Pular para o conteúdo principal

Arquivo e Museu: parceria entre instituições co-irmãs

Arquivos e Museus são instituições co-irmãs, pois ambas têm em comum o nobre objetivo de preservarem a memória histórica. Felizes são os munícipes que podem contar com sua existência, pois através delas legarão às gerações futuras os registros de seus feitos. 

Cachoeira do Sul viu nascer primeiro o Museu Municipal, em 1978, e dele, 19 anos mais tarde, o Arquivo Histórico. Apesar das especificidades de cada um, Arquivo e Museu amparam-se mutuamente, pois do primeiro espera-se a comprovação documental do que o segundo apresenta à comunidade na forma de exposições, dentre outras atividades próprias de sua natureza.

Na semana finda, retomando o necessário e imprescindível intercâmbio, reuniram-se integrantes do Arquivo Histórico com a diretora Gisele Wommer e parte da equipe técnica do Museu Municipal, em sua sede, para análise e definição de acervos. Entre 2009 e 2012, as duas instituições já haviam definido que o acervo de imprensa seria custodiado pelo Arquivo Histórico e as fotografias seriam todas repassadas à fototeca do Museu Municipal. Tal medida visava definir não só o processo de doação de acervo, mas também de sua oferta às necessidades de pesquisa da comunidade e até mesmo de fora dela. As fotografias, importantes registros da evolução histórica, também são documentos de grande valia nas reconstituições comumente feitas em exposições de museus, razão de se concentrarem no Museu Municipal, para onde o Arquivo costuma encaminhar as que chegam ao seu acervo, exceção se constarem de arquivos particulares.





Flagrantes da visita ao Museu, quando Mirian Ritzel e Neiva Köhler, do AHMCS,
foram recebidas pela diretora Gisele Wommer e pelos restauradores e técnicos
 André Medeiros e Joana B. Medeiros

Da visita resultou ao Arquivo Histórico enriquecer seu Acervo de Imprensa com exemplares avulsos de jornais que circularam em Cachoeira entre os anos de 1905 e 1964. O mais antigo deles é o jocoso OKU, orgam critico, humoristico, casuistico, thesourista, noticioso e moralista, exemplar número 11 do seu primeiro ano de circulação, datado de 29 de outubro de 1905 e com quatro páginas. 


Jornal Oku, única edição conhecida - Doação Museu Municipal Edyr Lima
- Imagem: Cristianno Caetano

Este jornal, de pequenas dimensões, era impresso nas oficinas tipográficas do jornal O Commercio que, em sua edição de 18 de outubro de 1905, publicou a seguinte nota sobre OKU:

O semanal Oku, nome que representa um dos maiores generaes do invulneravel Japão, é uma folhinha graciosa e inoffensiva. Jamais penetrou a sua verve no manancial da infamia. Jamais os jovens que o sustentam, indirectamente sequer, feriram a honra de nossas familias e nem tão pouco incendiaram paixões pessoaes. Á semelhança de semanarios que se publicam para aprendizagem de futuros escriptores intelligentes, o Oku é uma escola pratica, onde o espirito de nossa juventude exercita-se sem offender o decôro social.

O trecho acima faz parte de um artigo intitulado Alea jact est, expressão latina que quer dizer "a sorte está lançada", e refere uma admoestação feita pela Intendência Municipal aos redatores pela publicação do jornal. Em razão disso, Henrique Möller Filho, proprietário da tipografia editora de Oku foi intimado a comparecer à Intendência para assinar termo de responsabilidade que versava sobre obrigatoriedade da publicação do endereço da tipografia e sobre a proibição do anonimato de seus redatores. 

Termo de Responsabilidade assinado por Henrique Möller Filho - CM/OF/TA/-005, fl. 20

Como não existem exemplares anteriores do jornal, não é possível afirmar que não houvesse a citação do endereço e dos editores responsáveis. Mas o exemplar preservado no Museu Municipal e agora repassado ao Arquivo Histórico dá mostras de que sim, pela Declaração que aparece estampada na primeira página do número 11: 

Declaração

Para inteiro conhecimento publico e de quem possa interessar, declaramos que o pequeno e moralista jornal Oku, é de propriedade de uma associação anonyma; que somos seus unicos redactores responsaveis e que usamos os pseudonymos C. Bocage e A. Varão, pela ordem de nossas assignaturas.

Cachoeira, 16 Outubro de 1905.

Cacilio Tavares de Menezes.

Antonio Barcellos Sobrinho.

Como se vê, a transferência de acervo do Museu Municipal para o Arquivo Histórico, em apenas um dos exemplares repassados, já foi capaz de dar mostras do quanto uma instituição é capaz de completar a outra ou de ser sua aliada na recuperação da nossa memória.

Obrigada, colegas do Museu Municipal! Enriqueceu-se o Acervo de Imprensa do Arquivo Histórico, ganhou a área cultural de nossa Cachoeira do Sul!

MR

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Casa da Aldeia: uma lenda urbana

Uma expressão que se tornou comum em nossos dias é a da "lenda urbana", ou seja, algo que costuma ser afirmado pelas pessoas como se verdade fosse, no entanto, paira sobre esta verdade um quê de interrogação!  Pois a afirmação inverídica de que a Casa da Aldeia é a mais antiga da cidade é, pode-se dizer, uma "lenda urbana". Longe de ser a construção mais antiga da cidade, posto ocupado pela Catedral Nossa Senhora da Conceição (1799), a Casa da Aldeia, que foi erguida pelo português Manoel Francisco Cardozo, marido da índia guarani Joaquina Maria de São José, é mais recente do que se supunha. Até pouco tempo, a época tida como da construção da casa era dada a partir do requerimento, datado de 18 de abril de 1849, em que Manoel Francisco Cardozo: querendo elle Suppl. Edeficar umas Cazas no lugar da Aldeia ecomo Alli seaxe huns terrenos devolutos na Rua de S. Carlos que faz frente ao Norte efundos ao Sul fazendo canto ao este com a rua principal cujo n

O que tinha e o que faltava na Cachoeira do Sul de 50 anos atrás...

Cachoeira do Sul, outubro de 1973. O Clube de Diretores Lojistas,  hoje Câmara de Dirigentes Lojistas de Cachoeira do Sul - CDL, lançou um "volante", o que hoje chamamos de fôlder, ressaltando as potencialidades do município.  Interessante verificar a forma como a notícia chegou aos lares cachoeirenses através das páginas do Jornal do Povo,  que circulou no dia 23 de outubro daquele ano: O QUE CACHOEIRA DO SUL TEM E O QUE FALTA O Clube de Diretores Lojistas, sempre preocupado na promoção de Cachoeira do Sul sob todos os aspectos, tomou a iniciativa de imprimir um volante, relacionando o que esta cidade tem, de destaque, e o que lhe falta. Em reunião que o CDL realizou na noite de quarta-feira, foi este assunto abordado, pois uma das grandes preocupações de Gentil Bacchin, vice-presidente do CDL, em exercício, relaciona-se com a limpeza da cidade, assunto que está merecendo novas normas da administração municipal, mas que exige maior colaboração da população. O VOLANTE O volan

Colégio Estadual Diva Costa Fachin: a primeira escola de área inaugurada no Brasil

No dia 1.º de outubro de 1971, Cachoeira do Sul recebeu autoridades nacionais, estaduais e regionais para inaugurar a primeira escola de área do Rio Grande do Sul e que foi também a primeira do gênero a ter a obra concluída no Brasil. Trata-se do Colégio Estadual Diva Costa Fachin, modelo implantado com recursos do Programa de Expansão e Melhoria do Ensino Médio - PREMEM, instituído pelo Decreto n.º 63.914, de 26/12/1968.  Colégio Estadual Diva Costa Fachin - Google Earth A maior autoridade educacional presente àquela solenidade foi Jarbas Passarinho, Ministro da Educação, acompanhado por Euclides Triches, governador, e pelos secretários de Educação, Coronel Mauro Costa Rodrigues, de Interior e Justiça, Octávio Germano, das Obras Públicas, Jorge Englert, e da Fazenda, José Hipólito Campos, além de representantes do Senado, de outros ministérios, estados e municípios.  Edições do Jornal do Povo noticiando a inauguração da escola (30/9/1971 e 3/10/1971, p. 1) Recepcionados na Ponte do Fa