Pular para o conteúdo principal

Château d'Eau colorido

Quem passa pela Praça Dr. Balthazar de Bem e observa a monumentalidade do Château d'Eau nem sequer imagina que há décadas atrás uma inusitada ação conferiu-lhe aspecto diverso do que fora planejado por seus construtores.

Praça Dr. Balthazar de Bem - Foto Renato F. Thomsen

É provável que muitos ainda lembrem que as ninfas receberam uma pintura que coloria seus cabelos, túnicas e cântaros. Logicamente houve reações contrárias à audácia de desfazer a imagem monocromática original das divindades que circundam o monumento. Para os autores da proeza, talvez a motivação tenha sido a ilusão de dar às figuras mitológicas ares de meras mortais.



Em agosto de 1964, um dos vereadores que compunham a Câmara Municipal, Erondino Rael da Rosa, escreveu um texto que discorre sobre as ninfas em que justifica a pintura que receberam:

Texto de Erondino Rael da Rosa - Fundo Prefeitura Municipal
- sem classificação

Ninfas. Permitam-me falar sôbre ninfa, em virtude de se tratar de uma figura existente na mitologia, e pela razão de não ser mitólogo. No entanto, nem por isso, acho-me privado de falar ou escrever a respeito de mitologia. 

Existem muitas obras que tratam de mitologia, e, estão ao alcance de qualquer pessoa. De acordo com o que já li, a palavra (vocábulo) ninfa, significa: Divindade fabulosa dos rios, dos bosques e dos montes, segundo a mitologia grega e latina. Fig. Mulher formosa e jovem.

Ora, as fabulosas ninfas de que trata a mitologia eram verdadeiras deusas da beleza, e teriam, lògicamente, que ter suas vestes, também belas. Logo assim, não vejo motivos para críticas, naturalmente, destrutivas, em relação à pintura de nossas ninfas. As ninfas da Praça Baltazar de Bem. A nossa querida Praça da Matriz.

Na parte superior do "chateau deaux", isto é, em cima da caixa d'água está postado o rei dos mares, Neptuno. Em baixo ao redor, as ninfas rainhas dos rios, dos bosques, dos montes e dos prados. Depois, o lago onde está instalada a fonte luminosa. À esquerda, a Igreja Matriz, a Casa de Deus. À direita a Prefeitura Municipal, a Casa do Povo. Na parte sul, o busto de um dos mais eminentes filhos da terra, o Dr. Liberato Salzano Vieira da Cunha. Na outra parte, o de Antônio Vicente da Fontoura, figura destacada do passado.

A Praça da Matriz, certamente, servirá de orgulho não tão sòmente aos cachoeirenses, mas, a todos os rio-grandenses.


Cachoeira do Sul, 26 de agôsto de 1964.-
Erondino Rael da Rosa

A defesa das cores das ninfas feita no texto do vereador não esclarece se a pintura já estava realizada ou se era apenas uma cogitação. O fato é que ela se concretizou. Não foram ainda localizadas notícias sobre a obra para apurar maiores detalhes ou até mesmo a motivação da iniciativa. Tampouco são conhecidas fotografias deste período... 

Quanto tempo assim permaneceram as coloridas ninfas? Que reações provocaram nas pessoas? O Arquivo Histórico lança o desafio aos cachoeirenses para varrerem seus arquivos em busca de provas desta "aventura" pictórica...

MR

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A enchente de 1941

As grandes enchentes de 2015 remetem o interesse para eventos climáticos semelhantes ocorridos em outras épocas. De imediato, a grande enchente de 1941, referência para a magnitude deste tipo de calamidade, vem para as rodas de conversa, recheia as notícias da imprensa e, já mais raramente, ainda encontra testemunhas oculares para darem suas impressões. O jornal O Commercio , edição do dia 14 de maio de 1941, constante da coleção de imprensa do Arquivo Histórico, traz na primeira página a repercussão da grande cheia, refere os prejuízos na economia, especialmente no setor orizícola, e dá ciência das primeiras providências das autoridades após a verificação dos estragos: Apezar das ultimas chuvas continúa baixando o nivel das águas Jamais o coração dos riograndenses se sentiram tão cheios de tristeza, de aflição, de tantas apreensões, como por ocasião dessa catástrofe imensamente incalculaveis nos prejuizos, estragos e fatalidades, derivados das incessantes e cerradas chuva...

Casa da Aldeia: uma lenda urbana

Uma expressão que se tornou comum em nossos dias é a da "lenda urbana", ou seja, algo que costuma ser afirmado pelas pessoas como se verdade fosse, no entanto, paira sobre esta verdade um quê de interrogação!  Pois a afirmação inverídica de que a Casa da Aldeia é a mais antiga da cidade é, pode-se dizer, uma "lenda urbana". Longe de ser a construção mais antiga da cidade, posto ocupado pela Catedral Nossa Senhora da Conceição (1799), a Casa da Aldeia, que foi erguida pelo português Manoel Francisco Cardozo, marido da índia guarani Joaquina Maria de São José, é mais recente do que se supunha. Até pouco tempo, a época tida como da construção da casa era dada a partir do requerimento, datado de 18 de abril de 1849, em que Manoel Francisco Cardozo: querendo elle Suppl. Edeficar umas Cazas no lugar da Aldeia ecomo Alli seaxe huns terrenos devolutos na Rua de S. Carlos que faz frente ao Norte efundos ao Sul fazendo canto ao este com a rua principal cujo n...

Hospital da Liga - uma obra para todos

Interessante recobrar a história de construção do Hospital da Liga Operária, o gigante do Bairro Barcelos, que se ergueu sob a batuta do maestro do operariado cachoeirense: o vereador José Nicolau Barbosa. E justamente agora que o município planeja desapropriá-lo para nele instalar o sonhado curso de medicina. José Nicolau Barbosa apresentando a obra do Hospital da Liga Operária - Acervo familiar O sonho do Nicolau, como ficou conhecido o empenho que aplicou sobre a obra, nunca chegou a se realizar, uma vez que a edificação não pôde ser usada como hospital. Ainda assim, sem as condições necessárias para atendimento das exigências médico-sanitárias, o prédio de três andares vem abrigando a Secretaria Municipal de Saúde. Mesmo desvirtuado de seu projetado uso original, mantém o vínculo com o almejado e necessário atendimento da saúde do trabalhador cachoeirense. O Jornal do Povo , edição de 1.º de março de 1964, traz uma entrevista com José Nicolau Barbosa, ocasião em que a reportagem do...