Um allemão imaginoso lembrou-se nestes ultimos tempos, de confeccionar um "androide", automatico mechanico, feito de rodas e molas, dotado de variadas formas de actividade; que anda, escreve, corre em bicycleta, etc. Só lhe falta a palavra e a intelligencia. Este "androide", fabricado pelo sr. Frederich Ireland chama-se Enigmarelle; tem 1 e 80 de estatura e encerra 305 peças e 7 motores, com 40 accumuladores de 84 voltas para accionar as differentes rodas.
O sr. Ireland, para manter em Enigmarelle o necessario equilibrio, faz uso de apparelho analogo aos canaes semi-circulares da orelha que são, em nós os orgãos do sentido e do espaço; tubos contendo mercurio, cuja posição varia com a posição do "androide"; d'ahi resulta estabelecimentos ou rupturas de correntes electricas que, actuando sobre as rodas, restabelecem o equilibrio ameaçado; este dispositivo serve para regular os movimentos da marcha, com especialidade. Um outro permite a Enigmarelle escrever o proprio nome sobre um quadro negro, que é a sua mais extraordinaria façanha. Actualmente em Berlim, provavelmente, teremos dentro de pouco tempo a visita de Enigamarelle que nada tem de enigmatico nem mysterioso, é, simplesmente, um apparelho mechanico.
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Enigmarelle podia escrever seu nome - https://numerique.banq.qc.ca/ |
Este texto é de 1906, publicado pelo jornal cachoeirense Rio Grande, de 6 de setembro. Sem autoria, o texto apresenta o que convencionamos chamar hoje de robô, ou seja, um dispositivo eletromecânico capaz de realizar diferentes tarefas. Entretanto, Enigmarelle de fato existiu e fez sensação em Londres no ano de 1905.
Enigmarelle era um autômato conduzido por um ser humano, ou seja, dentro da sua figura estava um homem que executava as ações propagandeadas pelo seu criador. Com tamanho natural, andar desajeitado e rosto de cera, a criatura exibia no tórax um painel cheio de engrenagens, o que fazia com que os expectadores de sua proeza acreditassem ser ele de fato um homem artificial.
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Frederich Ireland levou sua figura exótica para apresentações em teatros europeus e norte-americanos, constando ter sido sua primeira aparição no Hippodrome Theatre, de Londres, em 1905. No ano seguinte, uma conhecida publicação de ciências dos Estados Unidos, a Scientific American, explicou em um artigo a tecnologia do autômato, porém sem saber que na verdade havia dentro dele um homem! É provável que o jornal Rio Grande tenha reproduzido em suas páginas parte do conteúdo difundido pela publicação americana.
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Propaganda do Enigmarelle - https://www.augerdownbooks.com/ |
Autômatos como Enigmarelle foram mais comuns do que se pensa e suas funções e compleições foram precursoras do que hoje conhecemos por robôs. Tais dispositivos povoaram os filmes de ficção científica no século passado e hoje são equipamentos comuns em grandes empresas ou utilizados em atividades de risco para os seres humanos. Também habitam as residências das famílias, onde podem desenvolver tarefas domésticas com extrema desenvoltura e eficiência.
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Falso ou não o tal autômato, o texto publicado na imprensa local no ano de 1906 convence o leitor da experiência de Frederich Ireland, pois descreve com riqueza de detalhes o mecanismo da criatura, antevendo técnicas e engenhosidades bastante inovadoras e até inéditas para aquele começo do século XX!
MR
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