Seguindo com as postagens relativas aos 270 anos do povoamento açoriano no Rio Grande do Sul, abordaremos desta feita sobre aqueles que vindos dos Açores fizeram da região de Cachoeira sua morada e local de negócios, dando início a várias gerações que conservam traços sanguíneos oriundos daquele arquipélago.
Foi por volta de 1752 que seis irmãos d'Agueda rumaram dos Açores, mais especificamente da Ilha de São Jorge, para o Brasil, atraídos pelas ofertas de terras, sementes e utensílios para darem início a uma nova vida. Os seis irmãos eram João, Maria Santa, Antônio, Miguel, Felícia e Rosa Joaquina, filhos de João Teixeira d'Agueda e de Isabel Nunes, casados no dia 14 de outubro de 1726, na Freguesia de Nossa Senhora do Rosário, Vila do Topo, na Ilha de São Jorge. O sobrenome d'Agueda, ou de Agueda, era o resultado do aportuguesamento do sobrenome holandês Der Haagen, de família oriunda da cidade de Maastricht.
Os dois irmãos João e Antônio trocaram de nome no Brasil, adotando o sobrenome Pereira Fortes. O terceiro, Miguel, assinava Pereira Simões. Uma das justificativas para a troca do nome de João e Antônio, segundo historiadores, dentre eles o Dr. Fritz Strohschoen, foi a de que os irmãos teriam trabalhado na construção do forte de Rio Pardo, daí surgindo a alcunha "do Forte" e por associação, "Fortes".
João Pereira Fortes nasceu na Ilha de São Jorge em 15 de agosto de 1731 e se casou em Rio Pardo, no ano de 1756, com a também açoriana Eugênia Rosa, tendo o casal 12 filhos. Eram eles grandes proprietários de terras que se estendiam de Rio Pardo até Cachoeira, onde deixaram longa descendência. Dentre os descendentes, nomes importantes, como Borges de Medeiros e Ramiro Barcelos, para citar dois que foram personalidades ligadas à história de Cachoeira do Sul e do Rio Grande do Sul. Seu falecimento, em Rio Pardo, se deu em 19 de novembro de 1820, aos 90 anos, já viúvo de Eugênia Rosa.
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Capa do inventário da mulher de João Pereira Fortes (1812) - AP 09* |
João Pereira Fortes, segundo o historiador Paulo Xavier, constituiu um contrato de sociedade rural, dos primeiros que se tem registro, com o também açoriano Mateus Simões Pires. Nas palavras de Paulo Xavier:
Em sociedade com Mateus Simões Pires, adquiriu os campos da "Guardinha", nas margens do Jacuí e de "Nossa Senhora do Rosário" nas costas do Capivari. Em 1780, adquiriu a sesmaria do "Capão Grande" por compra ao tenente José da Silva Balday e também a da "Boa Vista", comprada a Santos Martins; teve ainda outra sesmaria denominada "Piqueri".**
Nessa sociedade, deram notícia de suas posses, em 1784, de 1.000 cabeças de gado, 30 cavalos, 600 éguas, 20 potros, 90 mulas e 15 burros.
Antônio Pereira Fortes, batizado na Ilha de São Jorge, em 26 de abril de 1736, foi casado primeiro com Maria da Encarnação (aparece também Conceição), em Rio Pardo, com quem teve três filhos, e depois com Elena Maria da Silva, tendo o casal oito filhos. Faleceu Antônio em 6 de janeiro de 1813, na Capela Curada de Santa Bárbara (Encruzilhada) com a idade de 70 anos.
Miguel Pereira Simões, nascido na mesma Ilha de São Jorge, em 3 de maio de 1738, casou-se com a também açoriana Josefa Maria de Mattos, natural da llha do Faial, filha de Francisco da Costa Mattos e Rosa Maria Garcia. O casal Miguel e Josefa tiveram os seguintes filhos: João José, Cipriano José, Santos José, Miguel, Joaquina Rosa, Escolástica Maria de Jesus, Severina Maria de Jesus e Alexandre José. Era morador na sede de Cachoeira e possuía terras nas redondezas aonde se dedicava à criação de animais, sendo proprietário de cerca de 700 cabeças de gado. Constam em seu nome registros de sesmaria a leste do Piquiri e outras extensões de terras, parte delas compradas do irmão João e seu sócio Mateus Simões Pires.
*O inventário de Eugênia Rosa, de que foi testamenteiro o marido João Pereira Fortes, integra o Arquivo Particular 09 (AP 09), constante de documentos que pertenceram ao historiador Fritz Strohschoen.
**Correio do Povo, de Porto Alegre/RS - Suplemento Rural - 16-II-1979.
MR
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