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Marcas no gado

As marcas de gado, feitas a ferro quente, há séculos são utilizadas para definir a propriedade dos animais. Cada criador, portanto, precisa registrar junto às autoridades a sua própria marca, de forma que legalmente fica o sinal reconhecido.

Há no acervo documental do Arquivo Histórico livros de registros de marcas dos criadores locais desde o século XIX (1851) até o XX (1970). Por ocasião do registro, o escrivão tinha que desenhar no lugar específico o sinal adotado pelo criador. São muito interessantes os sinais empregados e bastante comum o uso das iniciais do proprietário do gado na marca registrada.

Algumas marcas do século XIX em Cachoeira - CM/S/SE/RM-001
- foto Cristianno Caetano

Em 24 de outubro de 1882, foi dirigida à Câmara de Cachoeira uma circular do Governo da Província do Rio Grande do Sul, sob número 1.770, determinando o local para a colocação das marcas no gado, visando a preservação do valor comercial do couro do animal. Diz o documento:

Palacio do Governo em Porto Alegre, 24 de Outubro de 1882.

Tendo a Sociedade Commercial, Industrial e Maritima de Antuerpia chamado a attenção do Governo Imperial sobre a necessidade de se providenciar no sentido de serem os animaes marcados nas extremidades do Corpo, afim de evitar-se que o couro dos mesmos diminúa de valor pelo signal de fogo com que são marcados em logares salientes, recommendo o assumpto a solicitude de Vmcês. para que se adoptem medidas tendentes ao desapparecimento dos inconvenientes lembrados pela mencionada Sociedade.

Deos Guarde a Vmcês.

(ass.) Leopoldo Antunes Maciel 


Circular - 24/10/1882 - CM/DA/Ofícios - Caixa 7

Marcas de gado interessam pesquisadores que recorrem ao acervo documental do Arquivo Histórico, como é o caso de Helmuth Weibben, que veio pela primeira vez em 2020, retornando no início de 2022.


Pesquisador Helmuth Weibben - 2020


Pesquisador Helmuth Weibben - 2022

A marcação do gado é indispensável para o criador não só para identificar a propriedade do rebanho, como para quem quer trabalhar com exportação. Modernamente, ganhou outros sistemas que permitem inclusive o rastreamento do animal. As formas mais usuais são o emprego de brincos e colares, persistindo ainda a marcação a ferro, devendo ser o instrumento de gravação de aço inoxidável e a aplicação feita na perna ou abaixo do ventre do animal. Na face não é recomendada a aplicação da marca, pois o incômodo da rês é maior.

Como se vê, o tempo trouxe evoluções e outras preocupações para os criadores, mas nem assim a velha marca do ferro em brasa deixou de ser utilizada.

MR

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