Cachoeira em 1891 tinha na agricultura, no comércio e na prestação de serviços farta fonte de recursos para a Junta Municipal, como era chamada a comissão de cidadãos que gerenciava a vida político-administrativa e os negócios municipais no momento que sucedeu a proclamação da República (15 de novembro de 1889). O Mercado Público, ao centro da Praça José Bonifácio, com seus quase dez anos de funcionamento, oferecia uma numerosa gama de produtos e serviços aos seus frequentadores, polo que atraía os moradores da zona colonial e outras do interior do município, pulsando em conversas animadas, negócios e apregoações.
Na indústria, destaque para as cervejarias, tamancarias, fábricas de sabão, de banha, de melado e rapaduras. Na organização administrativa e burocrática, no setor das finanças municipais, então denominado de Seção de Recebedoria e Pagadoria, vários livros de registro de receita e despesa recebiam todas as anotações necessárias para garantir o efetivo controle de entradas e gastos.
Um destes volumes traz o lançamento de impostos sobre indústrias e profissões e é excelente fonte para conhecimento das atividades desenvolvidas, os nomes das pessoas e profissionais existentes e os seus locais de desempenho.
![]() |
Folha de rosto dos lançamentos - JM/Po/DRD/B-001 |
Uma das constatações que o documento permite é a localização dos principais negociantes ser na Rua Sete de Setembro. Nesta via, até hoje a mais importante da cidade, conviviam pequenos, médios e grandes estabelecimentos comerciais, indústrias e escritórios, locais de serviços diversos, como funilarias, relojoarias, padarias, alfaiatarias, sapatarias e hotéis, para citar somente alguns. Nomes conhecidos através do tempo, pelo protagonismo histórico, também surgem, como os de Isidoro Neves da Fontoura, um dos mais importantes políticos do século XX e que, num futuro próximo àquela época, ocuparia a chefia do Partido Republicano local e a Intendência Municipal.
![]() |
Isidoro Neves da Fontoura - estabelecido com casa de negócio em 1891 |
Outra personalidade da época, Crescêncio da Silva Santos, construtor do Mercado Público, aparece na lista estabelecido como marceneiro na Rua Moron. Alfredo Xavier da Cunha, futuro intendente do município, mantinha açougue no Mercado e Raphael Riccardi, italiano que se celebrizou trabalhando com sapatos, tinha uma sapataria e casa de negócios na Rua 15 de Novembro.
O documento revela também profissões que desapareceram - ou quase - com o tempo e a modernização da sociedade: pipeiros (os vendedores de água em pipas), mascates, seleiros, curtidores de couro, fabricantes de tamancos e outras.
Os menores valores pagos ficavam na cifra de cinco mil réis (5$000), taxa aplicada para quem possuía carroças particulares, pipas d'água, chegando ao máximo de 60 mil réis (60$000) para proprietários de algumas casas de negócio.
Manusear documentos conservados em arquivos é mais do que viajar no tempo, é buscar neles peças para compor o imenso quebra-cabeças que constitui a história.
MR
Comentários
Postar um comentário