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Bancos para embelezar as praças

Uma notícia publicada no jornal O Commercio, datada de 2 de maio de 1906, na seção Noticiario, fala dos melhoramentos materiais pretendidos pelo vice-intendente em exercício, Dr. Candido Alves Machado de Freitas, e que para tal fim o município contrairia um empréstimo de vinte contos de réis, para o que já havia feito consulta ao Conselho Municipal. Aqueles eram tempos em que o administrador do município só podia contrair dívidas mediante autorização dos conselheiros, correspondentes hoje aos vereadores. Segundo a notícia:

(...) 

Entre outros melhoramentos que s. s. tem já executado, tenciona muito breve dar começo ao embellezamento da Praça do Mercado, mandando continuar o nivellamento e a arborisação da mesma, collocar bancos, construir calhas, passeios etc.

Diante dos melhoramentos noticiados, dois construtores da Cachoeira daquele tempo enviaram propostas à Intendência credenciando-se a executarem os bancos para as duas principais praças: a do Mercado, hoje José Bonifácio, e a da Conceição, hoje Dr. Balthazar de Bem. 

Bancos na Praça do Mercado (1913) - Museu Municipal


Banco na Praça da Conceição - Museu Municipal


Interessante observar a forma simples com que os profissionais ofereciam seus préstimos, o que mudou muito de lá para cá. Hoje, toda e qualquer obra pública exige dos postulantes à sua execução uma série de documentos e comprovações das credenciais. Os tempos mudam, assim como o grau das exigências.

O primeiro a mandar sua proposta foi o construtor Crescencio da Silva Santos que, fosse hoje, faria constar de seu documento a grande obra que havia executado para o município, ainda ao tempo do Império, quando construiu o Mercado Público. Crescencio oferecia seus serviços para execução dos bancos das praças, descrevendo o material a ser empregado e fazendo constar do documento um desenho singelo do modelo dos bancos:

O abaixo assignado propoem-se a suprir os 12 Bancos p.ª jardim com 10 palmos de comprimento, 3 pés de ferro em cada um, sendo os sarrafos de assento e encosto seguros com parafuzos com porca, a madeira a impregar-se toda de Louro, e pintadas a tinta verde, os 12             500:000

Os 12 Bancos para a prassa do Mercado, firmes no chão com madeira de lei e assento e encosto de tabôa de louro firmados a prego, e pintados, os 12 p.r a quantia de            300:000

Cachoeira, 22 de Maio de 1906

Crescencio da S.ª Santos

IM/S/SE/CR-006 - 22/5/1906


O outro proponente, João d'Araujo Bastos, fez constar em sua proposta o seguinte:

Proposta p.ª os bancos da Praça do Mercado e Praça da Igreja

O abaixo assignado propõem-se a construir doze bancos na Praça do Mercado, de accordo com indicação que é madeira angico e louro, custando cada banco 35$999, e todos (12 bancos) 420$000
12 Bancos na Praça da Igreja, com pés de ferro e assento de louro, custando cada banco R$ 25$000 e todos (12 bancos) R$ 300$000
Ditos bancos construidos com pintura.
Cachoeira, 25 de Maio de 1906
João d'Araujo Bastos


IM/S/SE/CR-006 - 25/5/1906


O ano de 1906 não foi fácil para o município de Cachoeira, cuja economia foi assolada pela seca e pela invasão e destruição de nuvens de gafanhotos. Mesmo assim, o vice-intendente Candido A. M. de Freitas conseguiu "atacar" várias obras de melhoramento urbano, como construção de calçadas e arborização das duas principais praças. Os bancos foram das últimas melhorias recebidas pela Praça do Mercado e Praça da Conceição e não é possível afirmar, ainda, que tenham sido ou não executados pelos construtores Crescencio da Silva Santos e João d'Araujo Bastos. De qualquer forma, suas propostas ficaram registradas para a posteridade nos velhos escaninhos da Intendência, estando hoje à disposição dos pesquisadores no acervo do Arquivo Histórico. Qualquer dia, nas infindáveis e deliciosas buscas, talvez surja a comprovação documental de quem os executou.

MR

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