Em março de 2004, o Arquivo Histórico realizou um levantamento em seu acervo de registros documentais feitos para mulheres. Importante lembrar que os primeiros documentos resguardados no acervo remontam ao tempo da instalação do município, fato ocorrido em 5 de agosto de 1820. Aqueles primeiros anos do século XIX eram ainda de absoluto protagonismo dos homens. Às mulheres era facultado o registro documental quando ficavam órfãs ou viúvas e, portanto, quando necessitavam do amparo do estado, aqui entendido como poder constituído, ou ganhavam materialidade pela posse dos bens de que ficaram herdeiras. Do contrário, eram representadas pelo pai, tutor ou marido.
Uma das primeiras referências a uma mulher na documentação é justamente ligada a uma função que então lhe era precípua, que é a da maternidade ou amparo a crianças. Assim, aparece no Livro de Registro e Matrícula de Expostos número 01 do acervo (CM/S/SE/ME-001), na primeira folha, o nome da viúva Ignes Gomes dos Santos que acolheu em sua casa o exposto Antonio, em 14 de setembro de 1826, recebendo da Câmara da Cachoeira três mil e duzentos réis por mês para cuidar do menino. O último pagamento feito a Ignez pelo "serviço" de manter Antonio foi em 1.º de setembro de 1833, quando ela deixou de ser pensionária. O documento não refere o destino do menino quando cessou sua dependência de Ignes.
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Ignes Gomes dos Santos - CM/S/SE/ME-001, fl. 1 |
A segunda mulher referida no levantamento de 2004 foi Anna Maria da Conceição, preta forra que era proprietária de um terreno na Rua do Paulista, hoje Rua 15 de Novembro. O nome de Anna Maria aparece no Livro de Registro de Revisão de Aforamento de Terrenos (CM/S/SE/RCT-001), à folha 3, em 1.º de julho de 1829.
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Anna Maria da Conceição - CM/S/SE/RCT-001, fl. 3 |
Em 1850, quando João Martinho Buff organizou a planta e o respectivo registro de terrenos da Vila da Cachoeira, aparece na Rua do Paulista o terreno n.º 243, em nome de Joanna Maria da Conceição, concedido em 15 de janeiro de 1830, com as mesmas dimensões apresentadas no registro de 1829. Seria a mesma pessoa?
Um salto no tempo, ainda no trabalho feito em 2004, chega-se à conhecida índia Joaquina Maria de São Jozé, casada com o português Manoel Francisco Cardozo, da sempre interessante história da Casa da Aldeia, documento em que ele pede licença para construir na Rua de São Carlos, na Aldeia, em terreno pertencente à mulher, no dia 18 de abril de 1849. O pedido está no Livro de Registro de Atas das Sessões da Câmara Municipal (CM/OF/A-004), na folha 162 verso.
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Joaquina Maria de São Jozé - CM/OF/A-004, fl. 162v |
Em 1889, na primeira folha do Livro de Registro dos Contratos (CM/S/SE/RCC-001), aparece o nome de Camilla Neves, contratada em 21 de fevereiro daquele ano para serviço de cozinha, roupa e asseio da casa de José Abreu Coelho da Silva. Ordenado: 12 mil réis mensais.
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Camilla Neves - CM/S/SE/RCC-001, fl. 01 |
No mesmo livro, à folha 05, a contratação em 20 de março de 1889, de uma ama de leite de nome Rosa Machado, por David Soares de Barcellos, e com o ordenado mensal de 16 mil réis. Interessante pensar que a prole de David e sua esposa Alzira Águeda, que chegou à soma de 24 filhos, devia exigir muito os serviços de uma ama de leite!
E encerrando o século XIX, para mostrar algumas das mulheres elencadas no levantamento de 2004, aparece Emilia Galdina da Silva, arrendatária de um lote de terras de mato em Pouso Verde, no Cortado, pertencentes à municipalidade, em 7 de novembro de 1899. A lavratura do contrato está no Livro de Registro de Contratos de Obras e Arrematações (CM/OF/TA-007), folha 206 verso. Detalhe: a arrendatária não sabia escrever (triste realidade da maioria das mulheres do seu tempo) e quem assinou o contrato, a seu rogo, foi o cidadão Joaquim Ferreira d'Araujo.
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Emilia Galdina da Silva - CM/OF/TA-007, fl. 206v |
Com estas pioneiras, o Arquivo Histórico presta homenagem a todas as valorosas mulheres em seu dia.
MR
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