Em tempos de sonoras discussões a respeito da educação, sobre qual o papel da escola X o da família e sobre reduções de investimentos em área de extrema importância para a qualificação e desenvolvimento do país, vale olhar documentos do passado para perceber neles os sinais de valoração que gerações passadas emprestavam ao ato de ensinar crianças e jovens.
Retrocedamos ao final do século XIX, mais especificamente a 28 de novembro de 1896, época em que os alunos eram submetidos a exames para avaliação de seu desempenho por uma banca geralmente constituída por autoridades reconhecidas do município (o que conferia credibilidade ao exame e ao parecer). Nos exames, orais e escritos, não restava dúvida da qualificação do aluno e, consequentemente, da eficácia do papel do professor.
Cada exame gerava uma ata em que a comissão deixava seu parecer devidamente assinado. Pelos termos do documento, é possível verificar que disciplinas constavam do currículo e quais habilidades os alunos deviam demonstrar, o que concede um panorama da oferta de ensino daquela época.
Eis a ata de exames procedidos pela Intendência Municipal na 1.ª Aula Mista, da professora D. Emilia Praia de Sá, escolhida dentre outras tantas que há no acervo documental do Arquivo Histórico:
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IM/S/SI/Atas - Cx. 12 - 28/11/1896 |
Acta de exames.
Aos vinte e oito dias do mez de Novembro de 1896, a commissão abaixo assignada, constituida pela dignissima Intendencia Municipal, compareceu na sala onde funciona a 1.ª aula mixta, dirigida pela provecta professôra D Emilia Praia de Sá, e passando a proceder as provas de aproveitamento das alumnas e alumnos, que forão arguidos nas seguintes materias: calligraphia, leitura, lingua portugueza, arithmetica e geographia do Estado, pontos que forão satisfatoriamente respondidos por uma consideravel turma de alumnas e alumnos, distinguindo-se entre as primeiras, as alumnas: Alice de Almeida, Mathilde Xavier, Francisca Bemvenuto, Guilhermina Treptow, Sylvia Krieger, Jovelina Soares, Adél Pinheiro, Alfredo Rodrigues, Alice Vieira, Eloina de Almeida e Volfilda Hausen.
A maior parte das alumnas apresentaram tambem primorósos trabalhos da industria feminina, como bordados, crochets, etc. etc, que forão muito apreciados pela commissão e merecerão tanto mais attenção por serem alguns elaborados por meninas de idade muito tenra que mostrão não vulgar habilidade para delicados e bellos trabalhos concernentes ao adôrno domestico.
Portanto, a commissão não póde deixar desapercebido um vóto de louvor a digna professôra que pelo seu methodo de ensino, sua doçura maternal para com as alumnas, sua longa pratica e dedicação ao ensino faz-se credôra de toda a consideração e respeito publico.
Tambem recitou uma bella pesia a alumna D. Alice de Almeida, e um bello discurso análogo ao acto, a alumna D. Mathilde Xavier, que muito impressionou o auditorio.
Em fim, a commissão se exulta de prazer por ver que o ensino dado pela incansavel educadôra muito aproveitará a infancia e futura juventude da terra que foi nosso berço
A commissão
Tiburcio José de Magalhães.
Dionisio Pereira Porto.
Leonel Antonio de Sá.
(IM/S/SI/Atas - Caixa 12)
Além das informações de conteúdos e habilidades exigidas, o documento acima transcrito denota o tanto de respeito que a professora merecia e as qualidades que possuía, consentâneas com a sua época, quando à mulher de bem a profissão oportuna e aconselhável era a do magistério, justamente por aproximá-la, em seu exercício, das qualidades e dons de mãe. As boas alunas, seguindo a lógica daqueles tempos, necessitavam ser preparadas para a produção de objetos para o "adorno doméstico". Outros tempos e outra messe, literalmente...
MR
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