Pular para o conteúdo principal

E as vilas de Cachoeira viraram bairros

Há quarenta anos o município, seguindo avaliação do vereador Gilson Gomes Lisboa, corrigiu a denominação das vilas, tornando-as bairros.

Segundo noticiou o Jornal do Povo, de 30 de setembro de 1982, a decisão, que não foi do agrado do então prefeito Julio Cezar Caspani, foi aprovada.

Vilas passam a ser bairros, mas contra a vontade do Prefeito

A partir de hoje, deixam de existir as vilas Barcelos, Marina, Carvalho, Fátima, Oliveira e Soares. Em seus lugares surgem agora seis bairros com o mesmo nome, de acordo com o que determina a lei municipal promulgada pela Câmara de Vereadores, a qual não contava com a simpatia do prefeito Julio Cezar Caspani e só acabou instituída por decurso de prazo.

O projeto de lei é de autoria do vereador peemedebista Gilson Gomes Lisboa, que alegou a necessidade de dar aos locais a denominação mais correta do ponto de vista jurídico, embora o alcance da sua proposição ultrapassasse o atendimento de uma simples questão técnica.

Sustentando que a designação vila deveria ficar reservada às sedes de distritos, à luz da legislação, Gilson na verdade promoveu as ex-vilas a uma condição privilegiada, pela qual passam a merecer maior atenção do executivo municipal.

O prefeito Julio Cezar Caspani confessou que não estava de acordo com a idéia de substituir vilas por bairros, e cuidou de procurar na lei algum elemento que denunciasse a inconstitucionalidade do projeto do vereador oposicionista. Não encontrando  qualquer impeditivo legal à aprovação da lei, Caspani deixou de sancioná-la. A lei passou por decurso de prazo, mas Caspani se mantém  contrário à transformação das vilas em bairros. "A denominação vila tem todo um envolvimento histórico, não vejo por que mudar para bairro".


Jornal do Povo, 30/9/1982. p. 7

As vilas que tiveram oficializada a sua denominação para bairros, segundo texto da Lei Municipal N.º 1928, de 27 de setembro de 1982, foram Soares, Oliveira, Fátima, Barcelos, Marina e Carvalho,  passando a ser chamadas Bairro Soares, Bairro Oliveira, Bairro Fátima, Bairro Barcelos, Bairro Marina e Bairro Carvalho.

Mas bem antes da mudança promovida pela citada lei, já existia o Bairro Rio Branco, que foi o primeiro loteamento planejado da cidade, no ano de 1912, ou seja, 70 anos antes da troca de denominação de vilas para bairros. Depois, na década de 1920, surgiu o Bairro Fialho, hoje Santo Antônio. Em comum, nestes "arrabaldes pitorescos", o fato de terem sido nomeados como bairro desde o seu planejamento.

Em primeiro plano, o Bairro Rio Branco e, ao fundo, o Bairro Santo Antônio
- década de 1930 - Fototeca Museu Municipal

MR

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

A enchente de 1941

As grandes enchentes de 2015 remetem o interesse para eventos climáticos semelhantes ocorridos em outras épocas. De imediato, a grande enchente de 1941, referência para a magnitude deste tipo de calamidade, vem para as rodas de conversa, recheia as notícias da imprensa e, já mais raramente, ainda encontra testemunhas oculares para darem suas impressões. O jornal O Commercio , edição do dia 14 de maio de 1941, constante da coleção de imprensa do Arquivo Histórico, traz na primeira página a repercussão da grande cheia, refere os prejuízos na economia, especialmente no setor orizícola, e dá ciência das primeiras providências das autoridades após a verificação dos estragos: Apezar das ultimas chuvas continúa baixando o nivel das águas Jamais o coração dos riograndenses se sentiram tão cheios de tristeza, de aflição, de tantas apreensões, como por ocasião dessa catástrofe imensamente incalculaveis nos prejuizos, estragos e fatalidades, derivados das incessantes e cerradas chuva...

Casa da Aldeia: uma lenda urbana

Uma expressão que se tornou comum em nossos dias é a da "lenda urbana", ou seja, algo que costuma ser afirmado pelas pessoas como se verdade fosse, no entanto, paira sobre esta verdade um quê de interrogação!  Pois a afirmação inverídica de que a Casa da Aldeia é a mais antiga da cidade é, pode-se dizer, uma "lenda urbana". Longe de ser a construção mais antiga da cidade, posto ocupado pela Catedral Nossa Senhora da Conceição (1799), a Casa da Aldeia, que foi erguida pelo português Manoel Francisco Cardozo, marido da índia guarani Joaquina Maria de São José, é mais recente do que se supunha. Até pouco tempo, a época tida como da construção da casa era dada a partir do requerimento, datado de 18 de abril de 1849, em que Manoel Francisco Cardozo: querendo elle Suppl. Edeficar umas Cazas no lugar da Aldeia ecomo Alli seaxe huns terrenos devolutos na Rua de S. Carlos que faz frente ao Norte efundos ao Sul fazendo canto ao este com a rua principal cujo n...

Hospital da Liga - uma obra para todos

Interessante recobrar a história de construção do Hospital da Liga Operária, o gigante do Bairro Barcelos, que se ergueu sob a batuta do maestro do operariado cachoeirense: o vereador José Nicolau Barbosa. E justamente agora que o município planeja desapropriá-lo para nele instalar o sonhado curso de medicina. José Nicolau Barbosa apresentando a obra do Hospital da Liga Operária - Acervo familiar O sonho do Nicolau, como ficou conhecido o empenho que aplicou sobre a obra, nunca chegou a se realizar, uma vez que a edificação não pôde ser usada como hospital. Ainda assim, sem as condições necessárias para atendimento das exigências médico-sanitárias, o prédio de três andares vem abrigando a Secretaria Municipal de Saúde. Mesmo desvirtuado de seu projetado uso original, mantém o vínculo com o almejado e necessário atendimento da saúde do trabalhador cachoeirense. O Jornal do Povo , edição de 1.º de março de 1964, traz uma entrevista com José Nicolau Barbosa, ocasião em que a reportagem do...