O jornal cachoeirense Rio Grande, órgão do Partido Republicano, que circulou entre 1904 e 1915, trouxe na edição de 22 de abril de 1908 algumas linhas sobre a data de 21 de abril, consagrada a Tiradentes, o mártir da Independência do Brasil, que foi executado pelas autoridades portuguesas em 1792 por ter incitado e divulgado o movimento conhecido como Inconfidência Mineira. Em 1908, fazia pouco tempo que o dia era considerado feriado nacional, instituído em 21 de abril de 1890. No ano de 1965, Tiradentes foi reconhecido como Patrono Cívico da Nação.
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Tiradentes - Uol Educação |
Diz a matéria do Rio Grande
Passou ante-hontem, a data consagrada aos precursores da Republica, symbolisados em Tiradentes.
21 de Abril sempre disperta na alma nacional um toque de enthusiasmo patrio, relembrando paginas sagradas da historia, escriptas com sangue, mas redivivas e brilhantes, attestando o surto de uma nacionalidade incipiente para a liberdade e para a luz.
Tiradentes revive nos corações genuinamente republicanos que sabem medir do quanto seria capaz aquella alma votada para o bem e para a liberdade patrios.
Apezar de passar despercebida essa data gloriosa, intimamente o coração republicano se eleva até à memoria do Inconfidente, abençoando-a e cobrindo-a das flores que o seu amor à Patria faz hoje desabrochar.
A matéria do Rio Grande referiu que a data havia passado despercebida no distante 1908. O que dizer dela e da figura que homenageia nos dias de hoje? Poucos lembram, quase ninguém mais fala.
MR
Quando se estuda a Literatura do período - e Vila Rica, com o perdão da redundância, era rica em poetas árcades -, a visão que se tem da Inconfidência é uma espécie de fanfarronice de alguns rapazes, como Claudio Manoel da Costa, que foi preso e suicidou-se na prisão, ou Tomás Antonio Gonzaga, que foi condenado ao degredo em África, mas regressou. Tiradentes teria sido uma espécie de bode expiatório para espantar eventuais novos aventureiros. Quando houve a proclamação da República, um pouco tendo como referência "Esaú e Jacó", de Machado de Assis, um pouco pensando na desmitificação dos salvadores da pátria, entende-se que era preciso um herói republicano, como não houve derramamento de sangue, como não houve mártir, Tiradentes teria sido "recuperado" na História passada, o que colabora para isso é a sua figura icônica, pictórica à imagem e semelhança de Jesus. De qualquer forma, concordamos em um ponto: pouco se lembra e pouco se fala sobre ele, sobre a História do país, pouco nos reconhecemos como nação (já que há uma ojeriza ao termo pátria, mais recentemente).
ResponderExcluirCara Elaine, reviver o fato histórico é impossível, interpretá-lo será sempre possível.
ExcluirPaul Veyne, em seu livro "Como se escreve a História", afirma que o historiador e o romancista são frutos da mesma árvore; se o romancista tem a liberdade para criar e recriar eventos históricos; o historiador precisa preencher lacunas que o fato histórico lhe coloca. Em última instância, a História, desde a invenção da escrita, é contada por meio da linguagem e, portanto, é "interpretável", né?! Se bem que, Arnold Hauser também faz ponderações sobre isso: animais pintados nas cavernas na Idade da Pedra eram celebrações de caça ou eram rituais que preparavam as caçadas. Por isso, Literatura e História são as minhas duas grandes paixões no campo do conhecimento.
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