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Sua Majestade O Álcool

Um dos mais combatidos vícios do ser humano é o alcoolismo. A pandemia que assola o mundo desde 2020 serviu também para aumentar o consumo de álcool entre as pessoas. No Brasil, segundo pesquisa feita com mais de 40 mil internautas, 18% deles revelaram estar bebendo mais durante a pandemia, contribuindo para potencializar os problemas advindos dessa prática. 


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Atravessam-se as eras e a luta para convencer as pessoas dos efeitos nefastos do álcool segue a mesma. Isto pode ser comprovado pela matéria publicada no jornal O Commercio de 24 de abril de 1900, reproduzindo texto do jornal Patria, de Rio Pardo, escrito por Catulle Mendes. Apesar dos 121 anos que separam a publicação dos nossos dias, ainda assim o texto mantém a atualidade, pois apesar do tempo decorrido e dos novos hábitos e vícios que surgiram o álcool segue soberano em suas "conquistas".

S. M. O ALCOOL

"Me conheceis?... Eu sou o principe de todas as alegrias; o companheiro de todos os gozos modernos, o mensageiro da morte, o principe que governa o mundo.

Eu estou presente em todas as cerimonias e nenhuma reunião tem lugar sem a minha presença.

Eu fabrico os ciumes, faço nascer nos corações os pensamentos máos, mancho os lugares, sou pae dos filhos sem pae, enveneno a raça, trago o envelhecimento, a depravação, os suicidios, a loucura, o crime em todas as suas formas imaginaveis.

Eu acábo com as familias, persigo os avós nos netos, faço perder a vergonha, a dignidade, a honra, a boa educação.

Eu ponho um véu sobre os olhos, sobre a consciencia e faço apparecer o crime como vingança, a abjecção como dignidade, a immoralidade como passa tempo, o adulterio como conquista galante.

Eu tenho ganho mais victorias que Alexandre, hei junguido [sic] mais povos ao meu carro que Roma, hei dominado mais povos que Attila.

Eu faço os deputados, obtendo-lhes votos para que façam leis que augmentem meu reino, que é de toda a terra.

Eu aspiro converter o mundo em um hospital, em um manicomio, em um circo onde estejam encerrados tigres, asnos, porcos, falcões e abutres, quero sangue, desolação, ruina, leviandades, rancores, guerras, desesperos e blasphemia.

Eu estou em todas as partes, conheço as frias regiões da Laponia e Siberia, as ardorosas do Egypto e Italia: tenho origem no trigo, arroz, o milho, a cevada, o succo da uva, a vide [sic], o leite, minha patria é a terra, meus escravos os homens, o que me envia o principe do mal.

Eu sei que me conheceis, porém não quereis declarar o meu nome, porque todavia vos resta o pudor dos homens, ja que haveis perdido dos factos.

- Eu sou vosso rei.

Eu sou D. Alcool!!

Parte da publicação em O Commercio, 25/4/1900, p. 2

O consumo moderado de bebidas alcoólicas não oferece maiores riscos à integridade física e à saúde. O problema surge quando o álcool se torna um hábito. A sociedade padece os efeitos dos vícios que a acometem, seja em que tempo for. O importante é conscientizar as pessoas das consequências das suas ações, tanto individual como coletivamente.

MR

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