No dia 5 de agosto de 1820, pela presença do Ouvidor Geral, Corregedor e Provedor da Comarca Joaquim Bernardino de Senna Ribeiro da Costa, foi elevada a Freguesia de Nossa Senhora da Conceição da Cachoeira à condição de vila, tomando o nome de Vila Nova de São João da Cachoeira. Por este ato e os demais que se seguiram, foi Cachoeira emancipada da Vila de Rio Pardo, adquirindo a sua autonomia política e administrativa.
Um dos grandes responsáveis pelo levantamento desta história foi o pesquisador Aurélio Porto que, em 1910, ao organizar a documentação existente na Intendência Municipal, teve acesso às fontes originais que rememoram a importância daquele momento histórico.
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O historiador Aurélio Porto - Grande Álbum de Cachoeira (1922), de Benjamin Camozato |
Em 1922, no Grande Álbum de Cachoeira no Centenário da Independência do Brasil, organizado por Benjamin Camozato, Aurélio Porto abriu a publicação com um resumo sobre a nossa história e lá ele se referiu ao grande dia 5 de agosto de 1820:
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Abertura do resumo histórico de Cachoeira elaborado por Aurélio Porto - Grande Álbum de Cachoeira (1922), de Benjamin Camozato |
Realisou essa aspiração o Alvará de 26 de Abril de 1819 mandando villar, com o nome de Villa Nova de S. João de Cachoeira, a florescente povoação. Dava nesse acto, d. João VI, á nova villa, o nome de seu padroeiro. Eram as mesmas as divisas antes determinadas para a freguesia, quarenta e dous annos atraz.
Já então varias capellas filiaes, nucleos de população relativamente grande, prestavam no espiritual obediencia á freguesia, sendo logo depois da creação da villa annexadas a esta, na parte administrativa. Entre ellas releva notar Alegrete, Livramento, Caçapava, São Gabriel e Santa Maria da Bocca do Monte.
Em toda a campanha, neste vasto perimetro, as estancias, povoadas de gado, eram outras tantas fontes de abastança, fazendo com as povoações que lhe eram visinhas a tróca de productos bovinos. O commercio nas capellas fazia-se com animação crescente. Já a passagem de tropas que seguiam para as campanhas fronteiriças a combater o inimigo, já a industria da mineração do ouro que foi base da fundação de Caçapava, já os acampamentos arvorados em Santa Maria em quarteis de inverno, donde o Exercito velava a serra fazendo estugar o passo dos adversarios, - deixavam sempre um marco de progresso e de vida.
E dominando esse territorio como cabeça da vasta região, tornava-se mister que Cachoeira, desagregando-se de Rio Pardo, estendesse sua acção administrativa, judiciaria e politica, ás capellas que lhe eram subordinadas.
A solemnidade da erecção á villa teve lugar no dia 5 de Agosto de 1820. Veio expressamente para esse fim o doutor Joaquim Bernardino de Senna Ribeiro da Costa, ouvidor geral, corregedor e provedor da comarca de São Pedro e de Santa Catharina.
Reunidos nobresa e povo, com festivo acompanhamento, inauguraram, nas immediações da hoje praça José Bonifacio, o Pelourinho, antigo padrão de autonomia municipal, lavrando-se actas, demarcando-se limites e elegendo-se os primeiros membros da Camara, que foram João Soeiro de Almeida e Castro, presidente, Joaquim Gomes Pereira e Francisco José da Silva Moura.
As justiças foram tambem eleitas, sendo entre ellas um Juiz Almotacel, um Ventenario e Alcaides, bem como preenchidos os cargos de escrivães.
Não foi creado o Juizado de Fóra por ter El-Rei marcado o Rio Pardo para a séde deste. Só mais tarde, por Alvará de 19 de Dezembro de 1822 foram providos os cargos de dous Juizes Ordinarios, sendo definitivamente desmembrada a justiça da jurisdição do Rio Pardo.
Começa, então, logo depois da creação da villa, uma éra de organisação política, social e administrativa, vinculada a certos nomes cuja relevancia moral e intransigencia de principios, trabalhos valiosos e proficuos, elevam-se atravez dos tempos, marcando o ciclo gigantesco em que, nas coxilhas do Rio Grande, desbravadas pelo vento da liberdade, tremulou o pendão esfarrapado da revolta, aos hymnos vibrantes da conquista civica do gaucho.
Os primeiros passos administrativos da vida cachoeirense, integrada a nacionalidade brasileira em sua autonomia, foram tropegos, vacillantes, coagida como era a edilidade dentro de recursos apoucados e restrictos que mal e deficientemente podiam prover ás suas necessidades.
Pelas palavras do historiador Aurélio Porto é possível entender o que aconteceu naquele dia 5 de agosto de 1820, quando Cachoeira tornou-se o quinto município criado no Rio Grande do Sul e o primeiro a se emancipar. Com ele fizemos uma verdadeira viagem pela nossa mais importante data histórica.
E em 5 de agosto comemora-se também a gloriosa criação do Arquivo Histórico, guardião dos preciosos documentos da nossa história há 36 anos!
MR
Mirian, tuas publicações são sempre aulas muito prazerosas de ler. Parabéns pelo teu trabalho incansável, parabéns a todos os que cooperam e cooperaram com o Arquivo Histórico de Cachoeira. E parabéns a nós, cachoeirenses espalhados pelo mundo. Um abraço, vizinha!
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