidas n'A Federação, os envolvidos no conflito representavam maus elementos que tinham participado dos episódios ocorridos no Rio. Na confusão em Cachoeira, não acataram as ordens de disciplina dos distinctos officiaes do batalhão que se apresentaram para contel-os na occasião do ataque ao quartel da guarda civica.
O inocente requerimento da antiga professora Anna Francisca Rodrigues Pereira, cujo despacho do intendente não lhe foi favorável, traz à luz de nossos dias preciosas e até então desconhecidas informações. E juntamente com as novas, traz interrogações que, por enquanto, ainda ficarão à espera de desvendamento. Que conflitos teriam se ferido no Rio? Seria a casa que ela solicitava majoração no aluguel a antiga Aula de Meninas, onde começara a lecionar no final dos anos 1840? Tal casa, segundo ela mesma informou no requerimento, havia sido bastante avariada com o conflito. E sendo aquela a casa, sua localização, na Rua Moron, próxima às praças da Igreja e do Mercado, permitiria que lá o povo se reunisse para observar a briga.
![]() |
Antiga Aula de Meninas, na Rua Moron - COMPAHC |
Daqui a pouco, quando menos se espera, poderão surgir outros documentos com luzes sobre estas dúvidas. Mas muito importante, um excelente achado, foi a preciosa informação que termina a matéria da edição do dia 28 de março de 1891 d'A Federação: O dr. Ramiro Barcellos compareceu a prestar soccorros medicos aos feridos. Definitivamente o documento encontrado é demais precioso, pois abriu uma janela para o passado, comprovando que o Dr. Ramiro Barcellos realmente um dia clinicou na terra natal!
![]() |
Dr. Ramiro Barcellos - Wikipédia |
MR
Comentários
Postar um comentário