Nas primeiras décadas do século XX era bastante comum a publicação de monografias sobre o Rio Grande do Sul e seus municípios, constituindo-se estes levantamentos da história, economia e sociedade verdadeiros retratos daqueles tempos. Estão nesta leva publicações como O Estado do Rio Grande do Sul, organizado por Monte Domecq em 1916, edição ilustrada com fotografias primorosas e impresso em Barcelona, e o Rio Grande do Sul, de Alfredo R. da Costa, editado em 1922. Pois o jornal O Commercio, que circulou no dia 30 de agosto de 1916, traz informações sobre a presença do organizador da então projetada publicação intitulada de O Rio Grande por dentro, Major Alfredo R. da Costa, que foram transcritas do jornal santamariense Diario do Interior:
"O Rio Grande por dentro" em Cachoeira
Refere o Diario do Interior, de Santa Maria:
O organizador desta grande obra, nosso companheiro major Alfredo R. da Costa, que se acha actualmente em Cachoeira, já reuniu importante elemento de representação daquella cidade e municipio em seu livro, já estando inscriptos para figurarem com as respectivas photographias, os estabelecimentos commerciaes e industriaes dos srs. Viuva José Müller & Cia., Cyro da Cunha Carlos, Serafim Riccardi, Roberto Danzmann, Carlos Böer, José Dini & Cia., Cicero Teixeira & Cia., Caetano Patta, Augusto Wilhelm & Cia., Emilio Schlabitz & Cia., J. Nunes & Cia., Aydos, Neves & Cia., Rodolpho Homrich; granjas dos srs. dr. Balthazar de Bem, capitão João Jorge Krieger, dr. Augusto Priebe; fazendas dos srs. Bento Alves, dr. Arlindo Leal, coronel Horacio Borges, capitão Francisco Gama e Virgilio Carvalho.
Para figurar na obra tambem já foram apanhadas photographias de varios aspectos da cidade, praças, ruas principaes, sociedadaes, funccionalismo, estação ferrea, porto, collegios, uzina electrica e de varias coisas que representam a vida local.
Em vitrinas de casas da rua 7 de Setembro têm sido expostas provas das numerosas photographias ali apanhadas, as quaes têm sido muito apreciadas.
Muitissimos outros estabelecimentos importantes serão ainda photographados, o que ainda não foi feito devido ao mau tempo que tem difficultado os trabalhos.
Cachoeira já tem muito o que mostrar, não só no commercio como nas industrias, sendo que é bastante adiantada na pecuaria e apresentando um desenvolvimento collossal a cultura do arroz.
Municipio rico, grande e populoso, desenvolve-se assombrosamente sob todos os aspectos que se o encare. Entre o seu forte commercio em todo o municipio como na cidade se vêm casas importantissimas; e movimentadissimo e florescente, promettendo tambem esta circumscripção, em breves annos, ser um grande emporio industrial, pois tem para isso elementos de vida propria.
A cidade augmentou de modo notavel, surprehendente mesmo nestes ultimos annos, sendo consideravel o numero de bellas construcções novas por todos os lados.
A abertura de novas ruas projectadas pelo governo municipal trará dentro em breve maior desenvolvimento ainda á construcção predial.
Cachoeira irá adiante em vertiginosa carreira porque o seu povo quer, anceia pelo progresso e attingirá o seu escopo em curto lapso de tempo.
O Rio Grande por dentro, estamos certos, mostrará condignamente aquella importante e futurosa circumscripção do nosso Estado, em todos os seus aspectos, fazendo então apreciar devidamente, tanto no paiz como fóra delle, essa parte integrante da communhão rio-grandense.
A obra organizada por Alfredo R. da Costa, em dois volumes, só foi publicada em 1922, seis anos depois das tomadas informativas e fotográficas feitas em Cachoeira, o que atesta o quanto trabalhosa foi a tarefa empreendida por seu organizador. Em dois volumes, é no segundo que nosso município aparece. O título inicialmente pretendido e anunciado pelo O Commercio em 1916 - O Rio Grande por dentro - acabou trocado por O Rio Grande do Sul.
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Capa do segundo volume de O Rio Grande do Sul (1922) |
As referências a Cachoeira têm início na página 185 e se estendem até a 198.
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Primeira e última página relativas a Cachoeira na publicação |
A notícia transcrita pelo O Commercio cita algumas das personalidades do comércio e indústria e granjas fotografadas para a obra:
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Algumas das estampas da parte cachoeirense da obra |
Alfredo R. da Costa apresentou sua obra como Historica, Descriptiva e Illustrada, completo estudo sobre o Estado, organizada e editada por ele nas Oficinas Gráficas da Livraria do Globo, de Barcellos, Bertaso & Cia., de Porto Alegre.
No primeiro volume, constam uma dedicatória da obra ao Dr. A. A. Borges de Medeiros e uma ligeira apresentação do trabalho desenvolvido:
Poucas obras desse período foram tão bem explicadas pelo organizador, podendo-se chegar à avaliação do quanto dificultosa foi a tarefa por ele empreendida. Felizmente as dificuldades e todo o envolvimento na coleta de dados, registros dos locais, preparação dos conteúdos e da impressão em si não foram obstáculos para que tivéssemos hoje, mais de 100 anos depois, acesso à riqueza de informações e imagens que ajudam a compreender aquele tempo e acompanhar as mudanças que o município sofreu de lá para cá.
P. S. Folheando o jornal O Commercio de 1916, eis que na edição do dia 6 de setembro, à página 3 do suplemento, uma ligeira nota trouxe mais esclarecimentos sobre a presença de Alfredo R. da Costa em Cachoeira, o que já perfazia dois meses, assim como a revelação da autoria de algumas das imagens constantes da obra: fotógrafo F. Marx. Alfredo R. da Costa, segundo a nota, teria que retornar a Cachoeira para fazer os registros relativos à campanha do município, pois o tempo não estava colaborando com seu trabalho.
MR
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